TIA TALZINHA
Maria do Carmo de Oliveira Lopes, a nossa tia Talzinha, era a penultima irmã de meu pai, orfã muito pequenina, a sua vida ficou muito marcada por este fato, tinha verdadeira veneração pela mãe que não conheceu.
Embora soubesse ler e escrever, era grande o deficite de aprendisagem, já que nascera com problemas de ordem neurológica de média gravidade, o que a empedia de aprender as coisas mais simples
Durante muito tempo perambulou pelas casas dos irmãos, até se fixar em nossa casa, e posteriormente, na casa de tio Lili, até sua morte, por volta dos 36 anos de idade, por crise de hipoglicemia, em contraste com muitos da família que são diabéticos.
Ajudava com a criação das crianças, pois cumpria as tarefas com muita responsabilidade , mantendo-as alimentadas e limpas.
Muito branca, cabelos lisos, que ela usava curtinho, tinha um sorriso lánguido e bonito, quase sempre acompanhado de uma risada contida, e um jeito relaxado de sentar-se, com pouco pudor, para um adulto, mas era uma pessoa muito pura. Na verdade era uma criança de 5 anos em um corpo de adulto, em que foi imposta algumas atitudes e aprendizado de gente grande.
Periodicamente passava por grandes crises existenciais,e se tinha alguma raiva, ficava até 15 dias sem falar com ninguém, em uma tristeza que amargurava o seu rosto, rezando e cantando a mesma canção!
Papai do céu por favor
faça mãezinha voltar
foi-se embora, coitadinha
para não mais voltar
aqui em casa todos choram
o papai vive a chorar
e a vovó, só conta histórias
quando a mãezinha voltar.
Era uma ladainha interminável, até que de repente acordava um dia naturalmente.
Ensinei-a jogar cartas (buraco), aliáis era um ensinamento permanente, porque ela esquecia. Isto aconteceu quando fui morar na casa de tio Lili, e a noite jogava-mos em parceria: Lili/Zuila, eu e ela.
Muito franca, dizia a todos: "gosto de todos os meus sobrinhos e sobrinhas, mas o que mais gosto é de Antonio de Lula", era a unica pessoa, que me chamava de Antonio.
Quando estava bem, pedia, Antonio cante aquela musica, e prontamente atendia ao seu pedido, sempre a mesma, parecia que sua cabeça não havia espaço para aprender outras, embora soubesse o hino de Santo Antonio, padroeiro de sua terra.
Cai a tarde, tristonha e serena
no martírio, suave langor
despertando em meu coração
a saudade, do primeiro amor.
No alto do campanário... etc.etc.
À noite ficávamos sentados à calçada, contando advinhações, que eram alternadas e direcionada a pessoa que você quisesse que respondesse. Invariávelmente, ela perguntava a papai: "Lula, o que é o que é, é verde por fora, vermelha por dentro e cheia de carocinhos, pretos? papai, é laranja, não! maça, não! mamão, não! não sei o que é, Lula é melancia! e caia na risada.
Era grande o vai e vem de caminhões a trazer algodão em pluma e levar o algodão beneficiado.
Certa feita papai perguntou: Talzinha, o que é, o que é, tem uma carroceria para carregar algodão, uma cabine, 8 pneus atrás, 2 pneus na frente, um motor, faz biiiibiiii, acende as luzes e um motorista para dirigir?
Ela pensou...pensou... e disse: "LULA, SÓ PODE SER UM BICHO BRUTO!"
Saudades de tia Talzinha, te amo.
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