quinta-feira, 30 de agosto de 2012

ALUGANDO BICICLETA

No ano de 1954, estávamos em viagem para Mossoró, no caminhão de Luiz Leal, que era dirigido por um motorista negro, de nome Januncio, levando como passageiros, mamãe, eu, Gagaça, Marcos e Fátima na cabine e papai e mais 3 trabalhadores, sobre a carga de caroço de algodão.
Ao fazer uma curva fechada, perdeu o controle e a roda traseira, atingiu um grosso toco de árvore, tombando o caminhão. Pensando ter morto alguém e na pressa de fugir, Januncio pisou no pescoço de Fátima que tinha menos de 2 anos, deixando sequelas, passando a sofre convulções.
Em busca de tratamento, mudamos para Mossoró, por alguns mêses, tendo papai procurado  especialistas de Recife. Pegava o avião da PANAIR ou da CRUZEIRO DO SUL que naquela época tinha pousos regulares, e hoje, ironicamente, sendo uma cidade progressista, não tem nenhuma linha aérea a pousar aqui. Certa feita ao regressar, trazia uma sacola com peras, fruta que eu não conhecia e tornou-se umas das preferidas.
Fomos morar no bairro Alto da Conceição em uma casa vizinha a uma  prima de mamãe, Naninha (Ana) filha de sua tia Maroca.
Para minha grande alegria, o casal Chagas / Naninha, tinham 2 filhos de nomes: Queiroizinho e Oto, com idades parecida com a minha, e passei a viver  mais na casa deles que na minha. Foi aí que aprendi andar de bicicleta e a jogar botão. Foram muitos os tombos e as brigas também, já que Queiroizinho foi o flamenguista menino, mais chato que já vi, e o meu time era o Vasco.
A situação lá em casa não era das melhores e passei a lanchar fartamente, todas as tardes, na casa da linda e bondosa Naninha, pessoa muito religiosa que tinha por hábito rezar todas as noites o terço em família.
Antes de retornar para José da Penha, ganhei de meu pai uma bicicleta, CALOI POTI, versão masculina da CECI, que foi a primeira bicicleta tamanho infantil da cidade.
As crianças ficaram completamente malucas com aquela novidade, eu dando volta em torno da igreja e aproximadamente uns 50 meninos correndo atrás e gritando, EEEEEEEEEEEEEEEEEEE!!!!!!!!!
Havia na cidade uma atividade comercial de aluguéis de bicicletas para adultos, que as pessoas alugavam para passeio, geralmente grupos, que saiam a andar pela cidade e pagavam por hora de uso, ou para deslocamentos maiores, como ir a sítios ou cidades vizinhas, e aí era cobrado por periodo, meio dia, pernoite etc.
Quando minha bicicleta já não motivava mais, passei a alugar as crianças da cidade, tendo um numero imenso delas, aprendedido a andar na minha Caloi. Cobrava UM CRUZEIRO por 5 voltas dentro do mercado central, dinheiro que usava para comprar guloseimas. Como a procura era grande, passou a sobrar uns trocados, até que comprei um pijama com grandes  botões de madreperola por VINTE E DOIS CRUZEIROS e foi aí que a fonte secou.
Chegando em casa, papai quis saber a origem do dinheiro, e quando disse que estava alugando a bicicleta, falou: "você está terminantemente proibido de alugar a bicicleta, sob pena de levar uma surra" e complementou: não tem uma criança desta cidade que não seja meu afilhado ou filho de um compadre, portanto se está enjoado da bicicleta é para deixar as crianças andar livremente e de graça!
Era uma época em que as coisas eram feitas para durar, e a pequena bicicleta, continuou a fazer a alegria de muitas crianças...

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