quinta-feira, 18 de outubro de 2012

TIO VICENTE DE PAULA

Minha primeira lembrança de tio Vicente, era muito pequeno, acho que aconteceu na primeira visita de tio Gilberto Marcelino, que morava no Rio de Janeiro, e todos os familiares foram para uma grande recepção, na fazenda Várzea Grande, que pertencia ao meu avó Cel. José Marcelino, e que após a sua morte, coube ao tio Vicente administrar, tomando de conta das terras, gado e do engenho de cana de açucar.

Duas coisas me chamaram a atenção naquele dia, o tamanho de tio Vicente, que tinha mais 1,80m e a beleza dos olhos, que mais tarde encontrei iguais em Gagaça, minha irmã que eu diria que eram furtacor ou camaleônico, pois variavam entre o verde e o azul, muitas vêzes dependendo da claridade ou cor da roupa que usava.

Outra, foi uma disputa de tiro ao alvo, em uma lata de doce, colocada à distância, em que todos os tios, Tarcízio, Gilberto, Jamir, Paulo, Toinho e o próprio atiraram em rodízio, sem que acertasse, e de repente mamãe pediu para atirar e acertou o alvo em cheio! ganhando o apelídio de pistoleira.

Em uma outra oportunidade, quando fui passar alguns dias, na casa de tio Toinho, na Várzea Grande, estive em sua casa, onde comi alfinim com queijo de qualho, e vi aquela ruma de mulheres bonitas, que eram suas filhas:Docarmo, Terezinha, Lourdes, Lindalva, Salete, Elizabhet, Lêda e Sonia, além dos filhos: José e João Bosco (in memorian), todos nascidos, naquela propriedade.

Alguns anos mais tarde, já estudando em Mossoró, pude ter uma maior aproximação com tio Vicente e tia Lilía, suas esposa que era prima do meu pai, que vendo a necessidade de mudar para um meio maior, em que pudesse dar educação aos filhos, aqui vieram morar.

Estive algumas vêzes em sua casa, por trás da igreja São Vicente, onde cultivava alguns pés de mamão e hortaliças, pois nunca perdera o gosto pela terra e o cultivo.

Depois morou em uma casa, perto da fábrica de gelo, e em frente ao atual Teatro Dix Huit Rosado, em que eu,  e os primos José Ilo e Lisboa, fomos muitas vêzes, ainda menino, ia para ler os muitos gibis e revistas de Disney, que seu filho, cadete da polícia, José Lopes, comprava aos montes, e os primos, para olhar e conversar com as belas primas moças.

Quando meus pais vieram morar em Mossoró, tio Vicente já morava na Rua Treze de Maio, e em minha casa, estudavam os primos Ivo Jr. e Gilberto,  todos os três apaixonados pela prima mais nova, Soninha, que era um broto lindo e de pernas muito grossas e bem torneadas, mas o medo de tio Vicente era maior!

O gosto pela terra, continuava enraizado, e tinha mãos mágicas para plantar. No quintal desta casa, vi um pé de banana maça, cujo cacho, tinha mais de 400 frutos, e que precisou ser escorado para suportar o peso.

Muito bonito, e com grande porte, tio Vicente era acolhedor, gostava muito da família, no que contava com a participação efetiva de tia Lilía.

Tinha um riso contido, de canto de boca, mais muito constante, no que parecia as vêzes angelical e as vêzes irônico, pois gostava muito de brincar e tirar sarro com os sobrinhos.

No caminho para o trabalho, passava em frente a casa em que moráva-mos, que tinha janelas muito amplas, e sempre que avistava algum de nós, chamava a atenção dos que estivessem presentes, e apontava, dizendo: espia os beradeiros filhos de Lula! olha os beradeiros de José da Penha, e as vêzes mandava as minhas irmãs, vestir uma roupa, pois era tempo da mini saia, e elas ficavam loucas, enquanto que ele saia rindo.

Até que um dia, elas criaram coragem e disseram: manda Lèda, sua filha, vestir também, é menor que a nossa.

Mas a grande descoberta foi quando souberam, que ele detestava quem lhe tomasse a benção, que respondia sempre, "para que esta besteira", então o jogo se inverteu. As meninas ficavam a espreita e quando ele se aproximava, gritavam todas ao meus tempo, "A BENÇÃO, TIO VICENTE"  e sem que hovesse nenhum acordo prévio, a paz foi restabelecida.

Trabalhando na Receita Estadual, era de uma integridade a toda prova, trabalhando em postos fiscais de muita movimentação, como São Romão e Alto de São Manoel, podia até beneficiar um pobre, por bondade, pois tinha um coração imensamente bom, mas jamais para tirar proveito ou ganhar propinas.

Foi um grande exemplo de bom marido e pai responsável, com grande visão futurista, trazendo sua enorme prole para um lugar, em que pudesse educar e encaminhar na vida, sendo que todos obtiveram sucesso, vivemdo bem, e mantendo a união familiar.

Quando fiquei viuvo e contraí nova nupcias, conheci o Sr. José, que era vizinho do meu sogro, e que havia trabalhado com tio Vicente, que afirmava de maneira categórica: Sr. Vicente, foi o homem mais honesto que conheci em minha vida, trabalhei com muitos fiscais, e ele foi o unico que nunca ví receber uma bola.

Depois foi posto em trabalho burocrático, em que fui muitas vêzes, resolver problemas da empresa que trabalhava, tendo sempre a sua acolhida gentil e amável, em que perguntava por todos de minha casa.

Gostaria de ter convivido mais com tio Vicente, pois teria muito a ganhar.

SAUDADES!


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