VENÂNCIO, O PURO
Era muito comum a figura do agregdo. Pessoas que nasciam, viviam e morriam, em uma determinada fazenda ou no seio de uma família abastada, e trabalhavam a vida toda, sem paga, em troca de moradia, alimento e algumas peças de roupa, geralmente usada, sem nunca sair do lugar.
Muitos eram decendentes de escravos, que após a Lei Áurea, ficaram sem saber o que fazer com a sua liberdade, pois não tendo ofício, a sobrevivência ficaria muito difícil. Continuaram jutos ao seus agora benfeitores, constituiam família, e criavam os filhos, que herdavam sòmente a serventia.
Em muitos casos não miscigenaram, mantendo a pureza da raça africana, Este era o caso de Venâncio,negro muito tosco, com pouco mais de 1,40 M de altura, olhos negros, amendoados e pequenos e lábios muito grossos e virados, chegando na parte inferior a mostrar a mucosa da boca, e de um rosa tão intenso, que parecia estar de batom.
Falava pouco e com muitos erros, tinha um pouco de gagueira, e as palavras quando vinham, pareciam ser jogadas para fora da boca.
Era agregado da fazenda Baipendi, de Antonio Gurjão, sendo responsável por grande parte do trabalho pesado, que lhe deu uma compleição física invejável. O homem era só musculos, apesar da baixa estatura, tipo físico que nós nordestinos, chamamos de "torado no meio" ou "tamborete de forró" ( quando a pessoa e pequena e forte).
Como o sítio era muito próximo da cidade de José da Penha, Venâncio aproveitava as horas vagas, para ganhar algumas pouca moedas, pilando milho ou arroz em algumas casas da cidade, ganhando por "cuia" medida que equivale a 5 litros, e fazia de maneira rápida e eficaz, usando duas mãos de pilão, uma em cada mão, em um rítmo compassado e continuo.
Parava para limpar o arroz, soprando as cascas, deixando só os grãos, ou para peneirar o milho, separando o xerém (quirera) do grão maior, do qual era feito o munguzá.
O fato é, que por sua destreza, não dava de conta, de atender as muitas solicitações, pois dizíam que quebrava poucos grãos, dando qualidade ao produto final.
Muito satisfeito com os poucos trocados, de repente um fato novo, mudou a vida de Venâncio, é que a tecnologia chegou a cidade, em forma de uma "DESPOPADEIRA" de grãos, em cujo prédio, foi aberto um grande letreiro com a grafia errada, "DISCOPADEIRA DE ARROZ E MILHO" que foi agregada a fala local, como correta.
Trabalho muito rápido e barato, reduziu em muito a clientela daquele belo exemplar humano de muita força e técnica apurada, pela repetição de suas tarefas. Restando alguns poucos e fiéis clientes,
que afirmavam que a despopadeira, quebrava muito os grãos, e que Venâncio fazia muito melhor.
Nunca soube a idade de Venâncio, mas calculo que se vivo, tenha em torno de 80 anos.
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