terça-feira, 4 de agosto de 2015

CURTAS :

1) VOCÊ, LÁ GOSTA DE OVO!


Meu amado pai de saudosa memória, contava este fato verídico ocorrido entre dois grandes amigos seus: MANOEL REGINALDO, seu colega de trabalho, na empresa Alfredo Fernandes & cia, e o ex prefeito de Pau dos Ferros e deputado estadual pelo RN, PAULO DIÓGENES.

Fisicamente, eram clones do Gordo e o Magro, MANOEL, de compleição física diminuta, moreno, sério, fumante inveterado e PAULO agigantado,branco, com as faces ruborizadas, de uma simpatia, muito peculiar as pessoas obesas, era do tipo bonachão.

Tinham muito em comum a comunicabilidade, muitos falantes, porém com tom de voz diferenciados, um no grave  e compassado e o outro no agudo, trovejando, além de apreciadores de uma loira gelada, que naquele tempo era sempre pedida a de casco escuro.

Estavam bebendo no bar do Sr. Badú, quando PAULO, perguntou o que tinha para tira gosto. obtendo a resposta que só tinha ovos, replicou: quantos?
-20
- cozinhe todos!

Vieram partidos ao meio, na longitudinal, MANOEL pegou uma metade, que manteve suspensa com a mão esquerda perto do rosto, conversando e fumando compulsivamente, enquanto PAULO, saciava sua gula, colocando uma metade atrás da outra, inteirinha na boca, até a ultima. Olhou para MANOEL, que ainda conservava a sua metade na mesma posição, avançou sobre a mesma e ainda de boca cheia, exclamou: VOCÊ LÁ GOSTA DE OVO!
Bons tempos!



2) OS BONS TIOS...


Quando estudante em Pau dos Ferros, existiam dois senhores, que apesar de bem mais velhos eram muito amigos dos estudantes: NONATO VAQUEIRO E AGÁBIO DIÓGENES.

NONATO, era um tipo baixinho, sem instrução, marchante por profissão e pouco sabíamos dos seus laços familiares, porém muito astuto, simpático e um grande mestre na arte de viver.

Mestre de cerimonia na iniciação dos adolescentes, nas farras, quase sempre cachaça, uso do cigarro
e frequências aos prostíbulos. Geralmente começava nos levando para espionar, Maria do Céu e suas garotas, no dia em que iam lavar roupa no rio, que invariavelmente, termina em banho, semi nuas ou com vestes transparentes, por estarem molhadas.

TIO AGÁBIO, era assim que todos o chamava, sempre que via os grupinhos reunidos, se aproximava e compartilhava das conversas e as vezes das bebedeiras, pois gostava muito de cerveja.

A exemplo de quase toda família DIÓGENES, compleição física avantajada, muito simpático e de riso franco, frequentemente nos convidava para ir a sua casa, beber e comer.

Sempre que fazíamos serenata, terminávamos em sua casa, que ficava afastada da cidade, pois além das filhas bonitas: GAGAÇA  e FÁTIMA, a certeza que ele abriria a porta, colocava uma mesa no terreiro e servia bebida para todos.

Lembranças boas...



3) QUANTA IGNORÂNCIA!


Quando criança em José da Penha, ficava horas no mercado publico, pela sombra e o espaço livre para correr e jogar, além de entrar em quase todos pontos comerciais, pois as vezes era premiado com confeitos e buzys (balas e caramelos), principalmente na mercearia de VICENTE SOBRINHO, homem simples e de bondade infinita.

Porém o meu fascínio era a farmácia de ZECA DE EVARISTO (in memorian) e D.TEREZINHA, tinha atração pelo cheiro dos medicamentos, as muitos cartazes, principalmente o de Emulsão de Scott, que era um homem com um bacalhau nas costas em tamanho natural, além dos almanaques, Fontoura (ZECA TATU), Capivarol e a Saúde da Mulher.

Gostava de olhar as aplicações de injeção, em seringas de vidro, e agulhas compartilhada, que ao ficarem rombudas, tinham suas pontas afiadas. Eram esterelisadas  antes da aplicação, em uma pequena caixa de metal, aonde eram guardadas.

Certo dia chegou um senhor simples, de pouca instrução, que havia pouco tempo que habitava em um sítio nas cercanias da cidade, e perguntou:
-O senhor tem MELHORENÇE? (melhoral)
-Zeca compreendeu e afirmou positivamente, vindo  em seguida o pedido.
-Quero dois PAPELITOS!

Todos os presentes, caíram na gargalhada.

Sem perder a altivez o bom homem respondeu:

SANTA INGNORÊNCIA DESTE POVO!



sexta-feira, 8 de maio de 2015

ALFREDO FERNANDES & CIA.


Empresa algodoeira, presente em várias cidades do Oeste Potiguar, quer com escritório de compras ou com usina de beneficiamento, era capitaneada, pelo o meu tio avó PEDRO FERNANDES RIBEIRO.

Em JOSÉ DA PENHA ( eita, cidadezinha, que eu amo!) ficava localizada no largo da igreja de SÃO FRANCISCO, e chamava a atenção pela imponência do prédio, que fugia ao padrão de construção local, pelo tamanho e altura do pé direito.

Construção de paredes largas, e grandes vãos, encravada em um  terreno avantajado, era formada por três prédios interligados, que ocupavam quase a metade da rua. A parte livre, por trás do prédio, era usada para abrigar algumas cabeça de gado leiteiro, para o consumo de nossa casa e o excedente doado aos muitos afilhados, dos mais de trezentos, deixado pelos meus pais (LULA LOPES e TEREZINHA) na cidade.

A usina era o meu parque de diversões, quando não estava caçando, pescando ou jogando bola, encontrava as mais variadas formas de divertimento em suas instalações.

No primeiro armazém, era colocado o algodão in natura, procedente das diversas localidades rurais, transportado em lombos de burro ou pequenos caminhões. A medida que ia enchendo o armazém, no sentido fundos/frente, formava uma longa e acentuada rampa de sacos, que nos permitia caminhar dependurados nos caibros e saltar para a parte mais baixa, ou simplesmente rolar de morro abaixo.

O algodão que chegava era pesado na frente do entregador e contabilizado. Como a sacaria era fornecida pela a usina e tinha um tamanho padrão, quando cheias, não apresentavam grande variação no peso. Se tivesse alguma alteração marcante, o saco era aberto e o algodão despejado no solo, sendo muito comum encontrar pedras ou tufos de algodão molhado, para aumentar o peso.

O segundo armazém, assim como o terceiro, era dividido na metade do seu comprimento, ficando por trás a instalação do maquinário de descaroçar. Era uma vão livre, apenas com uma grande tubulação de zinco, com aproximadamente uns 50 cm de circunferência, que vinha pelo teto e descia até uns 30 cm do chão, aonde ficava a  boca de entrada, que sugava e transportava o algodão até a descaroçadeira.
O algodão era jogado ao chão, longe da tubulação e tangidos por grandes rodos de madeira com cabos longos, até a boca de sucção, que tinha tal força, que era capaz de sugar pequenos animais.

Na parte de trás, ficava um imenso tanque com aproximadamente, 3 X 3 m de largura por 1,40 m de profundidade, com água para refrigeração do potente motor, sendo esta esverdeada e brilhante, de tanto óleo. Era a nossa piscina!!! já saíamos com a pele hidratada.

O algodão sugado era jogado na máquina de descaroçar, formada por dois imensos cilindros  dentados, como se fossem pregos sem cabeça, aonde a pluma passava e os caroços eram retirados e separados. Era o temor de todo trabalhador, pois vez por outra o algodão entalava e era necessário ser retirado  com as mãos. Embora houvesse a instrução para parar o motor para fazer o procedimento, quase ninguém fazia, e por isto dois jovens tiveram suas vidas ceifadas, pois ao voltar o movimento, os cilindros trituraram os seus braço. BENEDITO, soldado da PM, que fazia bico na usina e GENTIL, nosso vizinho, filho do saudoso casal JOSÉ JACINTO e BIRICA .

A pluma era jogada para o terceiro armazém para ser prensada em fardos, ficando compactado. A prensa tinha aproximadamente dois metros de altura, por 1 m de comprimento e 0,80 cm de largura.
Era colocada duas aspas de aço e por cima desta o tecido de estopa, e a pluma  era prensada por pés humanos, sempre acrescentando mais, até que vinha uma tampa móvel, que em alavanca, comprimia o restante, sendo o fardo fechado e aspeado, ficando pronto para pesagem e marca.

Adora marcar os fardos. Com uma lata de goiabada, cheia de tinta vermelha, uma escova de sapatos e moldes de flande com números vazados, que eram colocados sobre o fardo e passando a escova com tinta, fica estampado o peso escolhido.

Transportado em caminhões para Mossoró, era classificado pelo elasticidade de sua fibra, sendo a de nossa procedência de ótima qualidade, dado o largo cultivo do algodão mocó, dava uma carga alta e simétrica.
O caroço também ia para Mossoró, diretamente para a fábrica de óleo da companhia, que após o processamento, tinha como produto final o óleo industrial, sendo que alguns concorrentes faziam óleo comestível. Dos detritos do caroço era feito o resíduo (torta), que era vendida para alimentar o gado leiteiro, grande parte comercializada em nossa cidade.
Os principais transportadores, eram os senhores: JOSÉ FELICIANO, JOSÉ BERNARDO, LUIZ LEAL e vez por outra, os filhos de seu ELÍSIO RODRIGUES : EDMÍLSON, SANDOVAL E JOSÉ MAIA.

Ainda havia um sub-produto do algodão, chamado piolho, que era as pequenas cascas, aonde eram formado os capuchos, que também servia para alimentar animais, embora fosse pobre em nutrientes.

Era o ouro branco, nada se perdia.

Muitas vezes ficava sentado na calçada dos armazéns, esperando a caça, é que o pássaros que vinham do lado do sítio PEJUÁBA , encandeados pelo sol, não percebiam o desnível do relevo e chocavam-se nas paredes caiadas.

Do outro lado da rua, ficava os escritório da empresa, que era gerenciada pelo meu pai LULA LOPES, que fazia a comercialização do algodão, muitas vezes na folha, (antes da colheita) e vendia insumos, defensivos e arados de tração animal, conhecido por todos como campinadeira.

Era encantado com a máquina de datilografia, Remighton, que meu pai, embora dedógrafo, manuseava com maestria e rapidez.

Apenas para ilustrar o potencial de ALFREDO FERNANDES & CIA, veja a cidade em que tinha escritório de compras ou usina e seus executivos:

PATU (IVO LOPES)
PAU DOS FERROS (MANOEL REGINALDO)
SÃO MIGUEL (JOSÉ FERREIRA)
UMARIZAL (PAULO MARCELINO)
APODI (JAMIR MARCELINO)
MARCELINO VIEIRA (CURRALINHO)
ALEXANDRIA (JOÃO VIDAL)
MARTINS (ADEMAR)

TEMPO EM QUE OS AGRICULTORES CULTIVAVA SUAS TERRAS, SEM PRECISAR DE FINANCIAMENTO BANCÁRIO, QUE OS DEIXOU ENDIVIDADOS E DESISTIMULADOS

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

TIO SEVERINO, FÉ E BONDADE, EM UM CORAÇÃO PURO.

Embora houvesse conhecido tio Severino, quando criança, formou-se um grande hiato, até vê-lo pela segunda vez, quando em situação de dificuldades no matrimonio, passou a morar na casa dos meus pais, e ser companheiro inseparável dos sobrinhos que tinham a mesma faixa de idade na adolescência: Eu, Marcos (irmão), Gilberto (tio Tarcísio), Ivo Jr., e o primo José Sávio (in memorian), que morava conosco.

Viveu por muitos anos no Ceará, de profissão militar, exerceu o cargo de delegado em muitas cidades, de maneira integra e humanitária, sem nunca ter entrado em conflitos, inerente da profissão. Era uma grande incógnita para nós, como conseguiu ser policial até a reforma, com uma personalidade tão contrária ao autoritarismo que demanda a profissão.

Foram tempos maravilhosos, em que descobri uma pessoa fantástica, manso de coração, fé inconteste. bondade de samaritano, e as vezes de uma inocência angelical.

Comprovando este fato, minha mãe conta, que quando criança, ele tinha uma jumentinha de nome bolinha, de quem gostava muito. Tendo esta ficado doente, ele começou a rezar em voz alta, para Nossa Senhora, de quem era devoto e prometeu: "Nossa Senhora, cura bolinha! Se ela ficar boa, a outra pessoa não, mas a senhora, eu deixo dar uma voltinha, montada nela!

Ocupou em nossa casa, um quarto vizinho ao meu, que tinha uma porta de comunicação, que ficava permanentemente aberta, que permitia uma comunicação e brincadeiras, todas as noites, até a hora em que dissesse que ia rezar. Descobri e permanece ate hoje no meu conhecimento, o homem que rezava mais bonito, e por mais tempo, em voz alta, palavras sinceras e humildade ao pedir.

Recomendava um por um os irmãos, filhos, sobrinhos etc. vivos, enaltecendo as qualidades e colocando as dificuldades de cada um, e depois igualmente pelas almas de todos os ente queridos já falecidos. Orações e recomendações que chegavam a durar até duas horas,

Geralmente aos sábados saíamos para a farra, e as vezes se excedia, tomando umas a mais, deixando transparecer um grande sofrimento, pela separação, chorava, falava em Avanir, pedia para eu cantar, musicas de dor de cotovelo. No entanto, nunca esquecia de rezar, mesmo com palavras tropegas.
Em uma noite destas, adormeceu e passou a roncar de maneira muito estranha, quando mamãe percebeu correu até o seu quanto, e viu que estava engasgado com a prótese dentária, sendo salvo por milagre.

De uma sensibilidade intensa, chorava por tudo, e compadecia de todos. As vezes por brincadeira os meninos começavam a fazer discurso, exaltando suas qualidade, bravura como polícia ou falando do sofrimento de um de nós, por um fim de namoro ou qualquer coisa, para ele chorar.

De repente, deixou de sair conosco e passou a sair mais vezes e sozinho, até que avisou que iria morar com uma jovem de nome Francisca, que tinha um filho pequeno, e era muito bonita e de pernas torneadas, recobrando a alegria e felicidade. Tinha muito ciumes e não queria que os sobrinhos frequentasse sua casa, preferia nos visitar.

Um colega de trabalho que tinha um filho extra conjugal, as vezes comentava que o velho viajou para receber dinheiro, hoje eu visito a galega. Até que um dia, tio Severino, chegou na empresa, e me perguntou, quem era fulano? mostrei-o , e ele pediu que eu falasse com ele, pois quando viajava, ele ia perturbar Fanquica ( não conseguia dizer Francisca).

Casado com Avanir, teve os filhos : Wilma, Conceição, Hélio e Francisco (adotivo).

Morreu na cidade de São Rafael -  RN , onde residiu os últimos anos, de mal súbito.

Tio SEVERINO, você é inigualável, muitas saudades!

Depois de um longo período afastado, por uma pequena chateação, pois escrevo o que conheci, enquanto que alguns queriam registros de fatos que desconhecia.                                                   Encontrando-me enfermo, resolvi retomar minhas postagens, pois tenho que completar a lista dos meus tios, que fizeram parte de minha vida e formação, para puro deleite meu e informação para os familiares que ama sua família e sua origem como eu.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

OS ENCANTOS DO GRAMOFONE

Procedente da cidade de Umarizal / RN, chegou para trabalhar com meu pai na função de sub-gerente, um moço muito bonito de abitos refinado, muito educado,  roupas elegantes e sapatos clássicos, e trazendo na bagagem a novidade maior que até então aparecera na cidade, um gramofone.

Seu nome era, Aluízio Rocha, que ocupou um quarto anexo a nossa casa, com uma porta de comunicação, com fechadura por dentro do quarto, mas que o mesmo deixava aberta, praticamente o dia todo, aceitando a nossa presença e brincando muito conosco, numa empatia mútua e demonstrações de carinho de ambas as partes, sempre nos enchendo de goluseimas e brinquedos.

Entre as muitas coisas boas, trazia um GRAMAFONE VICTOR TALKING MACHINE, acondicionado em uma bela maleta, e alguns discos 78 rotações de cantores de sucesso da época: Nora Ney, Marlene, Emilhinha Borba, as irmãs Garcia, Carlos Galhardo, Vicente Celestino, Orlando Dias, Sílvio Caldas, Francisco Alves, Ivon Curi, Augusto Calheiros, Luiz Gonzaga, Jorge Goulart e outros, com apenas uma musica de cada lado do disco.

Embora o funcionamento do gramofone, fosse simples, bastava dar corda, para girar o prato, puxar o braço articulado, até ouvir o estalido e colocar a agulha cuidadosamente na borda do disco, para iniciar a execução do mesmo, o processo de ouvir muitos discos, era lento, já que a cada disco tocado, tinha que trocar a agulha.

As agulhas, vinham acondicionadas em uma caixa de metal, escritas em uma lingua estrangeira com duzentas unidades e tinha as douradas, mais resistentes e as prateadas.

Bastava iniciar a musica, para a janela e porta do quartinho, ficar cheio de curiosos, sendo que com o tempo chegavam a solicitar as musicas que mais lhes agradava.

De minha parte, era completamente encantado pelas musicas de Orlando Silva e Gonzagão e em particular a musica, O PADROEIRO DO BRASIL, que só ouvi quando criança e a uns 5 anos atrás, na cidade de Juazeiro do Norte / CE, estava a trabalho, quando na principal rua da cidade (Rua São Pedro) um serviço publico de auto falante, fez com que eu parasse e ficasse muito emocionado, com Maria Bethania, interpretando a mesma.

O PADROEIRO DO BRASIL (Ary Monteiro e Irany de Oliveira )

Em toda casa tem um quadro de São Jorge
em toda casa onde o santo é protetor
num barracão, num bangalô de gente nobre
há sempre um quadro deste santo salvador
quem é devoto é só fazer uma oração
que o guerreiro sempre atende
dando a sua proteção.
Por isso mesmo, não devemos esquecer
a grande data, dia 23 de Abril
vamos cantar, com alegria e prazer
porque São Jorge é o padroeiro do BRASIL.

Era rica da discografia brasileira, com musicas melodiosas e letras poéticas, que aprendi, cantei e canto para embalar os meus filhos de ontem ( a mais nova, Maria Cecília, com 29 anos) e os de hoje, sendo Antonio Fernando o temporão, com apenas 4 anos, a coisa mais linda, cantando CARINHOSO.


sexta-feira, 19 de outubro de 2012

A VIDA ERA LÚDICA

A constante busca do prazer, fazia com que vivesse-mos em movimento, criando brincadeiras das mais diversas formas, sem que implicasse em custo nenhum.

Era muito difícil ver uma criança com brinquedos manufaturados, e geralmente só ocorria na época natalina, para uns poucos sortudos.

No entanto, ao contrário do que se pensa, as crianças brincavam o dia todo, usando na maioria das vêzes, apenas o que a natureza oferecia, em um exercício constante de criação, e  fantasia.

Bolas de meia, ossos, que dependendo do tamanho, era touro, vaca ou bezerro. Sabugo de milho, que enrolado em um pano e colocados alguns cabelos da própria espiga, viravam bonecas, carrinhos de rolamento (rolimã), rolamento que viravam roda, impulsionado por uma vareta de arame. Bonecos de mamulengo, confeccionados com raiz de imburana ou pinhão, pinhão de goiabeira, que sendo madeira forte, aguentava as disputas, peteca, feita com um carretel (retrós) e penas de rabo de galo.

Alguns brinquedos eram usados materiais descartados, como: lata de sardinha ou doce marmelada, que viravam carrinhos ou trem, lata de leite em pó, que fazia roladeira individual ou multiplas, em comboio, com latas de leite condensado, confeccionava telefone

Com o barro, fazía-mos panelas, tijolos para construir casinhas e balas para as baladeiras (atiradeiras) ou badoque e roi-roi. Com madeira: gaiolas, açaplão, fojos, arapucas e carrinhos, além de currupios, feito com pedaços de cuia ou catemba de coco. Caixas de sabonetes, fósforo etc. confeccionava mesas, cadeiras e sofas.

Balanços com os mais diversos materiais (pneus, tábuas etc), pernas de pau, e sinuca, com as tabelas de borracha de câmara de ar.

No periodo da safra de caju, a castanha, era usada em diversos jogos de perde e ganha, tais como:
-BITELO : era feito um pequeno monte de terra, e colocada a maior castanha (bitelo), e marcada uma distância, em que os competidores, um por vez, tentava derrubar o bitelo, e quando ocorria, aquele que acertou, recolhia todas as castanhas atiradas para êle.

-BURACO : funcionava quase da mesma maneira, só que ao invés do bitelo, era feito um buraco no chão, e aquele que colocasse primeiro uma castanha dentro do buraco, recolhia todas para si.

-PÉ DE PAREDE : os competidores atiravam de uma distância pré estabelecida, uma castanha, com a intenção que ela ficasse o mais próximo possível da parede, aquele cuja castanha ficou mais próxima, recolhia todas as outras.

Algumas brincadeiras eram um tanto perigosa, com risco de machucar e até faturar ossos, como era o caso do GALAMARTE ou BANGALÔ, em que enterrava um toco de jucá no chão, deixando uns 60 cm de fora, com uma ponta aguda, onde deveria encaixar um longo tronco de carnauba, com um buraco no meio, em que era colocado carvão, para quando atritado, produzir o som do carro do boi.
Sentavam 3 a 4 meninos de cada lado, e com os pés impulsionavam no sentido horário, e conforme ia aumentando a velocidade, o tronco de carnauba desencaixava do toco, provocando uma queda coletiva.

A noite, vinha as brincadeiras de rodas, em que meninos e meninas se misturavam: Ciranda, cirandinha, pai Francisco, mavé-mavé, anel e a minha preferida: "lado direito está desocupado" que fazia ser ocupado, sempre por Graçinha Rocha, e ela por mim, e assim começavam os namoricos.

Hoje, vendo meus filhos e as crianças no geral, fico muito penalizado, e vejo que com muita tristeza, em tenra idade, substituir as lindas bonecas e carrinhos de controle remoto, por tablete e video games.

Tenho um projeto, que preciso de ajuda, mas gostaria de ir as salas de aulas de crianças até 10 anos, ensinar a usar as mãos, confeccionando brinquedos simples e interessantes.

BRINCANDO COMO ANTIGAMENTE.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

TIO VICENTE DE PAULA

Minha primeira lembrança de tio Vicente, era muito pequeno, acho que aconteceu na primeira visita de tio Gilberto Marcelino, que morava no Rio de Janeiro, e todos os familiares foram para uma grande recepção, na fazenda Várzea Grande, que pertencia ao meu avó Cel. José Marcelino, e que após a sua morte, coube ao tio Vicente administrar, tomando de conta das terras, gado e do engenho de cana de açucar.

Duas coisas me chamaram a atenção naquele dia, o tamanho de tio Vicente, que tinha mais 1,80m e a beleza dos olhos, que mais tarde encontrei iguais em Gagaça, minha irmã que eu diria que eram furtacor ou camaleônico, pois variavam entre o verde e o azul, muitas vêzes dependendo da claridade ou cor da roupa que usava.

Outra, foi uma disputa de tiro ao alvo, em uma lata de doce, colocada à distância, em que todos os tios, Tarcízio, Gilberto, Jamir, Paulo, Toinho e o próprio atiraram em rodízio, sem que acertasse, e de repente mamãe pediu para atirar e acertou o alvo em cheio! ganhando o apelídio de pistoleira.

Em uma outra oportunidade, quando fui passar alguns dias, na casa de tio Toinho, na Várzea Grande, estive em sua casa, onde comi alfinim com queijo de qualho, e vi aquela ruma de mulheres bonitas, que eram suas filhas:Docarmo, Terezinha, Lourdes, Lindalva, Salete, Elizabhet, Lêda e Sonia, além dos filhos: José e João Bosco (in memorian), todos nascidos, naquela propriedade.

Alguns anos mais tarde, já estudando em Mossoró, pude ter uma maior aproximação com tio Vicente e tia Lilía, suas esposa que era prima do meu pai, que vendo a necessidade de mudar para um meio maior, em que pudesse dar educação aos filhos, aqui vieram morar.

Estive algumas vêzes em sua casa, por trás da igreja São Vicente, onde cultivava alguns pés de mamão e hortaliças, pois nunca perdera o gosto pela terra e o cultivo.

Depois morou em uma casa, perto da fábrica de gelo, e em frente ao atual Teatro Dix Huit Rosado, em que eu,  e os primos José Ilo e Lisboa, fomos muitas vêzes, ainda menino, ia para ler os muitos gibis e revistas de Disney, que seu filho, cadete da polícia, José Lopes, comprava aos montes, e os primos, para olhar e conversar com as belas primas moças.

Quando meus pais vieram morar em Mossoró, tio Vicente já morava na Rua Treze de Maio, e em minha casa, estudavam os primos Ivo Jr. e Gilberto,  todos os três apaixonados pela prima mais nova, Soninha, que era um broto lindo e de pernas muito grossas e bem torneadas, mas o medo de tio Vicente era maior!

O gosto pela terra, continuava enraizado, e tinha mãos mágicas para plantar. No quintal desta casa, vi um pé de banana maça, cujo cacho, tinha mais de 400 frutos, e que precisou ser escorado para suportar o peso.

Muito bonito, e com grande porte, tio Vicente era acolhedor, gostava muito da família, no que contava com a participação efetiva de tia Lilía.

Tinha um riso contido, de canto de boca, mais muito constante, no que parecia as vêzes angelical e as vêzes irônico, pois gostava muito de brincar e tirar sarro com os sobrinhos.

No caminho para o trabalho, passava em frente a casa em que moráva-mos, que tinha janelas muito amplas, e sempre que avistava algum de nós, chamava a atenção dos que estivessem presentes, e apontava, dizendo: espia os beradeiros filhos de Lula! olha os beradeiros de José da Penha, e as vêzes mandava as minhas irmãs, vestir uma roupa, pois era tempo da mini saia, e elas ficavam loucas, enquanto que ele saia rindo.

Até que um dia, elas criaram coragem e disseram: manda Lèda, sua filha, vestir também, é menor que a nossa.

Mas a grande descoberta foi quando souberam, que ele detestava quem lhe tomasse a benção, que respondia sempre, "para que esta besteira", então o jogo se inverteu. As meninas ficavam a espreita e quando ele se aproximava, gritavam todas ao meus tempo, "A BENÇÃO, TIO VICENTE"  e sem que hovesse nenhum acordo prévio, a paz foi restabelecida.

Trabalhando na Receita Estadual, era de uma integridade a toda prova, trabalhando em postos fiscais de muita movimentação, como São Romão e Alto de São Manoel, podia até beneficiar um pobre, por bondade, pois tinha um coração imensamente bom, mas jamais para tirar proveito ou ganhar propinas.

Foi um grande exemplo de bom marido e pai responsável, com grande visão futurista, trazendo sua enorme prole para um lugar, em que pudesse educar e encaminhar na vida, sendo que todos obtiveram sucesso, vivemdo bem, e mantendo a união familiar.

Quando fiquei viuvo e contraí nova nupcias, conheci o Sr. José, que era vizinho do meu sogro, e que havia trabalhado com tio Vicente, que afirmava de maneira categórica: Sr. Vicente, foi o homem mais honesto que conheci em minha vida, trabalhei com muitos fiscais, e ele foi o unico que nunca ví receber uma bola.

Depois foi posto em trabalho burocrático, em que fui muitas vêzes, resolver problemas da empresa que trabalhava, tendo sempre a sua acolhida gentil e amável, em que perguntava por todos de minha casa.

Gostaria de ter convivido mais com tio Vicente, pois teria muito a ganhar.

SAUDADES!