CASOS DE COMPADRES 2
RAIMUNDO NONATO DA SILVA, para o povo da cidade, Nonato Preto, para nós, compadre Nonato. Este era o compadre preferido do meu pai, por quem tinha uma grande dívida de gratidão, por o ter salvo de um afogamento, quando eu tinha menos de um ano de idade.
Pele negra, com cabelos e fisionomia de índio. com certeza era resultado de missigenação entre as raças.
Estrutura pequena, muito gadelhudo, dentes grandes e alvíssimos, chamava a atenção, principalmente por ter uma encrustação em ouro, que brilhava, quando abria o sorriso largo e bonito.
Êle e meu pai, não dava para saber quem era o escudeiro um do outro. Meu pai oferecia trabalho, ajuda financeira e proteção, e êle lealdade, ajuda nas pequenas tarefas e recados.
Gostava muito da pinga marvada, e quando ébrio, algumas vêzes armava o barraco, e só atendia ao meu pai, que em algumas ocasiões, teve de ir busca-lo e até tira-lo das mãos da polícia.
Companheiro de caçadas, pescarias e papos, muito repetitivos, já que seus conhecimentos de analfabeto, era sòmente o que viveu, morando na região Norte do país.
Tinha uma espécie de eczema no torax, que dizia que apareceu, depois de ter sido picado por uma cobra jararaca do papo amarelo. Fato é, que era um inferno em sua vida, quando ativa, pois coçava loucamente.
Pai de uma grande prole, inclusive Toinho e Zezinho, que foram meus maiores amigos de infância, era de uma pobreza franciscana, sem duvida nenhuma, a casa mais pobre da cidade. Desprovida de qualquer tipo de móvel, as camas eram de varas, cobertas com palha, o fogão, um amontoado de barro, e tocos serviam de cadeiras. A unica coisa que chamava a atenção em sua casa, era um grande rosário, muito bem trançado, feito com o papel brilhante, que envolvia os cigarros, dentro do maço de antigamente.
De certa maneira, o seu lado índio falava mais alto, ao que favorecia o comodismo que vivia, a pouca vontade de trabalhar e o gostar da caça e da pesca.
Impressionante, é que vivia sorrindo, e os filhos igualmente, demonstrando ser muito felizes.
Quando não estava no sono etílico, era o primeiro que chegava para o papo na nossa calçada e também o primeiro que saía, já que tinha o hábito de dormir cedo.
Invariávelmente, meu pai perguntava se já havia jantado, e mesmo com a resposta afirmativa, ía logo dizendo: mas, dá para tomar uma sopinha? Tetê, traga uma sopinha para o compadre.
Sorvia, nunca menos de um litro de sopa, que era complementada com meia rapadura e uma lata das de óleo, de água gelada, que êle afirmava ser muito quente e doer nos dentes.
Tomamos novos rumos, e o nosso amado compadre Nonato, ficou para trás, tocando sua vidinha mansa e sua indolência, muito agradecido a Deus.
Quando vim a ter notícias suas, estava muito doente (mal de Parkson). Fui visita-lo e tive uma das maiores revolta e tristeza de minha vida.
Ocorreu... depois conto, é um relato muito dolorido, vou amadurecer a idéia.
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