segunda-feira, 23 de julho de 2012

CAGARAM NO CACIMBÃO!

A exemplo das maiorias das cidades do nordeste, José da Penha, tinha uma grande dificuldade de encontrar água doce para consumo humano.
Transportando em carroças pipa, com tração animal, algumas pessoas ganhavam a vida vendendo água que traziam do açude do velho Dácio, que normamente secava antes do próximo inverno, ou do grande açude do Angicos, mas que ficava a 6 km. da cidade.
Quem não podia comprar, abastecia a própria casa com  ancoretas, transportadas em lombo de jumento ou de galão, em ombro humano, e as vêzes algumas mulheres, com lata d'agua na cabeça.
Algumas pessoas tinham caçimbas ou cacimbões em suas propriedades, mas geralmente a água era salobra.
A água, era armazenada em potes de barros, sobre uma cantareira, espécie de mesa comprida e sem tampo, com divisões para acomodar com segurança os potes.
Usavam uma concha de alumínio, cujo formato era de um grande copo, para retirar a água e servir nos copos, mas a maioria das casas era improvisados catembas de coco ou cuias.
Como nem todos tinham o cuidado de coar ou ferver a água, era comum na hora de servir, cair alguns martelos (girinos) nos copos, que vinham em forma de ovo e eclodiam, já nos potes.
Depois de muitas tentativas, com muita sorte, a prefeitura conseguiu cavar um grande cacimbão com excelente água doce, praticamente dentro da cidade. Foi um presente maravilhoso, para a população. Dotados de boas veías, quanto mais tiravam, mais água fluía.
Certa feita, acompanhando meu amigo Toinho de Bizé (IN MEMORIAN), que fora pegar água para abastecer a casa, deparamos com o inesperado: haviam defecado dentro do cacimbão, e lá estava a navegar em águas calmas, aquela ruma de merda!
Voltamos com as ancoretas vazias, e ao chegar em casa, foi logo contando o ocorrido ao pai, que pronamente ordenou : VOLTA E VAI PEGAR A ÁGUA, QUANDO DESTRIBUIR AQUELA MERDA COM O POVO DA CIDADE, VAI DAR UM TIQUINHO DE NADA PARA CADA UM.
Ordem cumprida!

sábado, 21 de julho de 2012

TETÊ, A POLIVALENTE


Além das inumeras tarefas domésticas, a grande prole, para criar, para quem cozinhava e costurava as roupas, verdade, que tinha ajuda das irmãs de criação Iris e Luiza, que se alternavam lá por casa e de tia Talzinha, mamãe era a faz tudo!
Médica, parteira, cabelereira, professora de corte e costura, desingner, ditadora da moda, pois trazia as novidades de Mossoró, consultora para assuntos aleatórios, e proprietária de um hotel, o qual nunca entrava um centavo, pois não passava um só dia, que não tivesse alguém de fora para almoçar ou pernoitar em nossa casa.
Esta prática ficou mais restrita, depois de um fato de natureza gravíssima. Apareceu lá por casa uma jovem, forte e bonita senhora, a quem alimentou e como estava a precisar de alguém para ajudar, perguntou se não queria trabalhar. Convite aceito, tudo corria bem, quando a polícia chegou para prender a moça, que havia trabalhado em uma casa e quando o casal veio para almoço, ela foi logo dizendo: o leitãozinho, está uma delícia! havia assado o filho do casal no forno, tinha crises de loucura e alucinações periodica. Já pensaram, quantos leitãozinhos, tinham lá em casa!
Certa feita trouxe de Mossoró a moda da saia plinsada (ou seria pinsada?) e a forma para dar moldes ao tecido, que parecia um fole de sanfona, em que os tecido era colocado uniformemente em cada dobra, e depois amarrado fortemente e posto sob pesos por três dias, para que ganhasse forma. A casa parecia uma feira, com tantas mulheres para conhecer a novidade e encomendar o seu plinsamento. Como o processo era muito lento, saiu de moda e ainda havia mulheres encomendando a sua.
Em outra oportunidade, levou "bobys" para ondular os cabelos, embora não combinasse com os delas que eram meio aramado. Coisa mais horrível! as mulheres da cidade, dia e noite com a cabeça cheia de bobys.
Quando chegava o período da festa, desenhava as roupas para as moças da cidade, baseado no que viu lá fora, e ía a Mossoró para comprar tecidos e calçados para todas. Media o pé de cada uma em tirinhas de papel e escrevia o nome da encomendante, com a cor e altura desejada.
O jeep vinha lotado, nunca menos que 50 pares, que ela espalhava pelos cantos de parede da sala, com o nome e o valor da compra, que era cobrado exatamente o que pagou, a unica coisa que lucrava, com tanto trabalho, era alguns brindes em calçados, para os filhos.
Tomava conta ainda da casa paroquial, ajudava na igreja e nas comemorações que por acaso houvesse.
Com tudo isto, estou para ver uma mãe que cuidasse tão de seus filhos, com muita autoridade e um cabresto bem curtinho, mantedo-os higiênicamente limpos, alimentados, e aptos em boas maneiras e
arre! VERMIFUGADOS.
Que mania! a cada 6 mêses, limonada purgativa, sal amargo e piperazina, para matar os vermes e limpar o intestino. Uma ruma de meninos (as) em um quarto, cada qual com seu pinico, sobre esteiras de palha, a cagar de quilo! e ela insistido para que víssimos as velinhas brancas que dizia ser oxiuros, e que nunca enxerguei!
TIA TALZINHA

Maria do Carmo de Oliveira Lopes, a nossa tia Talzinha, era a penultima irmã de meu pai,  orfã muito pequenina,  a sua vida ficou muito marcada por este fato, tinha verdadeira veneração pela mãe que não conheceu.
Embora soubesse ler e escrever, era grande o deficite de aprendisagem, já que nascera com problemas de ordem neurológica de média gravidade, o que a empedia de aprender as coisas mais simples
Durante muito tempo perambulou pelas casas dos irmãos, até se fixar em nossa casa, e posteriormente, na casa de tio Lili, até sua morte, por volta dos 36 anos de idade, por crise de hipoglicemia, em contraste com muitos da família que são diabéticos.
Ajudava com a criação das crianças, pois cumpria as tarefas com muita responsabilidade , mantendo-as alimentadas e limpas.
Muito branca, cabelos lisos, que ela usava curtinho, tinha um sorriso lánguido e bonito, quase sempre acompanhado de uma risada contida, e um jeito relaxado de sentar-se, com pouco pudor, para um adulto,  mas era uma pessoa muito pura. Na verdade era uma criança de 5 anos em um corpo de adulto, em que foi imposta algumas atitudes e aprendizado de gente grande.
Periodicamente passava por grandes crises existenciais,e se tinha alguma raiva, ficava até 15 dias sem falar com ninguém, em uma tristeza que amargurava o seu rosto, rezando e cantando a mesma canção!

                       Papai do céu por favor
                       faça mãezinha voltar
                       foi-se embora, coitadinha
                       para não mais voltar
                       aqui em casa todos choram
                       o papai vive a chorar
                       e a vovó, só conta histórias
                       quando a mãezinha voltar.

Era uma ladainha interminável, até que de repente acordava um dia naturalmente.
Ensinei-a jogar cartas (buraco), aliáis era um ensinamento permanente, porque ela esquecia. Isto aconteceu quando fui morar na casa de tio Lili, e a noite jogava-mos em parceria: Lili/Zuila, eu e ela.
Muito franca, dizia a todos: "gosto de todos os meus sobrinhos e sobrinhas, mas o que mais gosto é de Antonio de Lula", era a unica pessoa, que me chamava de Antonio.
Quando estava bem, pedia, Antonio cante aquela musica, e prontamente atendia ao seu pedido, sempre a mesma, parecia que sua cabeça não havia espaço para aprender outras, embora soubesse o hino de Santo Antonio, padroeiro de sua terra.
                          Cai a tarde, tristonha e serena
                          no martírio, suave langor
                          despertando em meu coração
                          a saudade, do primeiro amor.
                          No alto do campanário... etc.etc.

À noite ficávamos sentados à calçada, contando advinhações, que eram alternadas e direcionada a pessoa que você quisesse que respondesse. Invariávelmente, ela perguntava a papai: "Lula, o que é o que é, é verde por fora, vermelha por dentro e cheia de carocinhos, pretos? papai, é laranja, não! maça, não! mamão, não! não sei o que é, Lula é melancia! e caia na risada.
Era grande o vai e vem de caminhões a trazer algodão em pluma e levar o algodão beneficiado.
Certa feita papai perguntou: Talzinha, o que é, o que é, tem uma carroceria para carregar algodão, uma cabine, 8 pneus atrás, 2 pneus na frente, um motor, faz biiiibiiii,  acende as luzes e um motorista para dirigir?
Ela pensou...pensou... e disse: "LULA, SÓ PODE SER UM BICHO BRUTO!"
Saudades de tia Talzinha, te amo.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

AS MÃES TÊEM RAZÕES, QUE A PROPRIA RAZÃO DESCONHECE

O meu mundo caiu!
Você vai estudar em Mossoró, na casa de seu tio Lili e Gagaça. vai para Pau dos Ferros, interna no patronato de freiras, se ficarem aqui, vão continuar analfabetos!
 Ano de 1958, eu com 9 e Gagaça com 8 anos incompletos. Era o fim das brincadeiras, da vida livre e o afastamento dos bons amigos.
Naquele tempo de péssimas estradas a distância de 188 km, era pecorrida em 12 horas, quando não era período de chuvas, na invernada, podia demorar 2 dias, tal o numero de atoleiros.
Portanto, não tinha este de negócio de passar fim de semana em casa, saía e passava o quadrimestre escolar. O que confortava era que mensalmente o meu pai vinha à Mossoró para as reuniões da firma.
Findo o primeiro semestre, eu fui para o internato do COLÉGIO DIOCESANO SANTA LUZIA, e Gagaça, que não foi mais aceita no patronato, porque nos dias mais frios, fazia xixi na cama, veio estudar interna no GINÁSIO SAGRADO CORAÇÃO DE MARIA.
As vêzes ficava pensando, como mamãe fez aquilo com a gente, éramos muito pequenos!
Hoje agradeço, a sua iniciativa, ela tinha razão.
O grupo escolar funcionava uma classe unica, com crianças de todas idades e em diferentes níveis, o que não permitia saber em que série, você estava. Quando saímos tivemos que fazer teste, para saber a série que iríamos acompanhar. Fui para a terceira e êla para a segunda, dentro da faixa etária, porque nossa mãe acompanhava as tarefas e nos ensinava.
Mamãe tomou esta doída decisão, por não suportar mais nos ensinar os deveres, e ver o que estava correto, sendo corrigido de maneira errada pela professora.
Certo dia, havia escrito a palavra hotel e a mestra cortou o "h" com lapis vermelho,  e a palavra doce, ela substituiu a o "c" por "ç". Foi o fim da paciência!
Alguns anos depois o grupo escolar, passou a ter até o quinto ano primário, mas o nível continuava o mesmo. Por falta de alguém mais qualificado, a diretora e professora do quinto ano, só havia estudado até o quarto ano primário.
Certa feita, minha amada tia Maria do Céu, que trabalhava como inspetora de ensino do governo do estado, saiu pelas cidades do interior, implantando a merenda escolar, e ao chegar em José da Penha, foi visitar a diretora, para explicar os procedimentos, e deparou-se com esta joia rara de diálogo: " Ceuzinha! eu ía saindo para fora, quando a vi você chegar, entrei para dentro" explicado o motivo da visita, atacou com esta outra pérola " E já a vi falar do programa, vem em boa hora, as criançelas daqui, passam uma difiliculdade, iumensa!"
A tia que estava acompanha de uma colega, cravava as unhas nas palmas das mãos, para não rir e evitou olhar para a colega, pois sabia que não ia aguentar.
MAMÃE TINHA RAZÃO!
AS COMADRES, SÃO MAIS FIÉIS!

Como toda grande empresa, a CIA. ALFREDO FERNANDES, tinha interesses políticos e solicitava dos seus gerentes, o apoio para determinados candidatos. Era notório que candidato apoiado por meu pai, tinha no mínimo 80% dos votos da cidade.
Meus pais e seus acessores mais diretos, viravam cabo eleitoral, com destribuição de santinhos, chapas marcadas etc. e trabalho intenso no dia das eleições, fiscalizando, providenciando a locomoção e refeição dos eleitores.
Nossa casa era parada obrigatória de todos candidatos, apoiados ou adversários, que saiam em campanha pelo interior, aonde faziam refeições e até dormiam.
Lembro de uma vez em que um candidato a deputado estadual, que morava na região, pernoitou em nossa casa. Mamãe escolheu  a melhor rêde, branca com varandas de crochet, perfumada e guardada em bau, pois afinal êle era médico, e médico até hoje é a coisa que ela gosta mais.
Armada na grande sala de estar, após o jantar o homem foi deitar e ao tirar os sapatos, a catinga do chulé, espalhou por toda casa, e mamãe que estava grávida, aliais ela sempre estava, era um por ano, começou a dar engulhos.
Não precisa dizer, que a rêde, passou por várias lavagens e quase foi descartada.
Em um determinado ano eleitoral, a firma mandou seus funcionários fazerem campanha para deputado federal, para o médico Tarcizio Maia, e eis que um dia surge lá em casa um primo de mamãe, Xavier Fernandes, que concorria ao mesmo cargo., a quem ela prometeu apoio.
Meu pai não gostou nem pouco da idéia, mas permitiu que votasse no primo, desde que não pedisse votos para êle. Como as mulheres da época não tinham engajamento político a campanha focava sempre o patriarca da família, que praticamente forçavam esposa e filhos, a acompanha-los.
Minha mãe era depositária e distribuidora dos alimentos que vinham da ALIANÇA PARA O PROGRESSO, acordo de ajuda a população carente, assinado entre o governador Aluizio Alves e Kennedy presidente dos Estados Unidos.
Alimentos de rico, coisa que a população pobre nem conhecia, era distribuido:leite em pó, queijo suisso, manteiga, farinha de milho, macarrão buzio (até hoje este tipo de macarrão, êles chamam de bugre), e capsulas de óleo de figado de bacalhau.
Ao fazer a distribuição minha mãe falava para as comadres, que votassem em Xavier Fernandes, que era seu primo, que o mesmo garantiu que aumentaria a cota de alimentos. Conversa ao pé do ouvido, as comadres igualmente participavam aos filhos, noras, genros etc. sem que os esposos soubessem.
Abertas as urnas, XAVIER, teve mais votos do que Tarcízio,  e pela primeira vez em 39 anos que foram casados, vi meu pai bravíssimo com ela, simplesmente ficou mudo, durante uma semana. Precisava ver a sua agonia, como se explicar perante a firma?
Os homens da cidade perderam! AS COMADRES FORAM MAIS FIÉIS!

quinta-feira, 19 de julho de 2012

A ERA DO RÁDIO

Ter rádio em nossa cidade, era uma verdadeira odisséia, além de muito dependioso. Ainda não existia rádio a pilha, e a cidade não tinha energia elétrica, portanto os rádios funcionavam com bateria de automóvel, cuja carga era de aproximadamente 8 horas e necessitavam de energia elétrica para recarregar, com o uso de um aparelho chamado, "dunga" ou "tunga", nunca soube o certo.
O primeiro rádio, surgido pelos anos de 1953/54 pertencia ao estafeta da cidade, Sr. Julio Fontes, que instalou no quarto de sua casa, e era exclusivo, pois escutava, com o ouvido colado ao mesmo.
O segundo foi o do meu pai, que tornou-se a grande novidade e divertimento de muitos da cidade.
Para que funcionasse em média 7 horas por dia, as vêzes mais, as vêzes menos, de acordo com a carga, dada na bateria, era necessário ter 7 baterias e um esquema sicronizado para que não faltasse baterias carregadas,
O misto do Sr. TOZINHO, transporte de carga e passageiros, fazia linha MOSSORÓ / LUIZ GOMES, 2 vêzes por semana, e na parada em José da Penha, que era em frente a nossa casa, meu pai mandava três baterias para carregar na casa de sua tia América, de maneira tal  que tinha uma instalada no rádio, três carregadas em casa e três sendo carregadas, na casa da tia.
Cinco horas da manhã meu pai colocava o rádio no batente da janela e já tinha uma numerosa platéia de senhores da cidade, para um programa de rimas e violeiros, todos conduzindo seu próprio banco ou cadeira, e embora hovesse simpatia e torcida por um determinador violeiro, durante a rima, o silêncio era total. Os violeiros sabiam da existência dos fãs, de maneira tal que durante a contenda, ponteiavam as violas por alguns instantes, dando margem para vibrações e falas.
Por volta das 13 horas, era novamente ligado, e o interesse maior era dos jovens ou pessoas em busca de notícias, geralmente de parentes, que foram para consulta ou tratamento em Mossoró.
O programa chamava-se notas e avisos, e tocava muitas musicas, oferecidas aos aniversariantes do dia, namoradas, pais, filhos etc. Era para muitos motivo de muito orgulho, ter seu nome citado em um oferecimento. ìa até as 15 horas.
19 horas, "A HORA DO BRASIL"! voltam os homens e os comentários políticos, coisas que as mulheres, não davam a menor importância. Terminado este programa vinha a parte mais concorrida, em que envolvia toda família, a radio novela "JERÔNIMO O HERÓI DO SERTÃO".
Alguns dias a carga, acabava, antes do término da novela, e todos ficavam a lamentar, mas na maioria dos dias sobrava, e o dial sintoniza a RÁDIO SOCIEDADE DA BAHIA, que tinha o melhor sinal e apresentava um programa estilo saudosista, com belas canções, patrocinados pelo guaraná FRATELLIVITA, cujo tema de abertura era uma musica,  que dizia assim: eu vi em uma vitrine de cristal, sob um soberbo pedestal, uma boneca encantadora... creio que o nome era este, boneca!
Aos pouco o radio parecia ser de um outro planeta, e soltar sons guturais: toinnnnnn   zummm, innnnnn etc.etc.
Bateria trocada imediatamente, para o dia seguinte, sendo que todas elas, deviam ficar sobre uma prancha de madeira, pois não podiam pegar resfriamento do solo.
E  VIVA O RÁDIO! UMA DAS MAIORES INVENÇÕES DA HUMANIDADE, E ATÉ HOJE REVOLUCIONÁRIA.
CULPA DA MÃE !

Um amigo psiquiatra, disse que todos os grandes medos e traumas, herdamos da mãe!
Afirmo que alguns, tenho certeza  absoluta, embora tenha curado o meu medo de relâmpagos e trovões.
No mês que antecedia o período de inverno, mamãe cortava pacientemente câmeras de ar, sem serventia,  de bicicleta ou carros, em tiras, e enrolava todos os armadores de rêde da casa, dizendo que era para isolar.
Se preparava o tempo para chover, juntava toda a prole, em numero de oito (ANTONIO - MARIA DAS GRAÇAS - MARCOS - MARIA DE FÁTIMA - LUIZ ANTONIO - MARIA CRISTINA - MARIA VÂNIA E JOSÉ ANTONIO) acrescida anos mais tarde, com o nascimento do temporão RICARDO FRANCISCO.
Tinha-mos que ficar quietos e calados em cima da cama, não podendo colocar os pés no chão, pois estáría-mos isolados.
A cidade de José da Penha, tem um relêvo interessante, altos e baixos, sequenciais e em distâncias curtas, e as nuvens de chuvas, pareciam sempre muito próxima do chão, e os trovões eram estrondosos e tinham eco prolongado. Na minha infância presenciei por duas vêzes, chuvas com granizo.
Minha mãe mantinha um grande estoque de palhas benta, no domingo de ramos, e ao primeiro sinal de chuva forte, já atirava ao vento e a cada relâmpago, invocava Santa Bárbara. Dava dó, ver o estado de nervos que a coitada ficava, durante a invernada.
Certa feita o seu irmão Paulo Marcelino, estava nos visitando, quando o céu ficou muito escuro, fazendo com que a tarde, parecesse noite e caiu a maior tempestade que já presenciei em minha vida, com chuva torrencial, ventania, relâmpagos e trovões, excepcionalmente grandes, verdadeiro dilúvio.
O circo foi armado em cima da cama, e minha mãe totalnente ensandecida a gritar, aíiiiiiiiiiiii, vou morrer! Lula, joga palha benta ao vento aíiiiiiiiiiiiiiii Santa Bárbara! valha-me N.S. Jesus Cristo! meninoooooooooooo, cala a bocaaaaaaaaaaaaa. Enquanto isto, tio Paulo tomava banho em uma bica forte na lateral da casa, e a cada relâmpago e trovão, gritava: chuvaaaaaaaaaaa, mãe de Deusssssssssss., e ela: Pauloooooooooo meu irmãooooooooo, você vai me matar... para Paulo, Santa Bárbara, joga palha ao vento, menino cala a boca!
E de repente, granizo, as pedras de gelo quebravam telhas e caiam dentro da casa, e aí, até tio Paulo teve medo.
Terminada a tempestade, deu para comprovar a intensidade da mesma, dado o numero de árvores arrancadas, inclusive duas mangueiras, que tem raizes fortes e profundas.
Foram muito dias para recuperar deste trauma, que carreguei até a idade adulta, e ainda com quase 40 anos, se estivesse em casa, ao menor sinal de chuva, caía dentro de uma rêde, com um lençol no rosto.
VIVENDO NO ESCURO

Apesar de ter um motor gerador de energia, este só funcionava durante o novenário do santo padroeiro, São Francisco, quando o prefeito comprava uma certa quantidade de óleo diesel, que permitia a cidade ficar iluminada das 18 as 21 horas, e na noite do grande baile, até as 0:0 horas.
Este era o preço que pagávamos por ser uma vila, e as atenções serem exclusiva para a sede do município.
Sempre sobrava um pouco de óleo para as situações emegênciais,  e se de repente as luzes acendessem, em qualquer dia fora deste período, era certeza que alguém estava sendo velado em sua ansia de morte ou já havia morrido.
Se tinha algum habitante sofrendo de doença crônica terminal, e as luzes acendiam, todos já se dirigiam para o velório, povo muito bom e solidário.
Muito raramente, vinha um time de futebol de cidades vizinhas, e a noite era oferecido um baile aos visitantes. Se não tivesse óleo, previamente os comerciantes da cidade, se cotizavam e compravam.
As casa eram iluminadas por candieiros, lamparinas e piracas (lamparinas muito grande, que provocava muita fumaça e carbonização), alimentadas com querosene, que dava uma queima muito mal cheirosa.
Algumas poucas casas tinham uma lâmpada encandecente, que funcionavam com uma camisa carbonizada, alcool e ar, que era bombeado, para dar pressão a cada meia hora. Tipo as lampadsas usadas hoje em acampamentos e que funcionam com gás butano.
Em nossa casa tinha uma dessas, que era colocada no centro da sala principal, presa a um arame grosso, que pendia de uma linha de aroeira, que repartia a sala ao meio. Para quem era acostumado a viver no escuro, parecia ser uma luz muito forte, que se expandia pela nossa calçada, através da porta principal e janelas que ficavam abertas.
Adultos e crianças ocupavam espaços diferentes na calçada, aonde rolavam brincadeiras, histórias, charadas, advinhações, piadas e muita conversa.
Noite de lua cheia, era uma festa, para a criançada, que tinha permissão de se distanciar de suas casas, até o limite que os olhos dos pais alcançasse.
Pelos idos de 60, já como município, chegou a enegia de Paulo Afonso.
 CASOS DE COMPADRES 3

Em um certo domingo, em  que o padre desceu a serra para efetuar os sacramento do casamento e batismos, meus pais iriam apadrinhar um garotinho, negro, cujos pais, suponho que tenham morado em São Paulo ou outro grande centro, durante o período da segunda guerra mundial.
Minha dedução, baseia-se no fato que o primeiro rádio em nossa cidade, chegou por volta do ano de 1954, pois a cidade não tinha energia elétrica e todos os homens da cidade, sonhavam completar 18 anos, para ir trabalhar na construção civil, em SP.
Quando o vigário, perguntou o nome da criança, os pais responderam: EISENHOWER (general americano, da segunda guerra).
Foi grande o susto do celebrante, com o nome tão extrambólico e pronunciado de maneira corretíssima. Indagou se os pais sabiam escrever o nome que escolheram para o filho, e diante de uma resposta negativa, pois ambos eram analfabetos, disse: eu também não! e sentenciou: BENEDITO, eu te batiso em nome do pai, do filho e do espírito santo, amém! Pronto o menino chama-se BENEDITO!
CASOS DE COMPADRES 2

RAIMUNDO NONATO DA SILVA, para o povo da cidade, Nonato Preto, para nós, compadre Nonato. Este era o compadre preferido do meu pai, por quem tinha uma grande dívida de gratidão, por o ter salvo de um afogamento, quando eu tinha menos de um ano de idade.
Pele negra, com cabelos e fisionomia de índio. com certeza era resultado de missigenação entre as raças.
Estrutura pequena, muito gadelhudo, dentes grandes e alvíssimos, chamava a atenção, principalmente por ter uma encrustação em ouro, que brilhava, quando abria o sorriso largo e bonito.
Êle e meu pai, não dava para saber quem era o escudeiro um do outro. Meu pai oferecia trabalho, ajuda financeira e proteção, e êle lealdade, ajuda nas pequenas tarefas e recados. 
Gostava muito da pinga marvada, e quando ébrio, algumas vêzes armava o barraco, e só atendia ao meu pai, que em algumas ocasiões, teve de ir busca-lo e até tira-lo das mãos da polícia.
Companheiro de caçadas, pescarias e papos, muito repetitivos, já que seus conhecimentos de analfabeto, era sòmente o que viveu, morando na região Norte do país.
Tinha uma espécie de eczema no torax, que dizia que apareceu, depois de ter sido picado por uma cobra jararaca do papo amarelo. Fato é, que era um inferno em sua vida, quando ativa, pois coçava loucamente.
Pai de uma grande prole, inclusive Toinho e Zezinho, que foram meus maiores amigos de infância, era de uma pobreza franciscana, sem duvida nenhuma, a casa mais pobre da cidade. Desprovida de qualquer tipo de móvel, as camas eram de varas, cobertas com palha, o fogão, um amontoado de barro, e tocos serviam de cadeiras. A unica coisa que chamava a atenção em sua casa, era um grande rosário, muito bem trançado, feito com o papel brilhante, que envolvia os cigarros, dentro do maço de antigamente.
De certa maneira, o seu lado índio falava mais alto, ao que favorecia o comodismo que vivia, a pouca vontade de trabalhar e o gostar  da caça e da pesca.
Impressionante, é que vivia sorrindo, e os filhos igualmente, demonstrando ser muito felizes.
Quando não estava no sono etílico, era o primeiro que chegava para o papo na nossa calçada e também o primeiro que saía, já que tinha o hábito de dormir cedo.
Invariávelmente, meu pai perguntava se já havia jantado, e mesmo com a resposta afirmativa, ía logo dizendo: mas, dá para tomar uma sopinha? Tetê, traga uma sopinha para o compadre.
Sorvia, nunca menos de um litro de sopa, que era complementada com meia rapadura e uma lata das de óleo, de água gelada, que êle afirmava ser muito quente e doer nos dentes.
Tomamos novos rumos, e o nosso amado compadre Nonato, ficou para trás, tocando sua vidinha mansa e sua indolência, muito agradecido a Deus.
Quando vim a ter notícias suas, estava muito doente (mal de Parkson). Fui visita-lo e tive uma das maiores revolta e tristeza de minha vida.
Ocorreu... depois conto, é um relato muito dolorido, vou amadurecer a idéia.
CASOS DE COMPADRES 1

Era muito comum a usina algodoeira ALFREDO FERNANDES & CIA,  empregar trabalhadores braçal, vindo de outras plagas.
Certo dia apareceu um cabloco atarrancado, de força descomunal, pedindo emprego ao meu pai, e pelas suas características, foi prontamente atendido.
Vinha dos lados de Apodi, e trazia uma companheira, que êle chamava de Marria (Maria), com alguns mêses de gestação.
Era o Sr. Chico Silviço (serviço), figura muito interressante, claro, com olhos azuis intenso e grandes dentes que não se via as divisões, tal era a quantidade de detritos alimentares acumulados, por nunca ter feito o uso da escova.
Não conseguia juntar, duas palavras corretamente.
Certa noite apareceu no concorrido papo de nossa calçada, juntamente com Marria, para convidar meus pais para serem padrinhos do crianço (criança) que iría nascer. Foi logo dizendo que não era seu filho e sim de um caba serregoim (cabra sem vergonha), que havia bulido com Marria, e depois de prenhe, abandonou-a.
Convite aceito, no outro dia cedinho, Chico chegou a nossa casa e falou para mamãe: comadre! Marria está desejando comer uma peixa (peixe) e se não comer, vai bortá (abortar) o crianço, e vocês não vão mais ser padrinhos. O mesmo havia visto, meu pai comprar peixes, no dia anterior.
Atendido, tornou-se visita obrigatória , todos os dias Marria tinha um desejo diferente, e se não tivesse a comida desejada, êle fazia a substituição do desejo na hora.
Nascido o crianço, passou a pegar um litro de leite, diariamente. Alimento que tinhamos em abundância e que era doado a muitos, embora meu pai não tivesse uma só cabeça de gado.
Todos queriam emprestar as suas melhores vacas a meu pai, que as alimentava muito bem, com os resídios do algodão, sementes e piolho (casquinha do chumaço de algodão, como da pipoca).
Em menos de secenta dias, Marria estava novamento prenhe e mais uma vez o casal apareceu, para convidar para serem padrinhos do novo crianço.
Papai disse: mas compadre, já somos padrinhos do João, tem muita gente boa na cidade, convide outro casal. Chico retrucou: já olhei em toda cidade, e não tem ninguém que possa dar um litro de leite para o crianço, e você pode dar par dois!
Bi-compadre, não teve jeito.
374 AFILHADOS DE BATISMO

SIM! este numero fantástico, pertecem aos meus pais LULA (Luiz Gonzaga Lopes) e TETÊ (Terezinha de Jesus Fernandes), não conheço outro registro igual, principalmente por morar em uma pequena cidade (José da Penha), que na época, tinha menos de 3.000 habitantes, e ser apenas gerente de uma usina algodoeira, nunca exercendo cargo político.
Sendo sua área de atuação as cidades de José da Penha, Luiz Gomes, Paraná e Riacho de Santana, cuja população total, era menos de 10.000 moradores.
Em José da Penha, estava concentrado o maior numero, perto de 300, e embora as ruas da cidade fossem curtas, existiam ruas em que não falhava uma só casa, tinha afilhados em todas.
O vigário morava na cidade serrana de Luiz Gomes, e descia a serra uma vez por mês, para celebrar missa, batisados e casamentos.
Era muito comum, êles apadrinharem, todas as crianças e noivos do dia.
Como papai viajava pelos sítios e fazendas, comprando algodão, era grande o numero de afilhados na zona rural, o que com o passar do tempo, gerou um duplo problema para mamãe: é que aos sábados, dia da feira da cidade, os sitiantes vinham vender seus produtos e comprar as necessidades de sua casa. Como andavam em montarias, amarravam os seus animais no oitão de nossa casa, e com pouco tempo, ninguém aguentava a fedentina de tantas fezes e urina acumulados. De quebra, quase todos almoçavam em nossa casa, numero nunca inferior a 30 compadres, que luta! coitadinha de mamãe que tinha uma prole grande para criar.
Embora o emprego do meu pai, fosse considerado bom, para os padrões da cidade, morava de aluguel e o carro pertencia a firmam um jeep Willis51.
Se não era rico, nem político, qual o segredo para tantos afilhados? meu pai foi a pessoa mais mansa e doce que conheci e dono de um carisma excepcional. Minha mãe, que estudou até o segundo ano ginasial, era a mais letrada da cidade.
Como morou na casa de um irmão médico, aprendeu o uso dos medicamentos, fazendo o papel de doutoura , além de cortar cabelos femininos e ensinar corte e costura, gratuitamente.

terça-feira, 17 de julho de 2012

SONHOS

Engraçado, sempre ouvi dizer, que devemos ter sonhos, mas percebo que as pessoas, sempre associam estes sonhos ao desejo de posse (TER) e ao poder, muitas vêzes por caminhos nada reomendáveis, e findam esquecendo do SER e da partilha.
Cheguei  em uma idade, em que tenho mais tempo para pensar, e pelo que resta de vida, que com certeza é menos do que já vivi, se faz urgente, resolver certas pendências e duvidas, e o olhar para dentro de si.
Outro dia um amigo perguntou-me, qual a minha verdadeira vocação, e prontamente respondi: "ser pobre". Na verdade minha alma respondeu por mim.
Depois fui analisar aquela resposta que saiu tão expontaneamente, e que condiziam com as minhas atitudes na vida, pois nunca tive a preocupação de acumular bens, e nunca os persegui em sonhos, nem tão pouco fiz planejamentos, e sempre abri mão do que podia acumular, em prol daqueles que amo e estavam a necessitar, e igualmente de alguns desconhecidos.
A vida me levou, e os parcos bens que tenho, vieram pela graça e bondade de Deus, e sempre achei que êle deu-me mais do que merecia, obrigado! papai do céu.
Fui feliz, em todas as etapas da vida, e afortunado na infância, livre, leve e solto, mil peripécias, mil aventuras, descobertas saudáveis e necessárias na vivência do dia a dia, e descobertas igualmente dolorosa, que mostraram que a vida é mel e fel, e que é necessário provar dos dois.
Não posso dizer como Ataulfo Alves, que daria tudo que tivesse, para voltar aos tempos de criança, porque tudo que tenho é pouco, para tamanha felicidade.
Mas, eis que de repente, mais que de repente, passei a ter sonhos: bem que seria maravilhoso se pudesse voltar aos tempos de criança, mesmo que atravez de sonho fisiológico. Queria correr pelas ruas e cercarias da minha cidade, visitar sítios e vilas, tantas vêzes pecorridos, caçar, pescar, tomar banho no riacho, açudes e barreiros, fazer barragens para reter a água das chuvas e jogar muita bola, com os meus melhores amigos de infância, LULU do cabo Silva (paradeiro desconhecido) e os irmãos TOINHO e ZEZINHO (in memorian), filhos de Nonato, todos da raça negra, todos lindos e maravilhosos.
Que pena! que até fisiologicamente, sou ruim de sonhar, como desejo viver muito tempo, com a graça de Deus, quem sabe, eu realize o meu sonho de sonhar!


quinta-feira, 12 de julho de 2012

Amigos, estava com problemas na tecla de / do computador, o que não permitia abrir o blog, para novas postagens. Fiz algumas como comentário em uma pagina que estava salva em meus favoritos
basta clicar em perda e ganhos, que aparecem.


Agora, tudo normalizado, volttarei a postar normalmente.

obrigado!