quinta-feira, 25 de outubro de 2012

OS ENCANTOS DO GRAMOFONE

Procedente da cidade de Umarizal / RN, chegou para trabalhar com meu pai na função de sub-gerente, um moço muito bonito de abitos refinado, muito educado,  roupas elegantes e sapatos clássicos, e trazendo na bagagem a novidade maior que até então aparecera na cidade, um gramofone.

Seu nome era, Aluízio Rocha, que ocupou um quarto anexo a nossa casa, com uma porta de comunicação, com fechadura por dentro do quarto, mas que o mesmo deixava aberta, praticamente o dia todo, aceitando a nossa presença e brincando muito conosco, numa empatia mútua e demonstrações de carinho de ambas as partes, sempre nos enchendo de goluseimas e brinquedos.

Entre as muitas coisas boas, trazia um GRAMAFONE VICTOR TALKING MACHINE, acondicionado em uma bela maleta, e alguns discos 78 rotações de cantores de sucesso da época: Nora Ney, Marlene, Emilhinha Borba, as irmãs Garcia, Carlos Galhardo, Vicente Celestino, Orlando Dias, Sílvio Caldas, Francisco Alves, Ivon Curi, Augusto Calheiros, Luiz Gonzaga, Jorge Goulart e outros, com apenas uma musica de cada lado do disco.

Embora o funcionamento do gramofone, fosse simples, bastava dar corda, para girar o prato, puxar o braço articulado, até ouvir o estalido e colocar a agulha cuidadosamente na borda do disco, para iniciar a execução do mesmo, o processo de ouvir muitos discos, era lento, já que a cada disco tocado, tinha que trocar a agulha.

As agulhas, vinham acondicionadas em uma caixa de metal, escritas em uma lingua estrangeira com duzentas unidades e tinha as douradas, mais resistentes e as prateadas.

Bastava iniciar a musica, para a janela e porta do quartinho, ficar cheio de curiosos, sendo que com o tempo chegavam a solicitar as musicas que mais lhes agradava.

De minha parte, era completamente encantado pelas musicas de Orlando Silva e Gonzagão e em particular a musica, O PADROEIRO DO BRASIL, que só ouvi quando criança e a uns 5 anos atrás, na cidade de Juazeiro do Norte / CE, estava a trabalho, quando na principal rua da cidade (Rua São Pedro) um serviço publico de auto falante, fez com que eu parasse e ficasse muito emocionado, com Maria Bethania, interpretando a mesma.

O PADROEIRO DO BRASIL (Ary Monteiro e Irany de Oliveira )

Em toda casa tem um quadro de São Jorge
em toda casa onde o santo é protetor
num barracão, num bangalô de gente nobre
há sempre um quadro deste santo salvador
quem é devoto é só fazer uma oração
que o guerreiro sempre atende
dando a sua proteção.
Por isso mesmo, não devemos esquecer
a grande data, dia 23 de Abril
vamos cantar, com alegria e prazer
porque São Jorge é o padroeiro do BRASIL.

Era rica da discografia brasileira, com musicas melodiosas e letras poéticas, que aprendi, cantei e canto para embalar os meus filhos de ontem ( a mais nova, Maria Cecília, com 29 anos) e os de hoje, sendo Antonio Fernando o temporão, com apenas 4 anos, a coisa mais linda, cantando CARINHOSO.


sexta-feira, 19 de outubro de 2012

A VIDA ERA LÚDICA

A constante busca do prazer, fazia com que vivesse-mos em movimento, criando brincadeiras das mais diversas formas, sem que implicasse em custo nenhum.

Era muito difícil ver uma criança com brinquedos manufaturados, e geralmente só ocorria na época natalina, para uns poucos sortudos.

No entanto, ao contrário do que se pensa, as crianças brincavam o dia todo, usando na maioria das vêzes, apenas o que a natureza oferecia, em um exercício constante de criação, e  fantasia.

Bolas de meia, ossos, que dependendo do tamanho, era touro, vaca ou bezerro. Sabugo de milho, que enrolado em um pano e colocados alguns cabelos da própria espiga, viravam bonecas, carrinhos de rolamento (rolimã), rolamento que viravam roda, impulsionado por uma vareta de arame. Bonecos de mamulengo, confeccionados com raiz de imburana ou pinhão, pinhão de goiabeira, que sendo madeira forte, aguentava as disputas, peteca, feita com um carretel (retrós) e penas de rabo de galo.

Alguns brinquedos eram usados materiais descartados, como: lata de sardinha ou doce marmelada, que viravam carrinhos ou trem, lata de leite em pó, que fazia roladeira individual ou multiplas, em comboio, com latas de leite condensado, confeccionava telefone

Com o barro, fazía-mos panelas, tijolos para construir casinhas e balas para as baladeiras (atiradeiras) ou badoque e roi-roi. Com madeira: gaiolas, açaplão, fojos, arapucas e carrinhos, além de currupios, feito com pedaços de cuia ou catemba de coco. Caixas de sabonetes, fósforo etc. confeccionava mesas, cadeiras e sofas.

Balanços com os mais diversos materiais (pneus, tábuas etc), pernas de pau, e sinuca, com as tabelas de borracha de câmara de ar.

No periodo da safra de caju, a castanha, era usada em diversos jogos de perde e ganha, tais como:
-BITELO : era feito um pequeno monte de terra, e colocada a maior castanha (bitelo), e marcada uma distância, em que os competidores, um por vez, tentava derrubar o bitelo, e quando ocorria, aquele que acertou, recolhia todas as castanhas atiradas para êle.

-BURACO : funcionava quase da mesma maneira, só que ao invés do bitelo, era feito um buraco no chão, e aquele que colocasse primeiro uma castanha dentro do buraco, recolhia todas para si.

-PÉ DE PAREDE : os competidores atiravam de uma distância pré estabelecida, uma castanha, com a intenção que ela ficasse o mais próximo possível da parede, aquele cuja castanha ficou mais próxima, recolhia todas as outras.

Algumas brincadeiras eram um tanto perigosa, com risco de machucar e até faturar ossos, como era o caso do GALAMARTE ou BANGALÔ, em que enterrava um toco de jucá no chão, deixando uns 60 cm de fora, com uma ponta aguda, onde deveria encaixar um longo tronco de carnauba, com um buraco no meio, em que era colocado carvão, para quando atritado, produzir o som do carro do boi.
Sentavam 3 a 4 meninos de cada lado, e com os pés impulsionavam no sentido horário, e conforme ia aumentando a velocidade, o tronco de carnauba desencaixava do toco, provocando uma queda coletiva.

A noite, vinha as brincadeiras de rodas, em que meninos e meninas se misturavam: Ciranda, cirandinha, pai Francisco, mavé-mavé, anel e a minha preferida: "lado direito está desocupado" que fazia ser ocupado, sempre por Graçinha Rocha, e ela por mim, e assim começavam os namoricos.

Hoje, vendo meus filhos e as crianças no geral, fico muito penalizado, e vejo que com muita tristeza, em tenra idade, substituir as lindas bonecas e carrinhos de controle remoto, por tablete e video games.

Tenho um projeto, que preciso de ajuda, mas gostaria de ir as salas de aulas de crianças até 10 anos, ensinar a usar as mãos, confeccionando brinquedos simples e interessantes.

BRINCANDO COMO ANTIGAMENTE.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

TIO VICENTE DE PAULA

Minha primeira lembrança de tio Vicente, era muito pequeno, acho que aconteceu na primeira visita de tio Gilberto Marcelino, que morava no Rio de Janeiro, e todos os familiares foram para uma grande recepção, na fazenda Várzea Grande, que pertencia ao meu avó Cel. José Marcelino, e que após a sua morte, coube ao tio Vicente administrar, tomando de conta das terras, gado e do engenho de cana de açucar.

Duas coisas me chamaram a atenção naquele dia, o tamanho de tio Vicente, que tinha mais 1,80m e a beleza dos olhos, que mais tarde encontrei iguais em Gagaça, minha irmã que eu diria que eram furtacor ou camaleônico, pois variavam entre o verde e o azul, muitas vêzes dependendo da claridade ou cor da roupa que usava.

Outra, foi uma disputa de tiro ao alvo, em uma lata de doce, colocada à distância, em que todos os tios, Tarcízio, Gilberto, Jamir, Paulo, Toinho e o próprio atiraram em rodízio, sem que acertasse, e de repente mamãe pediu para atirar e acertou o alvo em cheio! ganhando o apelídio de pistoleira.

Em uma outra oportunidade, quando fui passar alguns dias, na casa de tio Toinho, na Várzea Grande, estive em sua casa, onde comi alfinim com queijo de qualho, e vi aquela ruma de mulheres bonitas, que eram suas filhas:Docarmo, Terezinha, Lourdes, Lindalva, Salete, Elizabhet, Lêda e Sonia, além dos filhos: José e João Bosco (in memorian), todos nascidos, naquela propriedade.

Alguns anos mais tarde, já estudando em Mossoró, pude ter uma maior aproximação com tio Vicente e tia Lilía, suas esposa que era prima do meu pai, que vendo a necessidade de mudar para um meio maior, em que pudesse dar educação aos filhos, aqui vieram morar.

Estive algumas vêzes em sua casa, por trás da igreja São Vicente, onde cultivava alguns pés de mamão e hortaliças, pois nunca perdera o gosto pela terra e o cultivo.

Depois morou em uma casa, perto da fábrica de gelo, e em frente ao atual Teatro Dix Huit Rosado, em que eu,  e os primos José Ilo e Lisboa, fomos muitas vêzes, ainda menino, ia para ler os muitos gibis e revistas de Disney, que seu filho, cadete da polícia, José Lopes, comprava aos montes, e os primos, para olhar e conversar com as belas primas moças.

Quando meus pais vieram morar em Mossoró, tio Vicente já morava na Rua Treze de Maio, e em minha casa, estudavam os primos Ivo Jr. e Gilberto,  todos os três apaixonados pela prima mais nova, Soninha, que era um broto lindo e de pernas muito grossas e bem torneadas, mas o medo de tio Vicente era maior!

O gosto pela terra, continuava enraizado, e tinha mãos mágicas para plantar. No quintal desta casa, vi um pé de banana maça, cujo cacho, tinha mais de 400 frutos, e que precisou ser escorado para suportar o peso.

Muito bonito, e com grande porte, tio Vicente era acolhedor, gostava muito da família, no que contava com a participação efetiva de tia Lilía.

Tinha um riso contido, de canto de boca, mais muito constante, no que parecia as vêzes angelical e as vêzes irônico, pois gostava muito de brincar e tirar sarro com os sobrinhos.

No caminho para o trabalho, passava em frente a casa em que moráva-mos, que tinha janelas muito amplas, e sempre que avistava algum de nós, chamava a atenção dos que estivessem presentes, e apontava, dizendo: espia os beradeiros filhos de Lula! olha os beradeiros de José da Penha, e as vêzes mandava as minhas irmãs, vestir uma roupa, pois era tempo da mini saia, e elas ficavam loucas, enquanto que ele saia rindo.

Até que um dia, elas criaram coragem e disseram: manda Lèda, sua filha, vestir também, é menor que a nossa.

Mas a grande descoberta foi quando souberam, que ele detestava quem lhe tomasse a benção, que respondia sempre, "para que esta besteira", então o jogo se inverteu. As meninas ficavam a espreita e quando ele se aproximava, gritavam todas ao meus tempo, "A BENÇÃO, TIO VICENTE"  e sem que hovesse nenhum acordo prévio, a paz foi restabelecida.

Trabalhando na Receita Estadual, era de uma integridade a toda prova, trabalhando em postos fiscais de muita movimentação, como São Romão e Alto de São Manoel, podia até beneficiar um pobre, por bondade, pois tinha um coração imensamente bom, mas jamais para tirar proveito ou ganhar propinas.

Foi um grande exemplo de bom marido e pai responsável, com grande visão futurista, trazendo sua enorme prole para um lugar, em que pudesse educar e encaminhar na vida, sendo que todos obtiveram sucesso, vivemdo bem, e mantendo a união familiar.

Quando fiquei viuvo e contraí nova nupcias, conheci o Sr. José, que era vizinho do meu sogro, e que havia trabalhado com tio Vicente, que afirmava de maneira categórica: Sr. Vicente, foi o homem mais honesto que conheci em minha vida, trabalhei com muitos fiscais, e ele foi o unico que nunca ví receber uma bola.

Depois foi posto em trabalho burocrático, em que fui muitas vêzes, resolver problemas da empresa que trabalhava, tendo sempre a sua acolhida gentil e amável, em que perguntava por todos de minha casa.

Gostaria de ter convivido mais com tio Vicente, pois teria muito a ganhar.

SAUDADES!


VENÂNCIO, O PURO

Era muito comum a figura do agregdo. Pessoas que nasciam, viviam e morriam, em uma determinada fazenda ou no seio de uma família abastada, e trabalhavam a vida toda, sem paga, em troca de moradia, alimento e algumas peças de roupa, geralmente usada, sem nunca sair do lugar.

Muitos eram decendentes de escravos, que após a Lei Áurea, ficaram sem saber o que fazer com a sua liberdade, pois não tendo ofício, a sobrevivência ficaria muito difícil. Continuaram jutos ao seus agora benfeitores, constituiam família, e criavam os filhos, que herdavam sòmente a serventia.

Em muitos casos não miscigenaram, mantendo a pureza da raça africana, Este era o caso de Venâncio,negro muito tosco, com pouco mais de 1,40 M de altura, olhos negros, amendoados e pequenos e lábios muito grossos e virados, chegando na parte inferior a mostrar a mucosa da boca, e de um rosa tão intenso, que parecia estar de batom.

Falava pouco e com muitos erros, tinha um pouco de gagueira, e as palavras quando vinham, pareciam ser jogadas para fora da boca.

Era agregado da fazenda Baipendi, de Antonio Gurjão, sendo responsável por grande parte do trabalho pesado, que lhe deu uma compleição física invejável. O homem era só musculos, apesar da baixa estatura, tipo físico que nós nordestinos, chamamos de "torado no meio" ou "tamborete de forró" ( quando a pessoa e pequena e forte).

Como o sítio era muito próximo da cidade de José da Penha, Venâncio aproveitava as horas vagas, para ganhar algumas pouca moedas, pilando milho ou arroz em algumas casas da cidade, ganhando por "cuia" medida que equivale a 5 litros, e fazia de maneira rápida e eficaz, usando duas mãos de pilão, uma em cada mão, em um rítmo compassado e continuo.

Parava para limpar o arroz, soprando as cascas, deixando só os grãos, ou para peneirar o milho, separando o xerém (quirera) do grão maior, do qual era feito o munguzá.

O fato é, que por sua destreza, não dava de conta, de atender as muitas solicitações, pois dizíam que quebrava poucos grãos, dando qualidade ao produto final.

Muito satisfeito com os poucos trocados, de repente um fato novo, mudou a vida de Venâncio, é que a tecnologia chegou a cidade, em forma de uma "DESPOPADEIRA" de grãos, em cujo prédio, foi aberto um grande letreiro com a grafia errada, "DISCOPADEIRA DE ARROZ E MILHO" que foi agregada a fala local, como correta.

Trabalho muito rápido e barato, reduziu em muito a clientela daquele belo exemplar humano de muita força e técnica apurada, pela repetição de suas tarefas. Restando alguns poucos e fiéis clientes,
que afirmavam que  a despopadeira, quebrava muito os grãos, e que Venâncio fazia muito melhor.

Nunca soube a idade de Venâncio, mas calculo que se vivo, tenha em torno de 80 anos.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

PAGANDO PRENDA

As crianças de minha época, tinham uma imaginação muito fértil, pois não existindo a televisão, que hoje ocupa todo o tempo dos pequenos, com programas na maioria, futeis, violentos, consumistas, e indutores, precisavam preencher as horas do dia, que parecia muito longo, com multiplas atividades.

Havia muito mais sociabilidade, confiança e consolidações de amizades, para toda a vida.

Algumas brincadeiras interessantes, morreram no tempo, pois só funcionavam em um ambiente de liberdade total, em que as crianças podiam sair, visitar outras casas e pecorrer livremente as ruas da cidade, sem nenhum temor.

Três destas brincadeiras eram: Bom dia, folhinha verde e arrei, que você podia brincar, com quantos parceiros quizesse, previamente combinados.

BOM DIA! aquele que desse bom dia primeiro, contava um ponto, até  completar o placar de dez, que seria consagrado vencedor, e o perdedor deveria pagar a prenda combinada, que geralmente era: sabonete, bombons, rapadura e as vêzes brinquedos.

FOLHINHA VERDE - funcionava também com pagamento de prenda, e a contagem até dez. Todas vêzes em que as partes combinadas, se encontravam, dizia um para o outro: "folinha verde" e este deveria mostrar a folha verde de uma planta qualquer, que conduzia no bolso, cós da calça ou
qualquer outro lugar.

ARREI - sempre que estivesse comendo, qualquer coisa, e o adversário gritasse arrei! passava o que estava comendo para este.

Eu só paguei prendas, nunca consegui ganhar! Com quem eu mais brincava era com Maria, filha de Nonato Preto, que preparava os mais variados ataques de surpresa, se escondendo nos lugares mais improváveis, e surgindo de repente a gritar,  BOM DIA, FOLHINHA VERDE, OU ARREI.

Ganhava sempre de lavagem (goleada), nunca tive a menor chance, surgia por trás de cerca, trepada em pé de ficcus, carroceria do carro do vizinho, janela lateral de nossa casa e até de dentro da latrina(sanitário) que ficava no quintaL, separado da casa, sempre com aquele grito espichado.
BOM DIIIIIIIIIIAAAA.
QUE BICHINHO É ESTE

Os bons moços da cidade, que partiam para trabalhar no Sul do país, grande numero voltava antes de completar um ano, e os que lá permaneciam, davam um jeito de vir pelo menos uma vez por ano, de preferência em periodo festivo: padroeiro, Natal, Ano Novo, Carnaval ou Semana Santa.

Alguns, melhores sucedidos lançavam moda, com roupas de tecidos finos, calça de tropical ou nycron, aquela do senta, levanta, senta, levanta, que não amassava nunca ou camisa volta ao mundo,  que não absorvendo o suor, escorria do pescoço, até o rego da bunda. Diferente dos que aqui moravam, que usava mescla, mesclita, brim ou cambraia.

As vêzes, apareciam uns mais mostrados, que vestiam as belas jaquetas e blusões de frio, em pleno sertão nordestino, com quase 40*., sapatos vulcabrás, e óculos de sombra espelhados, afinal era a afirmação da mudança de status.

Nova maneira de falar, muitas gírias, e sotaque paulista ou carioca, dependendo da plaga de origem, não importando muito o tempo de permanencia, as vêzes, 6 mêses, era o suficiente para a formação de uma nova expressão cultural, e incorporação de novos hábitos.

Este modelo, servia de exemplo e despertava o desejo de outros jovens, que partiam para uma aventura no Sul, e o conhecimento da realidade cruel, que era viver em uma metrópole, longe dos familiares, muitas vêzes desejando voltar, mas faltava o dinheiro da passagem.

Ficavam rezando para pegar uma carona com os filhos de seu Elízio: Sandoval, Edmilson, José Maia ou Luizinho, que vez por outra viajavam para São Paulo.

Certa tarde, chegou um jovem da família Soares, depois de uma permanência de 6 mêses, na cidade maravilhosa, com sotaque totalmente carioca, tanta gíria, que é era difícil entender o que dizia, causando furor até ao próprio pai.

Na noite deste mesmo dia, ocorreu um jantar na casa do preifeito, Sr. Osório Estevão, e ele, achou por bem participar, e sentou-se ao meu lado. Como entrada foi colocado, alguns pratos com umas bolachinhas pequenas, conhecida como: bolacha peteca, quando de repente o moço pediu-me: Toinho, por favor, passe as fichinhas. Fiquei sem entender, e repetiu com aquele chiado peculiar do carioca, as fichinhas, as fichinhas, e apontou para as bolachinhas.

Casa simples, sem água encanada, sem pia, para lavar o rosto, era costume pela manhã, lavar em uma bacia, e levar uma caneca com água para o quintal da casa, para escovar os dentes.

Cumprindo o ritual, o jovem dirigiu-se ao quintal com escova e água, quando deparou-se com a jumenta que antes ele, botava água em casa, com cangalha e duas ancoretas (pequeno barril de madeira), virou-se para o pai, e perguntou: "pai, que bichinho interessante é este?"O pai, já de saco cheio cheio, rspondeu: "É SUA MÃE, FILHO DE UMA ÉGUA!"

domingo, 14 de outubro de 2012

SAINDO PARA ALMOÇAR!

Um certo compadre do meu pai, embora tivesse uma das melhores condições da cidade, morando em casa boa e central, era conhecido por sua avareza, sendo mesquinho até para comprar as coisas mais básicas.

A mulher e os filhos, não passavam fome quantitativa, mas com certeza passavam fome qualitativa, alimentando-se basicamente de feijão e mugunzá.

Na época do inverno, a alimentação era melhorada, com o gerimun, batata, maxixe etc, produzido no terreno da família, bem como na safra de frutas.

Diziam, que ele nunca comprava a mistura: carne, frango, peixe, e nem tão pouco as verduras que eram vendidas na feira da cidade.  O maximo de extravagância que fazia, era comprar um corredor de boi (osso da perna) que era amarrado em um cordão, sobre o fogão, e mergulhado na panela do feijão durante a fervura, para dar gosto, e depois suspenso para ser utilizado nos dias seguintes.

No entanto, o compadre, saia todos os dias para almoçar fora.

Como era de hábito o almoço do sertanejo, era servido entre as 10 e 11 horas, e pontualmente as 9 horas, o compadre selava a sua burrinha e saia para o passeio matinal (digo: comerçal). Andava lentamente e parava sempre que visse alguém fora de casa, a espera do primeiro convite :" se apei, homem! " (desça do cavalo).

Ficava como quem não quer nada, jogando prosa fora, e quando percebia que a mesa estava servida para o almoço, iniciava o teatro, dizendo que já ia, pois o pessoal de casa estava a espera para almoçar, pois sabia que por educação e prazer em bem receber, tão peculiar à aquela gente, o convite para almoçar seria feito.

Ao ouvir as palavras mágicas: " fique para almoçar com a gente, nos dê este prazer!" não se fazia de rogado. Farto do almoço, não pagava nem com conversa, pois tinha uma rede em casa a espera.

Se por acaso alguma das casas tivesse um almoço parecido com  o da sua, era imediatamente eliminada, o que proporcionou com o tempo, uma seleção das que melhores passava, com comida farta e boa.

sábado, 13 de outubro de 2012

SÍTIO BAXIO

Adorava passar as férias no Sítio Baxio, no pé da serra de Luiz Gomes, de propriedade do primo de meu pai, Calixto Lopes, filho dos tios Ernesto Fernandes e América Lopes.

Terra rica, com muitos atrativos para uma criança, encantada com a vida da roça e as multiplas oportunidades de brincadeiras e lazer.

Calixto, era uma pessoa maravilhosa, muito tranquilo e de mansidão de cordeiro. Convivia com uma diabetes insulino dependente, que vez por outra descompensava, provocando crises de hipoglicemia.
Muito amigo de meus pais, era muito frequente, lá por casa, a quem mamãe dedicava toda atenção e cuidados alimentares, e nós na sua, principalmente na época da moagem.

Sua esposa Elita, hoje,. quase centenária, de baixa estatura e compleição física pequena, compensava com determinação, organização e controle absoluto sobre as coisas da casa e os muitos filhos: Hugo, Ivone, José Sávio (meu irmão muito querido, de saudosa memória), Gilberto, João Batista e Ernesto.

Embora os meninos tivessem os afazeres, tais como: botar água em casa, tanger gado para o pasto, beber, curral etc. não era empecílio para que aproveitásse-mos para brincar, passarinhar e pescar, enquanto o gado bebia. Nas horas vagas, muitas brincadeiras, banho de açude e futebol, jogado no grande pátio a frente da casa.

O terreno de baxio, era um verdadeiro Oásis, muitas fruteiras, plantação de cana de açucar, e a vazante do açude, que não parava de produzir, batatas, gerimuns, e tudo que plantasse.

Por trás da parede do açude, muitas bananeiras e os araças dulcíssimos, que embora houvesse a advertência para não comer muito, para não ficar entupido (privado), não conseguia parar, até que enchesse a pança.

Tudo era fartura, o açude muito piscoso, vez por outra, se fazia necessário diminuir o volume de peixes, que era tanto, que não paravam de saltar. Tinha o comprador certo, que vinha com sua equipe, fazia um dia de pescaria com redes, que eram estendidas, e a equipe a bater na água, para que o peixe malhasse.

Este era para mim, um dia maravilhoso, nunca ví tanto peixe junto, que enchia a caçamba de uma caminhoneta.

Duas da tarde, aquele lanchinho maravilhoso, com bolo, café fresquinho, e os melhores crespos que já comi, sempre com a presença atenciosa de Elita, que falava baixinho e de maneira muito carinhosa.

Vez por outra íamos ao Baxio de Cima, de propriedade de tio Ernesto, para pescar no grande açude, onde diziam existir Pemas, com quase 10 Kg. Nunca consegui pegar, nem de 1 kg.

Dos filhos de Calixto, José Sávio, João Batista e Gilberto, estavam mais próximos de minha idade, e eram os companheiros, nas maiorias das bricadeiras e fabricação de gaiolas a alçaplans de palha de coqueiro, cujo furos, por onde devia passar o palito, era feito com uma suvela ( pedaço de arame rígido, com a ponta afinada em uma pedra e cabo de sabugo de milho).

O engenho era o que havia de mais magnífico, mas este é um capítulo à parte...

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

SEGURA QUE O FILHO É TEU!

Nas cidades pequenas, a casa do vizinho, é o quintal da nossa, era muito comum naquela época, ter 4 ou mais casas, sem sequer uma cerca a separar, e as vêzes quando tinham, deixavam uma porteira para comunicação.

Esta intimidade, e o diminuto tamanho da cidade, favorecia ao fato de todos acabarem sabendo da vida de todos. Quem bebia, quem jogava, quem brigava com o conjuge, e até de coisas mais graves.

Havia um compadre dos meus pais, muito chegado a um carteado, que as vêzes esquecia do tempo em uma mesa de jogo, e que tinha fama de ser muito manicaca.

Sua esposa tinha uma voz esquisita, o que chamamos de táta, que geralmente faz com que as algumas palavras, tenham um som mais agudo, e pareça estar ralhando.

Vez por outra, ela ia até a casa de jogo, e dizia: Vicente, vamos para casa! Ali mesmo êle encerrava e a acompanhava. Este fato, fez com que fosse muito gozado pelos companheiros, que passaram a dizer que era furado na venta (nariz), feito boi de campinadeira (carpinadeira)

O boi é furado na venta, e colocam uma argola de metal, onde amarram uma corda, obedecendo ao comando do seu dono, indo para o lado que puxar, pois doi muito, se tentar ir para o lado contrário.

Tentando provar que não era manicaca, certa feita, ela chegou com a ordem de sempre, o que êle retrucou, dizendo que não iria. Ela insistiu por mais três vêzes e diante da negativa veemente, sentenciou: Vou mostrar como você vai! e saiu...

Pouco depois, voltou com o filho bebê, e inesperadamente jogou sobre o colo de Vicente e saiu correndo. A criança, pelo susto do ato repentino e pela falta da mãe, abriu um berreiro tão grande, que não restou outra auternativa, senão ir para casa.

QUEM PARIU MATEUS, QUE BALANÇE...
CIUMES DE VOCÊ... - 2


Em uma época, em que as mulheres, não cumprimentavam, nem tão pouco paravam para conversar com outro homem, se não estivessem acompanhadas do seu marido, D. Nenen, quebrava todas as regras, muito simpática, conversava com todos, quer fosse criança, homens ou mulheres.

Todas as vêzes que precisava, se dirijir ao comércio, igreja ou qualquer outro lugar da cidade, já que sua casa, ficava no final de uma rua, que dava para uma lagoa, passava em frente a casa de D. Anália, e se o marido desta, estivesse na calçada, parava, para um dedo de prosa.

Muito ciumenta, D. Anália, começou a ver naquilo, um namoro, e como falava alto e sem temor, passou a distratar a pobre senhora, e a jogar seu nome na rua, sem que tivesse a menor prova, daquilo que sua imaginação criava.

Certo dia, o nosso bom prefeito Osório Estevão, juntamente com Pe. Raimundo Oswaldo e algumas senhoras, resolveram promover uma festa para as mães pobres da cidade, de maneira que aquelas que tivessem um pouco mais, adotariam uma mãe, para doar um presente, naquele dia das mães, além de oferecerem os quitutes da festa.

Composta a mesa, quando as autoridades deveriam dar início as falas, eis que no meio do salão, alguém se pronuncia em alta voz: licença! licença! e foi logo pegando o microfone, e dizendo: cheguei hoje do Rio de Janeiro, a tempo de prestar a minha singela homenangem a minha mãezinha querida, e queria entregar-lhes este presente que eu trouxe.

Aberto o pacote, era um óculos escuro, estilo gata, com várias pedras brilhantes, em total desacordo com a idade da mãe, e foi logo colocando no rosto da mesma.

Uma voz de trovão ecoou no ambiente: Ai UMA PEDRA AQUI, PARA EU QUEBRAR, ESTE ÓCULOS NA CARA DESTA RAP...... Era D. Anália, corroida pelo ciume.

Mal estar geral, festa quase que acabada, animos exaltados, e mamãe, dando uma de bombeiro, tentando apagar o fogo de suas duas comadres.
TUDO É CIUME, CIUME DE VOCÊ, CIUME DE VOCÊ...


Um dos casais de compadres, mais queridos de meu pais, era o Sr. Lauro Borges e sua esposa Milica, de grande prole, maioria mulheres. Moças muito prendadas, principalmente na arte do corte e costura e bordados, sempre cheias de encomendas, que pela perfeição, extrapolaram as fronteiras de José da Penha e finalizaram com grande sucesso na capital alencarina.
Darci, Enide, Nice (fui secretária do meu pai, na firma), Edízia e outras, além de Divá (in memorian) e Nô

Seu Lauro, era um homem destemido, muito trabalhador, respeitoso e respeitado por todos, que vivia da exploração de um pequeno terreno, no sítio Angicos, e da compra de algodão, e que eventualmente gostava da loira gelada, e vez por outra, tomava algumas com meu pai, a quem convidava para ir na sua casa, sempre acompanhado de uma gostosa galinha ou peixe, que trazia do açude de angicos.

A ultima vez que o vi, tinha mais de oitenta anos, fui chegando e dizendo, falaram-me, que nesta casa não falta cerveja gelada, respondeu: nunca! foi abrindo a geladeira e trazendo duas, super gelada, e perguntando: mas quem é você? feito a identificação, a alegria foi a maior do mundo, e tomamos as frias.

Dona Milica, muito apaixonada, tinha muito ciumes, e ficava arranjando namoradas para o mesmo, até que um dia o maldoso, aproveitando a sua insegurança, resolveu dar uma ajuda.

O funcionário dos correios, Sr. Julio da Mata, entregou um telegrama, endereçado ao Sr. Lauro, que encontrava-se no roçado, a sua esposa. Como telegrama, geralmente trazia notícias ruins, e diante do fato de ter filhos e parentes, morando no Sul, foi logo abrindo, quase desfalecendo com o que lêra.

"CARMINHA, VIAJA AMANHàPARA CAÍCO.
ASSINA: PITINGA

Coitada! ficou super angustiada, inquieta, não parava de olhar para a rua, à espera do pobre homem, que ao chegar, foi recebido com a pergunta a queima roupa: "QUEM É ESTA TAL DE CARMINHA ? ficou sem entender nada, antes de qualquer explicação, vinham as acusações, "eu sabia, tinha certeza que tinha outra" olha aqui a prova! e balançou o telegrama, leia!

Leu e não entendeu, sei lá quem é esta tal de Carminha, e muito menos quem é Pitinga! Vamos falar com Julio da Mata, e seguiram os dois juntos e foram logo pedindo explicação: Julio, de quem é este telegrama?
- é para o senhor
- mas quem mandou?
- veja o que está escrito aí.
- leram quase que em uníssono
- não é nada disso não! não sabem ler? vou ler para vocês.

CAMINHÃO, VIAJA AMANHÃ PARA CAICÓ
ASSINA: PITANGA

Pitanga era proprietário de um caminhão e transportava o algodão comprado, pelo Sr. Lauro.
O SR. Julio da Mata, além do pouco estudo, tinha uma letra péssima, gerando todo o transtorno, já que escrevera, exatamente o que a bondosa, dona Milica, havia lido.

O nobre casal, viveu por muitos anos, e foram felizes, até que a morte os separou, e de sua decendência tem um bocado, de gente boa espalhda pelo o Brasil, inclusive um neto padre, que do meu conhecimento, é o primeiro filho de José da Penha, a ter vida eclesiástica.



sexta-feira, 5 de outubro de 2012

O PRIMEIRO ALCÁIDE

Conhecido como MATA, e fazendo parte do município de Luiz Gomes, foi emancipado políticamente em 31 de Dezembro de 1958, com o nome de cidade de JOSÉ DA PENHA.

Para muitos, a troca do nome, foi um alívio, pois existia uma versão, que Frei Damião, havia se sentido ofendido pelo povo da cidade, e diante do alto índice de violência que imperava na região, naquela época, teria dito: És MATA e MATA nunca deixará de ser.

Coincidência ou não, hoje é uma cidade pacata e de uma gente muito acolhedora.

Nosso primeiro prefeito, foi o Sr. Osório Estevão, homem simples, que vivia da agropecuária, em que tudo nele, era superlativo.

- Super bondoso
- Super simpático
- Super educado
- Super amigo
- Super pai e esposo

Município novo, pouco dinheiro, pouca força política, pois contava aproximadamente, com apenas 700 eleitores, era um verdadeiro desafio administrar.

Não podendo fazer obras expressivas, inteligentemente, optou por servir e atender o seu povo, o que fazia com muita presteza e paciência, tornando-se um verdadeiro pai da população da cidade, atendendo cada um, dentro das suas necessidades e da disponibilidade da prefeitura.

Dotou a prefeitura de transporte, primeiro um jeep bege, depois uma rural e uma kombi, que vivia a levar pessoas doentes, para serem atendidas, aonde houvesse meios, em um vai e vem, quase que constante.

Sua casa, sempre cheia, contava com a delicadeza e presteza de sua esposa, e filhas, Neuza, Bibia (in memorian) e Vanzinha, além do filho Didi (Edilson), espécie de secretário permanente, que mais tarde, foi candidato a prefeito, não logrando exito. E haja café a ser servido!

Registro que, seu Osório, antes de ser prefeito, perdeu um filho, Clóvis, vítima de mãos assassinas, e que embora a família, sofresse muito, nunca alimentou o sentimento vil da vingança.

Compadre dos meus pais, em minha casa, gozava do respeito e admiração, e até hoje, minha mãe aos 83 anos de idade, ainda comenta, ter sido compadre Osório, um dos melhore e mais bondosos homens que conheceu na vida.

Lembro perfeitamente, do seu tipo bonachão, jeito manso, sempre a sorrir, e de uma palavra que gostava muito de empregar: isto é um colapso!

Vez por outra promovia jantares em sua casa, para amigos e lideranças, e eu sempre me fazia presente, acompanhado pelos meus pais.

A cidade de José da Penha, tem muito agradecer, a este homem dígno!

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

SÃO FRANCISCO DE ASSIS, MEU SANTO PADROEIRO II

Um dos pontos marcante da festa, era o foguetório, que embora pobre, comparado com os de Santo Antonio na vizinha cidade de Marcelino Vieira, onde, tinha roda, telegrama e balões, encantava as crianças, com rojões, fogos de lágrimas e bateria de bombas.
Meu pai, sempre preocupado com o enorme estoque de algodão, nos depositos da usina, orientava e praticamente fiscalizava a soltura dos fogos, para o sentido contrário dos depósitos, para evitar um incêndio que certamente consumiria o quateirão todo.
Em uma bateria de bombas, colocada a frente da igreja, vi um terrível acidente com um amigo de infância, Assis, filho de um ferreiro da cidade. A bateria, concistia em um cordão pavio, amarrado em dois paus distantes, um do outro, como um varal de roupas, e penduradas várias e poderosas bombas,, a medida que o estopim queimava, iam caindo uma a uma  ao chão e estourando.
Assis, a exemplo de todos os meninos, estava a uma distância segura, e terminada a bateria correu para pegar uma das primeiras bombas que caíra, e que não havia estourado, quando de repente...bummmm. As víceras exposta, e quase todos os dedos da mão direita, e algumas falanges da esquerda arrancados, que saltava no chão, tal qual rabo de lagartixa, quando partido. Conduzido para Mossoró, obteve cura, e foi um dos amigos muitos ativos, que embora com dificuldade, usava até a baladeira, cujo gancho, prendia com os cotos dos dedos.
Nada era proibido, as crianças participavam de jogos de azar, argolas e tiro ao alvo, desde que tivesse dinheiro para tal.
Mas o parque, ah! o parque!... este sim, era o grande sucesso  da gurizada e jovens, a balançar nas canoas, cuja façanha, era encostar no pau central, carrossel mexico, que voava alto e rápido e os brinquedos mais lentos para os pequenos.
No mais, era encher a barriga de guloseimas: alfinins, em forma de bichinhos, suco de groselha, pirulito de tábua, algodão doce, pipoca, e manzapo, bolo de milho melado, feito com rapadura, coco e muitas especiárias, que nunca mais tive o prazer de comer, e que gostaria muito de encontrar a receita.
Compra brinquedos, como roi-roi, malabarista, avião, empurrado por uma vareta e feito de pinhão e para as meninas, móveis, feito de arame e linha de lã colorida.
No final dos anos 90, fui uma festa de São Francisco, que teve roda e telegrama, mas sem o glamour de antigamente.
VIVA! SÃO FRANCISCO DE HOJE! E MUITOS VIVAS PARA O MEU SÃO FRANCISCO, DOS TEMPOS DE CRIANÇA! VIVA, VIVA, VIVA!...
SÃO FRANCISCO DE ASSIS, MEU SANTO PADROEIRO

A festa do padroeiro, era o momento mais aguardado do ano, por todas as faixas etárias dos moradores da cidade, que se preparavam o ano todo, para o novenário e o grande dia do baile.
Gente pobre, que economizava, o seu pouco dinheirinho, para comprar, a roupa da festa, que geralmente, era a unica que conseguia comprar, o ano todinho, e seria usada também, no Natal, Ano Novo e em qualquer outra ocasião festiva.
Ao aproximar-se o evento, minha mãe virava consultora de moda, e compradora oficial de quase todos os sapatos e tecidos das moças da cidade. As revista O CRUZEIRO, da qual meu pai era assinante, eram folheadas sofregamente, a procura de modelos e inspiração para o vestido.
Durante o novenário, era grande a movimentação de moças, rapazes e crianças, que terminada a novena, prolongavam um pouco o horário de dormir, na paquera e brincadeiras, enquanto que os casais, formavam rodas de bate papo no patamar da igreja.
Durante o dia, o comércio, tinha um movimento bem maior, aonde todos ganhavam, desde o engraxate, Sr. Antonio Soares, vulgarmente conhecido por Antonio Macaco, até as banquinhas de bugingangas, doceiras, aviamentos, e joias.
Nas ultimas noites, as barracas e leilão, que culminava com o baile de gala, do grande dia!
Para aumentar a participação e disputa, eram criados os partidos, representandos por sua rainha, cuja vencedora, seria aquela que conseguisse arrecardar mais. De nomes vermelho, e azul ou borboleta e beija-flor, saiam a pedir prendas para os leilões e colocar fitinha identificadora da torcida, com alfinete, em lapelas de camisas, dos doadores.
A cidade ganhava um grande numero de visitantes: filhos ausentes, parentes, devotos e pequenos mercadores, que traziam muitas novidades, para a alegria de todos.
As esposas e filhos menores dos sitiantes, que dificilmente vinham à cidade, felizes e admirados com tantas novidades, não perdiam a oportunidade de registrar a ocasião, tirando foto com o lambe-lambe, com o pano de fundo, com a imagem de São Francisco de Assis.
A presença da banda de musica, a tocar a alvorada, as novenas e o baile, chamava à atenção de todos, e muitos saiam a acompanhar o seu percurso, da sede improvisada, até a igreja. Meu pai, era um destes, ficava abobalhado com a banda, parecia uma criança.
Era motivo de de muito orgulho hospedar um musico na sua casa, mas tinha aquelas casas que hospedavam vários: André Leite, Osório Estevão e a nossa. Durante os leilões, como forma de agradecimento, arrematavam prendas, bebidas e tira gosto, para os musicos.
A minha festa inesquecível, foi quando ficando rapaizinho, fomos uma turma, pedir prenda nos sítios, e iniciei a minha primeira paquera, com Gracinha, filha do casal amigo, Vicente e Mundica.
HOJE, 04 DE OUTUBRO, VIVA SÃO FRANCISCO!
DINHEIRO DE BRINQUEDO

Era muito comum, ver as crianças da cidade a olhar para o chão, a procura de maços de cigarros vazios, que seriam abertos cuidadosamente, dando um sentido longitudinal, e dobrados nas arestas laterais, de maneital tal, que mostrasse apenas a parte central, litografada.
 Estava pronto o dinheiro, que tinha o tamanho aproximado de uma cédula verdadeira, e era drobrado e muitas vêzes acondicionados em carteiras de cédulas, geralmente descartadas, pelos pais, por já não mais servir.
O valor do dinheiro, acompanhava o das notas verdadeiras em circulação, e eram determinados pelo valor e consumo dos cigarros, que davam a importância e raridade do dinheiro de brinquedo.
Os cigarros mais consumidos, dado a sua abundância, representava o dinheiro de menor valor que ía em escala crescente, até o de maior valor.
 ASTÓRIA, YOLANDA, BB, batizavam as notas de cruzeiro de menores valores, CONTINENTAL E HOLLYWOOD, as de valores medianos e a grande estrela, que correspondia a nota de um mil cruzeiros (conhecida, por um Cabral) era do cigarro COLUMBIA, com o seu lindo veleiro branco, de um apelo visual lindíssimo.
Como tinha muitos moradores da cidade, vivendo em São Paulo, Rio, e Brasília, a proximidade de Mossoró que era a cidade polo da região, e vizinha da cidade porto de Areia Branca, conhecida pelo grande volume de contrabando de cigarros, bebidas e perfumes, as vêzes pintavam algumas marcas importadas: CAMEL, CHESTERFIELD, VICEROY, LUCKY STRIKE, que por incrível que pareça, a propaganda, era feita por Papai Noel, fumando, e trazendo nas costas um saco, cheio de maços, surgerindo, que cigarros, era um bom presente.
Ter uma nota das marcas importadas, fazia o dono milinário e dava grande poder de compra, nas negociações, de brinquedos, castanhas, atiradeiras etc. O dinheiro de brinquedo era também usado em apostas das mais diversas: jogo de pinhão, jogo de castanha, sinuca, e até briga de galo.
Em uma época em que cigarros, chegou a ser receitado, como tratamento de algumas doenças pulmonares, pasmem! Surgiram alguns vendidos em farmácia, para o tratamento de asma, como o CIGARRO DE BELADONA. que vindo acondicionado em uma caixinha, não servia para fazer o nosso rico dinheiro, que também dava poder e comprava sonhos.
INFÂNCIA PLENA, DEVERIA DURAR, ATÉ OS 30 ANOS!