ALFREDO FERNANDES & CIA.
Empresa algodoeira, presente em várias cidades do Oeste Potiguar, quer com escritório de compras ou com usina de beneficiamento, era capitaneada, pelo o meu tio avó PEDRO FERNANDES RIBEIRO.
Em JOSÉ DA PENHA ( eita, cidadezinha, que eu amo!) ficava localizada no largo da igreja de SÃO FRANCISCO, e chamava a atenção pela imponência do prédio, que fugia ao padrão de construção local, pelo tamanho e altura do pé direito.
Construção de paredes largas, e grandes vãos, encravada em um terreno avantajado, era formada por três prédios interligados, que ocupavam quase a metade da rua. A parte livre, por trás do prédio, era usada para abrigar algumas cabeça de gado leiteiro, para o consumo de nossa casa e o excedente doado aos muitos afilhados, dos mais de trezentos, deixado pelos meus pais (LULA LOPES e TEREZINHA) na cidade.
A usina era o meu parque de diversões, quando não estava caçando, pescando ou jogando bola, encontrava as mais variadas formas de divertimento em suas instalações.
No primeiro armazém, era colocado o algodão in natura, procedente das diversas localidades rurais, transportado em lombos de burro ou pequenos caminhões. A medida que ia enchendo o armazém, no sentido fundos/frente, formava uma longa e acentuada rampa de sacos, que nos permitia caminhar dependurados nos caibros e saltar para a parte mais baixa, ou simplesmente rolar de morro abaixo.
O algodão que chegava era pesado na frente do entregador e contabilizado. Como a sacaria era fornecida pela a usina e tinha um tamanho padrão, quando cheias, não apresentavam grande variação no peso. Se tivesse alguma alteração marcante, o saco era aberto e o algodão despejado no solo, sendo muito comum encontrar pedras ou tufos de algodão molhado, para aumentar o peso.
O segundo armazém, assim como o terceiro, era dividido na metade do seu comprimento, ficando por trás a instalação do maquinário de descaroçar. Era uma vão livre, apenas com uma grande tubulação de zinco, com aproximadamente uns 50 cm de circunferência, que vinha pelo teto e descia até uns 30 cm do chão, aonde ficava a boca de entrada, que sugava e transportava o algodão até a descaroçadeira.
O algodão era jogado ao chão, longe da tubulação e tangidos por grandes rodos de madeira com cabos longos, até a boca de sucção, que tinha tal força, que era capaz de sugar pequenos animais.
Na parte de trás, ficava um imenso tanque com aproximadamente, 3 X 3 m de largura por 1,40 m de profundidade, com água para refrigeração do potente motor, sendo esta esverdeada e brilhante, de tanto óleo. Era a nossa piscina!!! já saíamos com a pele hidratada.
O algodão sugado era jogado na máquina de descaroçar, formada por dois imensos cilindros dentados, como se fossem pregos sem cabeça, aonde a pluma passava e os caroços eram retirados e separados. Era o temor de todo trabalhador, pois vez por outra o algodão entalava e era necessário ser retirado com as mãos. Embora houvesse a instrução para parar o motor para fazer o procedimento, quase ninguém fazia, e por isto dois jovens tiveram suas vidas ceifadas, pois ao voltar o movimento, os cilindros trituraram os seus braço. BENEDITO, soldado da PM, que fazia bico na usina e GENTIL, nosso vizinho, filho do saudoso casal JOSÉ JACINTO e BIRICA .
A pluma era jogada para o terceiro armazém para ser prensada em fardos, ficando compactado. A prensa tinha aproximadamente dois metros de altura, por 1 m de comprimento e 0,80 cm de largura.
Era colocada duas aspas de aço e por cima desta o tecido de estopa, e a pluma era prensada por pés humanos, sempre acrescentando mais, até que vinha uma tampa móvel, que em alavanca, comprimia o restante, sendo o fardo fechado e aspeado, ficando pronto para pesagem e marca.
Adora marcar os fardos. Com uma lata de goiabada, cheia de tinta vermelha, uma escova de sapatos e moldes de flande com números vazados, que eram colocados sobre o fardo e passando a escova com tinta, fica estampado o peso escolhido.
Transportado em caminhões para Mossoró, era classificado pelo elasticidade de sua fibra, sendo a de nossa procedência de ótima qualidade, dado o largo cultivo do algodão mocó, dava uma carga alta e simétrica.
O caroço também ia para Mossoró, diretamente para a fábrica de óleo da companhia, que após o processamento, tinha como produto final o óleo industrial, sendo que alguns concorrentes faziam óleo comestível. Dos detritos do caroço era feito o resíduo (torta), que era vendida para alimentar o gado leiteiro, grande parte comercializada em nossa cidade.
Os principais transportadores, eram os senhores: JOSÉ FELICIANO, JOSÉ BERNARDO, LUIZ LEAL e vez por outra, os filhos de seu ELÍSIO RODRIGUES : EDMÍLSON, SANDOVAL E JOSÉ MAIA.
Ainda havia um sub-produto do algodão, chamado piolho, que era as pequenas cascas, aonde eram formado os capuchos, que também servia para alimentar animais, embora fosse pobre em nutrientes.
Era o ouro branco, nada se perdia.
Muitas vezes ficava sentado na calçada dos armazéns, esperando a caça, é que o pássaros que vinham do lado do sítio PEJUÁBA , encandeados pelo sol, não percebiam o desnível do relevo e chocavam-se nas paredes caiadas.
Do outro lado da rua, ficava os escritório da empresa, que era gerenciada pelo meu pai LULA LOPES, que fazia a comercialização do algodão, muitas vezes na folha, (antes da colheita) e vendia insumos, defensivos e arados de tração animal, conhecido por todos como campinadeira.
Era encantado com a máquina de datilografia, Remighton, que meu pai, embora dedógrafo, manuseava com maestria e rapidez.
Apenas para ilustrar o potencial de ALFREDO FERNANDES & CIA, veja a cidade em que tinha escritório de compras ou usina e seus executivos:
PATU (IVO LOPES)
PAU DOS FERROS (MANOEL REGINALDO)
SÃO MIGUEL (JOSÉ FERREIRA)
UMARIZAL (PAULO MARCELINO)
APODI (JAMIR MARCELINO)
MARCELINO VIEIRA (CURRALINHO)
ALEXANDRIA (JOÃO VIDAL)
MARTINS (ADEMAR)
TEMPO EM QUE OS AGRICULTORES CULTIVAVA SUAS TERRAS, SEM PRECISAR DE FINANCIAMENTO BANCÁRIO, QUE OS DEIXOU ENDIVIDADOS E DESISTIMULADOS
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