segunda-feira, 24 de setembro de 2012

A CARTA CLONADA

Por mais de 60 anos, morou na casa dos tios Ivo e Lourdes, uma senhora, por nome de TÊ, confesso que até hoje, não sei o seu verdadeiro nome , deduzo que Terezinha. Pequenininha, magra de aspecto muito frágil, era uma verdadeira fortaleza na coragem e força para trabalhar.
Ajudou a tia Loudes a criar os filhos, impunha respeito e controle, foi muita amada por todos, até sua partida, muito recente.
Era irmã de Nonato Preto, muito querido compadre do meu pai, e tinha dois filhos: Francisco e José Gomes da Silva, popularmente conhecido como, "ZÉ GOBIRA" que foi criado na casa dos tios, como filho, irmão e nosso primo.
Baixo, um pouco gordinho, andar ligeiro e rasteiro, era uma destas pessoas que parecia eternamente feliz, com um riso sempre franco e jeito engraçado. Muito conhecido na cidade, falava com todos e cativava pela sua simpatia. Vivia assoviando, o que fazia com maestria, parecia um instrumento musical.
Querendo sempre agradar, não tinha opiniões firmes, se chegasse dizendo que determinada coisa é pedra, e você retrucasse, imediatamente dizia: é mesmo né, não é não, e isto que você diz
Durante uma das férias que passei em Patu, já ficando rapaz, passei a dormir na fábrica de calçados do Sr. Elpídio Lopes, que à noite, virava republica, para os funcionários solteiros e amigos, inclusive Zé Gobira.
Em uma festa na cidade, arranjou uma namorada, que morava na cidade vizinha de Almino Afonso, distante aproximadamente 40KM de Patu. Era muito comum nesta época, nascer e morrer, sem nunca ter saido de sua cidade, não existia linhas de transportes, sòmente carros fretados. Se bem qua a região era atendida por linha ferrea, ligando várias cidades, duas a três vêzes por semana.
Combinaram trocar correspondência, e embora alfabetizado, sua caligrafia não era muito boa, e ditou a sua primeira carta para ser escrita, por sua irmã de criação, Noélia. Posta no correios, ficou ansioso a espera da resposta, que mesmo entre cidades próximas, demoravam muito a ser entregues.
Certo dia, entreou em casa correndo, balançando um envelope, que foi rapidamente rasgado e começou a ler em voz alta e a comentar.

MEU GRANDE AMOR RITA ( coitadinha, tava tão aperriada, que ao invés de colocar o meu nome,  colocou o dela)

O motivo desta é dar minhas notícias e saber as suas (espía, escreveu a mesma coisa que eu)

Estou com muitas saudades, desde que você voltou, que passo as noites pensando em você ( ah, coitada! não sabe fazer carta, tudo que eu disse, ela diz também)

Continuou lendo e fazendo comentários a cada paragráfo, até o desfecho final.

COM MUITO AMOR E CARINHO
BEIJO!
Gobira ( agora endoidou de vêz, ao invés de assinar o nome dela, assinou o meu)

Foi aí que Noélia que estava ouvindo a leitura, achando muito estranho, pediu: deixa eu ver, mas esta é minha letra!
A CARTA HAVIA SIDO DEVOLVIDA, COM A OBSERVAÇÃO DE ENDEREÇO NÃO EXISTENTE.


sábado, 22 de setembro de 2012

CADA TÁBUA QUE CAIA, DOÍA NO CORAÇÃO...


Fui testemunha de um fato muito triste, deste tipo  que dá diploma a insensibilidade  humana.

Existia em Marcelino Vieira, um lindo e grande sobrado, pertencente ao meu avô, José Marcelino de Oliveira ( que tinha o título de coronel), e que era sem dúvida, o prédio mais imponente da cidade, ficando em uma esquina no centro, ao lado do mercado publico.
Na lateral esquerda, tinha uma área livre, que fazia parte da casa de sua propriedade, em que morava, tio Tarcízio.

Em um tempo em que não existia cimento e não se fazia uso de concreto e ferro, para dar sustentação as paredes, usava-se apenas a cal, misturada com barro, e se fazia necessário que qualquer construção que tivesse mais de um andar, tivesse paredes dupla.

Os tijolos tinham tamanho descomunal, e alinhados duplamente, davam as paredes uma largura de pelo menos 50 cm. e os vãos de portas e janelas, tinham como sustentação das paredes que continuariam a subir, vigas de miolo de aroeira, que tinham resistência comparada com o ferro.

Composto por vão terreo, primeiro andar, e um sotão, que seria o segundo andar, só que de proporções bem menor, pois ocupava apenas a parte central, aonde a cumieira era mais alta, acompanhando a grande queda em duas águas.
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O piso entre os andares, era de madeira de lei, e quando caminháva-mos, mais parecia um trotar de cavalos.

Muitas vêzes subi até o sotão, repleto de andorinhas , que cuidavam de seus ninhos, e de  morcegos que o tornaram o seu habitat. Sempre acompanhado de muitos meninos e principalmente do meu primo Gilberto, todos empunhando suas espadas de madeira, e morrendo de medo, mas dispostos a defender o seu castelo.

Com a emanicipação política de Marcelino Vieira, que era município até então de Pau dos Ferros, precisava de um lugar para ser a prefeitura da cidade, que fosse o mais central, e a escolha recaiu, sobre o nosso lindo sobrado.

Nada mais natural, que preservar a linha arquitetónica daquele patrimonio histórico, mas a insanidade humana, preferiu destruir, tombando literalmente o sobrado para dar lugar ao monstrego, que é até hoje a prefeitura da cidade.

Ano de 1953, eu tinha apenas 4 anos de idade, nas lembro da vibraçaõ do publico a cada lance de parede que vinham ao chão. Depois de destelhado, cavavam fendas nas paredes, por onde amarravam grossas cordas e dezenas de homens puxavam, provocando som de trovão, quando caiam.

Hoje o meu maravilhoso castelo, vive apenas nas lembranças do menino, que nunca deixei de ser.

Aquilo que leva mêses para ser construido, precisa de poucos minutos, para ser destruido.

Este é o instinto animal do homem...

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

TIO TOINHO MARCELINO

Quando estava de férias em Marcelino Vieira, muitas vêzes ia passar alguns dias, na fazenda Várzea Grande, do meu tio Toinho e tia Alaíde, sua esposa.
Homem, muito, forte, de mãos calejadas pela lida, era quase incansável, e um dos poucos entre os muitos filhos de meu avô, que herdou o gosto pela criação e agricultura, sabendo fazer proveito de tudo, acho até que foi  um  dos primeiros a reciclar, intuitivamente.
Lembro que ainda pequeno, vi em um armazém que tinha ao lado da casa, um girau (prancha de madeira, presa por arame, entre o telhado e o solo, na parte mais alta) com vários quadrados escuros, do tamanho de uma lata de 18 litros, e perguntei o que era aquilo? respondeu-me: meu filho, é sabão, quando abato uma rês, para consumo da casa e moradores da fazenda, aproveitamos o sebo, para fazer sabão.
Tudo que precisavam, tiravam da terra, estacas e varas para cerca, lenha para cozinhar, fabrico de tijolos e telhas para construção, e quase a totalidade dos alimentos.
Sua luta, começava antes do sol nascer e ia até o ocaso, terra rica, muitas fruteiras, os mais diversos animais: boi, ovinos, galináceos etc. para alimentar, dar água e fazer manejo.
Homem muito bonito, chamava à atenção, pela musculatura, pernas grossas de fazer inveja a muitas mulheres e principalmente pela mansidão e bondade. Falava baixo e pausadamente, sendo um anfritião exageradamente cortez, marca registrada da família.
Tio Toinho se multiplicara, pois tia Alaíde, e as filhas Zenáide (in memorian), Zeneide e Zuleide, eram exatamente iguais, atarefadas pelas muitas obrigações que faziam questão de assumir, apesar das muitas ajudantes que apareciam na casa.
Tudo era exagerado, aproveitavam as frutas da época e desmanchavam uma saca de açucar em doce de goiaba, outra de doce de caju, e ainda a rapa da gamela do engenho, que eram acondicionadas em potes de barro de 100 litros. Em giraus, acondicionavam queijos de qualho, de manteiga, manteiga de garrafa, gerimuns, em quantidade muito grande, parecia até que estavam se preparando para uma grande estiagem.
Nunca um irmão ou amigo, saiu de sua casa de mãos vazias, tia Alaíde, podia ter 200 kgs. de queijo, sempre achava que era pouco, pois seu coração era de partilha.
Após os deliciosos almoços, era comum ver as meninas, fazendo trabalhos manuais, todas moças lindas e casaidoras, eram prendas raras, tanto que foram verdadeiras fortalezas para os seus maridos.
Seu unico filho homem, Deinho, era meu ídolo, havia estudado na casa de meus pais, quando eu tinha aproximadamente 2 anos, e tinha por mim um grande afeto. Morava fora e quando em férias, brincava muito, jogava bola e acompanhava-me mas caçadas.
Certa vez, fomos eu e Junior de tio Ivo, ao mesmo tempo para  várzea grande, e Deinho, tanto brincava, quanto provocava, rivalidade entre nós, só para se devertir.
Sua mãe nos achava muito parecidos, e todas as vêzes que ia a sua casa invariávelmente comentava: quando o vejo, é mesmo que ver Deinho.
Tendo Zuleide, casado com um primo, e a de perfil mais parecido com a mãe, assumiu a propiedade, enquanto tio Toinho e tia Alaíde, foram gerenciar a mais importante fazenda da região "João Gomes",
conhecida pela sua imponente casa.
Formavam um casal muito unido e feliz, e impressionante e que pareciam sempre ter um mesmo objetivo, sem que ouvesse nenhuma combinação, eram realmente almas gêmeas!
Com a partida repentina de tia Alaíde, viveu muitos anos de saudade, apesar da grande assistência que recebia dos filhos e netos
Morreu, este ano com 97 anos de idade.
Lembranças inesquecíveis!


OLHA O PASSARINHO!

O Sr. Zéu, era mais um dos compadres de papai, homem muito honrado, trabalhador e pai de vários filhos, que sustentava com um certo conforto, fruto das atividades de agropecaurista e entermediação de pequenos negócios. Sendo que o meu pai, comprou a casa em que morava, quando este resolveu mudar.

Um dos seus filhos mais velhos, foi morar em São Paulo, a procura de melhores condições de trabalho e seguindo a rota natural de quase todos os jovens da cidade, após completar maior idade.
Alguns íam para o Rio de Janeiro, e muitos foram para Brasília, durante a construção da cidade, recebendo o nome de candango!

Após a partida do filho, o casal Zéu, tiveram um filho temporão, que era muito mimado pelas muitas irmãs, e recebeu o apelídio de "COCA". Comunicado por correspondência e por amigos e familiares que chegavam a SP, onde formavam uma grande comunidade, em que a chegada de um novo membro, era a maneira mais eficiente de receber cartas e noticias dos familiares, já que os correios, era de uma ineficiência a toda prova.

Desejoso de conhecer o novo irmão, mandou uma carta, em que em um dos parágrafos pedia: "MAMÃE, TIRE UM RETRATO DE COCA, E MANDE"

Querendo atender prontamente o desejo do filho amado, no sábado seguinte, dia em que o lambe-lambe, vinha para a cidade, para aproveitar a feira, já que sua profissão era intinerante, presente nas feiras das diversas cidades da região, uma a cada dia. Vestiu o seu melhor vestido, e saiu, toda faceira e altiva, para cumprir a missão.

Foi com grande espanto que alguns transeuntes e obervadores costumazes, que ficavam espreitando cada pessoa que vinha ser fotografada, viram aquela respeitada senhora, postar-se diante do pano florido, feito com colcha de cama, que servia de fundo, para a fotografia, ficar de "CÓCORAS", com o vestido entre as pernas, forçar um lindo sorriso e deixar-se fotografar.
MILAGRE DE SÃO FRANCISCO


Um compadre de papai, que vivia em um pequeno mas produtivo sítio, foi vítima de um tiro de revólver, que atingiu a espinha dorsal, deixando-o paraplégico.
Como tinha uma situação econômica razoável, tentou todos os meios possíveis, consultando com  os médicos da região, nas mais diversas cidades, do RN e da PB, e diante de um prognóstico,
sempre negativo, partiu para centros maiores, a ponto de quase esaurir os recursos.
Homem de muita fé, desistiu dos médicos e passou à afirmar veementemente que a sua cura estava próxima, pois fizera uma promessa para SÃO FRANCISCO DO CANINDÉ, e que iría, no primeiro pau-de-arara que partisse da região, para paga-la, e voltaria andando, pronto para retomar o seu trabalho na fazenda, pois doia muito ter que fazer tudo, através de outro.
Geralmente a partida de romeiros da região para visita, feitura e pagamento de promessas, ocorria durante os festejos do santo, cujo novenário tinha início no final de setembro, e ía até o dia 4 de Outubro, com a procissão de encerramento.
Chegado o grande dia, foi colocada uma cama, junto a lateral de uma das grades de proteção, a um nível um pouco mais baixo, de maneira tal, que êle pudesse apreciar a paisagem e se por uma acaso, visse a ter ansia de vômito, ser um facilitador.
Acompanhado de alguns familíares, contou com a colaboração de todos, que ignoravam o momento de suas necessidades fisiólogicas, e ajudavam a retira-lo, quando se fazia necessário.
Estradas praticamente intransitáveis, era necessário dois dias para pecorrer os mais de 500 KM, com pequenas paradas, pois todos os passageiros, levavam, o que chamavam de farnel. Comida pronta, geralmente carne de sol ou galinha assada, com farinha e rapadura, além de frutas, biscoitos, bolos etc.
Chegando em Canindé, foram em romaria para a igreja de São Francisco, tomando parte de missas, orações, novenas, confições e visitas, principalmente a casa dos milagres, aonde existiam milhares de fotos, documentos e esculturas, como registro dos milagres alcançados.
Cumprida toda a agenda e já de volta, alguns até casoavam do probre homem, perguntando: Cadê, você não disse que ia voltar andando, que o santo iria cura-lo?
Pacientemente, êle respondia: "ainda não chegamos"
A posteação de energia elétrica de Mossoró de antigamente, era de ferro, e colocada no centro da rua, dividindo estas ao meio. Postes de pouca altura e fixados ao chão, por uma grande bola de ferro, que eram enterradas e fixadas com cimento até a metade.
Toda a iluminação da cidade, havia sido trocada rescentemente, por postes de concreto, e colocado em uma das laterais da rua, como pedia a modernidade. Alguns postes de ferros, de que ficavam em cruzamentos, foram cerrados, bem rente a bola de ferro, de maneira que esta ficasse, como uma espécie de marco, para ser contornado, funcionando como um balão.
Uma destas bolas, ficava em frente ao mercado publico, dividindo a Rua Cel. Gurgel, e a Av. Augusto Severo.
O motorista do pau-de-arara, vinha um pouco ligeiro e ao fazer a curva, o pneu traseiro, passou por cima da bola de ferro, provocando um grande catabílio (solavanco), jogando o coitado do homem ao solo. Gritaria geral, clamor dos famíliares, todos crendo que êle havia morrido, quando para grande surpresa, eis que se levanta sozinho, bate a terra dos fundilhos e sai caminhando.
Os limitados exames da época, não revelavam que a bala apenas comprimia a medula, e que esta, estava totalmente preservada. Com a queda, houve um deslocamente do projétil, descomprimindo a medula, e tal quanto êle acreditava, voltou para casa andando.
A FÉ REMOVE MONTANHAS, E BALA TAMBÉM!!!

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

AS COBIÇADAS, " ESTAMPAS EUCALOL"

Logo após a primeira grande guerra mundial, os irmãos de origem alemã, Paulo e Ricardo Stern, fundaram uma industria de perfumaria, no Rio de Janeiro, que recebeu o nome de PERFUMARIA MYRTA S.A. passando a fabricar o sabonete EUCALOL, que  mais tarde, teve a família aumentada com o creme dental e o talco.
Com três fragâncias, uma delas era de eucalípto (verde, existindo ainda o rosa e o branco), dando origem a marca. Odor característico, mais parecia ao dos desinfetantes de hoje, o que fez com que o produto tivesse uma grande rejeição.
Tentando alavancar as vendas, fizeram um concurso de poemas, sendo o vencedor o Sr.Fernando Reis - Rio.
                            
                                                          Banho, para uns, é de sol
                                                          outros de mar o preferem
                                                          uns, banho de igreja querem
                                                          mas eu cá logo me assanho
                                                          se penso em tomar um banho
                                                          com sabonete EUCALOL

O mercado, era totalmente dominado pelo sabonete LUXO, cujo slogan era: "O preferido de nove, entre cada dez estrelas do cinema" e trazia impresso em sua embalagem, fotos das grandes divas do cinema americano, Greta Garbo, Ava Garner, Marlene Dietrich, Catharine Repburn, Lauren Bacall, entre tantas outras.

Existia na europa, umas estampas de muito sucesso, LIEBIG, e os irmãos Stern, aproveitando a idéia, resolveram copiar. O sucesso foi imediato, despertando interesse de crianças e adultos, e em .consequência a multiplicação das vendas, da marca Eucalol.

Cada embalagem, vinha quatro estampas, em formato e concistência de carta de baralho, com os mais variados temas: Uniformes militares do Brasil, Tribos Indígenas, Folclore, Bandeiras, Compositores celebres, Aves do Brasil, Cachoeiras do Brasil, Produtos do Brsil, Episódiso da história do Brasil, Mitologia, Escotismo, sendo esta a ultima coleção, que no geral somavam, mais de 2.400 estampas.
No verso de cada estampa, existia um comentário, sobre a ilustração

Tal qual os albuns de figurinhas que foram sucesso nos anos 60, (futebol, jovem guarda etc), as estampas eucalol, passaram a ser objeto de trocas , e até mesmo moeda, entre crianças e adultos, sendo que as consideradas mais difícies, tinha seu valor muito elevado.

No meio em que vivia, cidades pequenas, e população na maioria analfabeta, alguns não dava o menor valor, mas entraram na onda do sabonete eucalol, que atingiu um grau tão alto de massificação, que a fábrica fez várias expansões.

Eu vivia no balcão das merciarias e muito especialmente na do meu avó, a espreita de quem comprava o sabonete ou creme dental eucalol, para pedir as estampas, que para minha alegria, era muito frequente, recebe-las.

Durante mais de uma década, EUCALOL, esteve no auge, sendo os dos maiores patrocinadores do rádio e da TV, que dava os primeiros passos no Brasil,  porém sofreu pesada concorrência das marcas internacionais, vindo a encerrar suas atividades.

O grande compositor Xangai, que viveu a euforia das ESTAMPAS EUCALOL, fez uma musica com este tema, que é muito linda !

Tempos de criança!



sábado, 15 de setembro de 2012

TIOS TARCÍZIO  E TIA EVILÁSIA


Moravam na casa grande da cidade, que pertencera aos meus avós, em Marcelino Vieira, que era para dar guarida aos 10 filhos, muitos sobrinhos e quem mais chegasse. Da sala para a cozinha era quase uma caminhada, cômodos espaçosos e quase desprovido de mobiliário, mas com tudo que era necessário, principalmente calor humano e acolhida.
Tinha uma pequena criação de gado, que fornecia leite franco para todos, a venda de um animal, nos momentos de aperto e complementava a renda com um jeep e mais tarde uma veraneio que pegava fretes e fazia viagens fretada. Esta profissão era mais a seu feitío, pois gostava de conversar e conhecer novos lugares e pessoas.
Com visão futurista, encaminhou os filhos para estudar em centros maiores, apesar do grande sacrifícios que fazia para mante-los, contando com ajuda de alguns irmãos que os recebiam em suas casas, e a medida que iam crescendo partiam para morar na casa dos estudantes, abrindo vaga para os outros.
Seu grande sacrifício, foi recompensado, e hoje sua grande prole, vivem em melhores e até excepcionais condições. Faço questão de destacar a humidade e aceitação de seus filhos que tinham o mínimo, mas nunca reclamaram, muito pelo contrário, fizeram força para vencer. Vi poucas pessoas estudiosa como José Ilo.
Lembro que todas as vêzes que vinha a Mossoró, deixava um dinheirinho para seus filhos José Ilo e Lisboa, e também um pouco para mim.
Tia Evilázia, era de uma simplicidade e de uma mansidão tão grande, que as palavras quase que susurradas, saiam devagar e pareciam esticadas.
Comidinha muito simples e pouco variada, mas de um tempero delicioso, com aquele gostinho que só panela de barro em fogão a lenha, consegue dar.
Passava o dia ocupada nos afazeres domésticos, e a costurar roupas para os de casa.
Mais tarde mudaram para Mossoró, e o destino lhes impôs, golpes duríssimos, perdendo sua filha mais velha, Socorrinha, que era o grande estéio da casa, resolvendo tudo e participando das despesas, vindo a falecer de toxoplasmose gravídica.
Antes disto, já haviam perdido o filho Gilberto em um acidente de moto, durante a copa do mundo de 1974, que vivia na casa de Tio Ivo, como estudante.
Para completar a tragédia, seu filho Chichico, ainda menor de idade, foi assassinado por um amigo covarde, que ceifou sua vida, sem nenhuma chance.
Impressionava a conformação dos tios, cujos lamentos não passavam de sussurros e a dor embora visível era contida, com a fé que Deus estava a cuidar deles.
No enterro de Chichico, estava com tio Tarcízio, quando um membro de nossa família, disse que estava só esperando a ordem dele para fazer a vingança, e diante da negativa deste, disse: não me conformo em ver o sangue de uma familiar, ser derramado impunemente, começo pelo pai dele e êle vai aparecer.
O tio retrucou de imediato, não faça isto! o pai deste garoto, é meu amigo e além do mais, não vai trazer, meu filho de volta, o que está feito, está feito...
A tia Evilásia adoeceu gravemente, ficando enferma e sem mobilidade, por mais de 3 anos, não falava, não tinha movimentos, e alimentáva-se por sonda. Dependia de cuidados permanente em tempo integral de enfermeiras cuidadoras, sob o comando incansável de sua filha Gerusa, que praticamente abondonou sua casa, para dedicar-se a mãe. Não esquecendo da preciosa ajuda de Tarcizinho, que enquanto os pais foram vivos, permaneceu solteiro.
Sempre, limpa, cheirosa, e pasmem! sem uma escara sequer, pesava pouco mais de 30 kg, mas tinha um semblante tão sereno que mais parecia um anjo!
Pouco tempo depois, tio Tarcízio, começou a apresentar lapso de memória, e também ficou prostado, e mais uma vez Gerusa e Tarcizinho se superaram nos cuidados. Assim como fiz com a tia, fui muitas vêzes visita-lo e ficávamos cantando as musicas de Luiz Gonzaga e Nelson Gonçalves, que êle tanto gostava. Ficava pedindo musicas, mas nunca fechava a frase, então cantava qualquer uma e dava certo.
Apesar de ser um pouco hipocondríaco, tinha um espírito brincalhão, e gostava muito de fazer pequenas gozações com a tia Evilázia, sem nunca no entanto, conseguir tira-la do sério.
Viveram harmoniosamente, por mais de 50 anos, provando para todos, que a verdadeira riqueza está no amor e paz de espírito.
Eu sempre amei muito meu tio Tarcízio, mas foi quase no final de sua vida que eu tive a prova inconteste que a recíproca era verdadeira. Quando passei a conviver com Fabiana, um dia de domingo, êle chegou em minha casa, juntamente com Tarcizinho, e ao ser apresentado a ela, disse: vim conhece-la, dar meus parabéns e dizer: "Este é um menino de ouro, conheço desde pequenininho, e nunca vi um mau feito, cuide bem dele".
SALVE!

TEM CERTOS DIAS, EM QUE LEMBRO DE MINHA GENTE...

Conhecia e andava em todas as casas de José da Penha, que até hoje, tem predominância das famílias Leite e Fontes.
Respeitáveis cidadões, quase todos compadres de meu pai, a maioria pequenos agropecuarista ou comerciantes, Elísio Rodrigues, Eusébio Libânio, Osório Estevão, André Leite, Raimundo Lacerda, Evaristo Fontes, Fernando, Antonio Bessa, Antonio Leite, Chichico, Lauro Borges, Sandoval, Edmilson, Zeca Fontes, Lourival Fontes, Manduca Leite, Souza, Higino Borges, Pedro Fontes, Manoel Soares, Zé Maia, Chiquinho, Luizinho, Abdoral Fontes, Dárcio, Antonio Bizé, Cícero Macaco, Segundo, Julio Fontes e muitos outros.

No entanto, as casa que eu mais gostava de ir, era de gente muito humilde, de pobreza franciscana, mas de acolhida de rei.

-José Jascinto e Birica, eram nossos vizinhos, quando meu pai comprou a nossa casa, tinha a nos separar, apenas um pequeno armazém. Êle era um trabalhador permanente da usina, de grande confiança, e sem vícios, e ela lavava a roupa de nossa casa. Quando era na entre safra, cuidava da limpeza dos armazéns, plantava no pequeno terreno em frente a nossas casas, batia e queimava tijolos.
Toda tarde, quando o café da casa deles cheirava, eu corria para lá, era delicioso. Gostava muito de conversar com êle e ficava horas ao seu lado, enquanto trabalhava.
Tinham um unico filho homem, Gentil, moço muito bonito, que trabalhava na máquina de descaroçar algodão, considerada a mais perigosa da usina, que já havia feito uma vítima fatal, um soldado de polícia que prestava serviço nas horas de ociosidade, e que veio a vitimar também, Gentil, engulindo seu braço até praticamente a altura do ombro. Perdemos um jovem em plena juventude, que tinha o assovio mais bonito que conheci, quando vinha para casa de longe se ouvia. 

-Chico Aureliano, moreno alto e forte, de olhos muito azuis, que o tornava, um dos homens mais bonitos da cidade. Quando chegava a sua casa, sua esposa corria para fazer pipocas, de uma maneira que só vi lá. Colocava o milho em uma panela de barro, que estava até a metade com areia de rio, bem fininha e alva, quando a areia aquecia, começava o pipocar, e o que era impressionante, e que não sujava a pipoca, e não tinha uma gota sequer de óleo.
Sòmente êle plantava gergelin, durante o inverno, e vez por outra, era servido "espécie" um excelente doce, feito com gergelin, rapadura e especiarias.
Fumava cachimbo, com fumo arapiraca, muito forte e de cheiro pouco agradável.
Durante um periodo, fumei cachimbo, após o jantar, e tinha um para cada dia da semana, sempre com fumo de odor agradável, irlandes, holandes etc.
Quando larguei o vício, levei os meus levíssimos cachimbos italianos e o resto de fumo, para Chico,
que não cabia de contentamento, chamando a todos para mostrar.
A ultima vez que o vi, estava em seus ultimos dias, lutando com um câncer de próstata, seus olhos brilhavam e marejavam de emoção, e embora não se levantasse mais, pediu-me um abraço!

-Nonato Preto, (compadre Nonato, para todos nós, já mencionado em um dos episódios de "caso de compadres") Vivia em sua casa, esperando que meus grandes amigos, Toinho e Zezinho, teminassem suas tarefas (colocar água, catar maraváias, rachar lenha etc), para ir brincar.
Quase não tinha o que oferecer, a não ser peixes e caças, principalmente preás que eu recusava, pois temia ser um rato do mato, que êles comiam, muito parecido com o mesmo, que chamavam de punaré.
Usavam misturado ao café, sementes de mata pasto torrada, para que rendessem mais, o que tornava o sabor muito ruim, portanto, nunca tomava café em sua casa.
Compadre Nonato, que fazia todos os meus pedidos, cuidando da limpeza e carregando os cartuchos das nossas espingardas, é uma grata e e eterna lembrança em minha vida, mas também vítima do quadro mais degradante que já vi, imposto a um ser humano, sendo portanto também uma lembrança triste.
Soube através de Zeca de Evaristo, farmacéutico da cidade, que abastecia sua farmácia na distribuidora de remédios que eu era comprador, que o mesmo estava com mal de Parkson, em estado muito avançado, e passei a mandar pelo mesmo, vitaminas, l-dopa e todos os medicamentos que o médico receitava, já que tinha a facilidade de arranjar amostras gratis.
Zeca, me mantinha informado de sua melhora imediata, já que passou a ser tratado, e mais tarde, da piora de seu quadro, pois a doença era progressiva, e os medicamentos apenas retardava um pouco.
Fiquei muito triste, quando soube que a esposa já estava com um namorado dentro de casa, que Toinho e Zezinho, se escontravam em paradeiro desconhecido e que sua filha mais velha, Maria,
também estava com a mesma doença. Então passei a mandar medicamentos para os dois.
Já em um quadro muito avançado, tendo perdido praticamente todo o controle sobre os seus nervos, viajei ao sertão para visita-lo, e não contive as lágrimas quando o vi. Sentada na área da casa que fora de seu pai, estava a mulher, bem vestida, cheirosa, com brincos de ouro e encostada no ombro do namorado, que estava bancando luxo, e em um minúsculo quarto, de aproximadamente 1,30 X 2,00,
Compadre Nonato, totalmente despido, deitado de brusço,  com movimento, sòmente no pescoço, um monte de mangas, espalhado pelo chão, e êle comendo como um porco, com casca e tudo aquelas que conseguia abocanhar.
Ainda sorriu, e demonstrou estar feliz com minha presença, mas de brilho, sómente o dente de ouro, que ainda permanecia lá!

É GENTE HUMILDE, QUE VONTADE DE CHORAR...
GRITANDO PALHAÇO


A chegada de um circo na cidade, era sempre motivo de muita alegria. Montado em frente a nossa casa, no largo entre os fundos da igreja e o pavilhão, para grande alegria de meu pai, que mais parecia um menino, acompanhando toda a montagem, que durava no máximo 2 dias, pois eram circos mambeme, muito pobres e pequenos. Alguns chegavam a dar dó, lonas de tecido fino, e cheia de remendos.
Nossa casa invariávelmente, virava apoio da trupe, que se abastecia de água e algumas vêzes usavam as nossas instalações, o apoio era real e irrestrito. No espetáculo da noite sempre nos citavam e faziam brincadeiras conosco.
Geralmente, tinham uma área para cadeiras, que deviam ser levadas de casa e o chamado puleiro (arquibancadas), com pouca segurança, feita de tábuas velhas e estreitas.
O espetaculo era distribuido em duas partes, sendo uma de variedades e outra de teatro, com encenação de peças curtas e geralmente, muito penosa, fazendos as mulheres chorar.
Normalmente os palhaço eram muito engraçados, com suas tiradas, piadas  e paródias musicais
de duplo sentido.

                       Ô nêga, oi remeche as cadeiras
                       ô nêga, oi prá lá oi prá cá

                       conheço um rapaz velho,
                       que anda doido, pra se casar
                       e ontem, teve a sorte
                       de uma boa moça, arranjar

                      porém tenho certeza,
                      que êle casa hoje, e morre amanhã!
   
                      POR QUE?  (perguntava a partner)

                      Porque velho, não aguenta,
                      o param, pampam, pampam, pampam!

O palhaço sempre dividia o palco, com uma bailarina gorda, que tinha um sinal artificial,feito com lapis de sobrancelhas, na coxa e outro acima do lábio superior.
Cidade muito pobre, eram poucos que podiam pagar ingresso, portanto era necessário que o espetaculo, principalmente o drama, fosse mudado diariamente, como motivação, para voltar.
O meio de divulgação, era o palhaço, que saia no meio da rua, com as pernas de paus a anunciar, através de um megafone a atração da noite. Os meninos da cidade, que não podiam pagar, se aglomeravam diante do circo, esperando a hora que o palhaço ia sair para "gritar o palhaço", ou seja: fazer a animação.
Como tinha um numero definido, os escolhidos, tinham o braço carimbado, e a noite apresentava na portaria para ter entrada franca.

      - Hoje tem espetáculo?
M  - tem, sim senhor
     - as 7 horas da noite?
M  - tem, sim senhor
     - hoje tem palhaçada?
M - tem, sim senhor
     - e o palhaço o que é?
M  - é ladrão de mulher
     - e aremeche o chenhenhem
M  - chenhenhem, chenhenhem (colocava-se as mãos no joelho, e balançava o bumbum, exatamente  como o grupo È O TCHAN, viria a fazer, muitos anos depois).

O grande suplício dos palhaços, era andar de pernas de pau na cidade que é de relevo irregular, e o solo era de pequenos seixos.
Certa feita, gritei o palhaço, mas a festa durou pouco, quando papai me viu, mandou-me para casa lavar o braço, e disse: nós podemos pagar a entrada, você tirou o lugar de uma criança que não pode.
Quando circo partia, nós todos virávamos artistas circense, com sacos de estopa, que existia na usina, montava uma empanada, debaixo de um pé de árvore, trapézio etc. minhas irmãs, Gagaça, Fátima, Cristina e Vânia, eram as bailarinas, e atrizes da peças e os meninos faziam o palhaço, variedades e também atores.
Até que em uma manobra, quebrei o nariz de Marcos, o mais bonito dos meus irmãos, que mesmo ficando um pouco diferente, não perdeu a soberania!
                   

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

ESTUDANDO INTERNO

O primeiro semestre do ano de 1960 e alguns dias do segundo semestre letivo, fui estudante do internato do COLÉGIO DIOCESANO SANTA LUZIA, sendo um dos quatros menores de 14 anos, recebendo cuidados diferenciado e algumas regalias, por parte da direção.
Os outros, eram William (Apodi), Expedito, conhecido por charuto (Alexandria) Adair Vale, o bodinho cheiroso, cujo primo, Otoni, o bode cheiroso, era também interno (Gov. Dix-Sept Rosado).
Exestiam três dormitórios, divididos por faixa etária, sendo que nós quatro, ficávamos em um quarto, vizinho aos quartos em que dormiam, Pe. Sátiro e Pe. Alcir. O de maior numero de internos e onde concentrava os maiores rolos, brigas, furto de merenda etc. era o da faixa de 14 a 18 anos, e por fim o dos maiores de 18 anos.
Embora a disciplina fosse muito rígida, as regras eram quebradas com frequência, no que resultava em severos castigos. Certa vez, descosturaram, o viés vermelho da calça da farda de Otoni (bode cheiroso, alusão ao fato de não gostar de tomar banho, bem, é o que diziam, nunca observei!) enquanto  dormia, amarraram um dos braços na cama, e na outra mão, colocoraram o tamanco de solado de madeira (ainda não existia havainas, que quando surgiu, era sandália japonesa), com o solado voltado para cima, e acenderam um mosquito de fósforo na testa do mesmo.
Quando sentiu a pele queimando, institivamente, levou a mão a testa, com tanta força, que o galo subiu imediatamente.
Em certos periodos do ano, fazia tanto frio a noite, que chegava a formar cerração em volta do colégio, e estre fato, deu-se em uma noite bastante fria! Como não apareceram os culpados, Pe. Sátiro, colocou todos de cueca em frente a sacada do primeiro andar, virada para a quadra, e obrigando de instante em instante, tomar um banho frio. Vi muito neguinho chorando e rogando aos céus.
Otoni e Adair eram os alunos mais aplicados do colégio, e hoje são médicos, o primeiro é de renome em Fortaleza, e o segundo em Mossoró, já tendo sido prefeito de sua terra.
Havia horário cronometrado para tudo: dormir, levantar, tomar banho, capela, café da manhã, aula, almoço, salão de jogos ou repouso, sala de estudos e atividades, recreação, banho, jantar, capela horário livre, dormir.
Saída aos domingos, se tivesse bom comportamento na semana, e notas na média, existindo para isto os bedéis, que apontavam os que podiam ou não sair. O bedéu de minha turma era Aproniano, cara muito legal, que teve morte ainda muito jovem.
O meu seleto e pequeno grupo, era totalmente isolado pelos maiores, que só se aproximava da gente, para fazer maldadades, capilé, tapa na cabeça, cocorote, dedadas e obrigar a fazer mandados.
Lembro apenas de dois dos maiores, que me davam atenção, Miguel Veras, e João Bosco. Em contrapartida eu tinha uma algoz, conhecido por Macau, que não perdia a oportunidade de judiar,  muitas vêzes fazendo-me chorar.
Mas, eis que de repente, mais que de repente, ganhei dois protetores, do tamanho de um armário, os meus primos e irmãos LICURGO NUNES TERCEIRO E LICURGO NUNES QUARTO, que na primeira vez que presenciou Macau, me dar um cocorote, no salão de jogos, quebrou o taco da cinuca na cabeça dêle, e muito bem orientado, passei a dar dedadas, toda vez que Macau passava por mim.
Ganhei respeito, colei nos primos e passei a conviver com os maiores. Adorava as noites de lua cheia, todos deitado na quadra a contar histórias.
Apesar da falta de imaginação das cozinheiras, que dificilmente variavam o feitio dos pratos, principalmente no jantar, que todos os dias era sopa, feita com sobras do almoço, com o mesmo cheiro, sabor e cor, arre! Até hoje não gosto de sopa! Os dias festivos eram comemorados com galinha, e se havia primeira comunhão, o café era feito pelas mães, então, era espetacular!
O meu período de interno, é inesquecível! aprendi a ter disciplina, a conviver com um grande grupo, de realidades e formação diferente, e principalmente a respeitar, para ser respeitado.


quinta-feira, 13 de setembro de 2012

MULÇUMANO,  PLANTADOR DE BATATAS!

A maior mudança da minha vida, aconteceu quando fui cursar o primeiro ano ginasial, ano 1962, aos 12 anos, tudo era novo, muitas matérias, alunos vindos das mais diversas cidades, e pela primeira vez, a turma do seminário, passou a ter aulas no Colégio Diocesano Santa Luzia, no que aumentou em muito o nível de conhecimento e estudo.
Muitos padres, como professores, garantia que o nível do seminário seria mantido, Pe. Alcir (matemática) o mais brincalhão, muito engraçado, Pe. José Nogueira (português) Pe. Sátiro (História) muito admirado e o mais respeitado, Pe. Sales (musica) Pe. José Freire (frances), o terrível, a arrotar vaidade e arrogância no alto dos quase 2 metros de altura.
Neste ano ocorreu uma mudança radical,no colégio, quanto ao controle de frequência dos alunos, além da caderneta de chamada dos professores, tinha uma carteira do aluno, que era recolhida no início da aula e devolvida no final com o carimbo de presença. Caso faltasse, no dia que voltasse a aula, era atualizada com o carimbo de falta, tanto quantos foram os dias ausente.
Na verdade era um controle excelente para os pais.
Na primeira aula de frances, estudamos o verbo SER, na segunda aula, o Pe. José Freire, após a chamada, dirigiu-se ao aluno mais central da primeira fila (Almir de Almeida Castro Jr.) e perguntou, impar ou par? este respondeu, impar! uma, duas meia e já, deu par!
Eu era o numero 2!  Monsieur Antonio Lopes, leia a lição de ontem! Ao le-la, errei, e veio de forma MILITAR, imponente e em alto som o veridicto "ISTO É UMA MENTIRA ENGARRAFADA, SEU MULÇUMANO, VÁ PLANTAR BATATAS!".
Foi uma gargalhada só, e na hora do intervalo, em cada esquina, em cada sala, tinha alguém a gritar: mulçumano, vá plantar batatas! Quando terminou a aula, ao sair do colégio, a coisa tinha tomado uma prorpoção tal, que todos berravam, MULÇUMANO! PLANTADOR DE BATATAS!
Imagine o estrago que fez, em um menino tímido, vindo de uma pequena cidade do interior! Faltei muitos dias de aula, saia de casa, mas não entrava no colégio, se fosse hoje, teria sido um bulling coletivo. Como resultado, não entrava no colégio nas terças e quintas, dias de aula de frances, acumulando 72 faltas no ano, que por si já me reprovavam, e consequentemente o fraco desempenho nas outras matérias que tinhas aulas nestes dias.
Odiei José Freire, por quase toda vida, e o evitava, até que fui fazer o Cursilho da Cristandade, e êle já como bispo de Mossoró, nos visitou. No meu segundo cursilho, trabalhei na copa (turma da pesada), no terceiro, fiz a palestra sobre oração, com êle presente, e após procurou-me e disse ter gostado muito e pergunto de que família eu era, identificando-se com todos os meus paretes.
Quando disse que havia sido seu aluno, imediatamente retrucou: NÂO, conheço todos os meus ex alunos! Respondi, não deu tempo o senhor fixar a minha imagem, contei o episódio do mulçumano plantador de batatas, que teve como resposta uma sonora gargalhada, e o chamamento de alguns irmãos que estavam por perto, para que eu repetisse a história, e mais gargalhadas...
No quarto cursilho, fui escalado para fazer a abertura, com a palestra, " O DOM DA VIDA" confesso que foi o meu ápice de inspiração! Preparei um mega cartaz em forma de sanfona, com uma janela aberta, e debruçado uma linda criança de olhos vivos e amendoados.
A medida que ia abrindo as abas, ia mostrando as formas de vida animal, vegetal, a natureza etc, ou seja, a magnífica criação de DEUS! Permanecia uma janela fechada, que só abri após fazer uma votação secreta, em que cada um devia escrever em um papel, das figura mostradas a que chamára mais à atenção. A criança da abertura venceu por quase unanimidade, então passei a perguntar a alguns presentes, o que a criança passava de especial, e como resposta tivemos muitos qualitativos: serenidade, segurança, meiguice, douçura etc. etc. Então abri a ultima janela, causando um grande impacto, esta criança é este homem, HITLER!
Após a apresentação, foi a pausa para a merenda, e ao sair, fui cercado por muitos, que parabenizavam e terciam elogios sobre a palestras, quando ouvi alguém chamar, Toinho, venha cá! era Dom José Freire, que novamente pediu-me para contar a história do mulçumano plantador de batatas, para gargalhada da platéia. Então eu disse: tem uma segunda parte, a partir daquele dia, passei chamar Dom José de "refresco de fumo com bolo de macambira".
-Êle disse: não entendi!
-Eu, já viu coisa mais ruim!
Causou um certo constrangimento, mais tarde fiquei arrependido, mas continuamos a ter uma convivência de respeito, e nunca mais fui invocado a falar da mentira engarrafada.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

MEU AMADO TIO FERRER

Dos filhos homens do casal, Antonio  Lopes/ Maria Cecília, era o caçula. Após a viuvez, meu avó contraiu núpcias com Maria (Mãeínha) que trazia o filho, Geraldo e tiveram um outro, tio Chico.
Tio Ferrer, era baixinho, de pele muito branca e olhos azuis de uma beleza profunda e tão penetrantes que chegavam a ser inquisitivos, até porque, quando conversava com as pessoas, as olhava dentro dos olhos, e quando fazia uma pergunta, os seus olhos pareciam dançar, dentro das órbitas.
Muito inteligente, cedo tornou-se comerciante em sociedade com o seu irmão Lili e depois cada qual tomou seu rumo.
Nunca em minha vida, vi alguém no comércio, com tamanho poder de convencimento e indução, difícilmente o cliente saia sem comprar.
Nasceu com o dom da multiplicação, e jovem, já era um comerciante bem sucedido e uns dos maiores da cidade, mas tinha também o dom da divisão em escala maior, e aquilo que ganhava, facilmente fugia entre suas mãos.
Rasgava dinheiro, como dizemos, algumas vêzes de maneira louvável, com atos de caridade, benvolência e auxílio aos familiares mais necessitados, principalmente com o seu pai e destribuia dinheiro com os muitos sobrinhos. Outras, com falsos amigos, aproveitadores e quem estivesse por perto, principalmente quando já tinha bebido um pouco mais, não deixava ninguém pagar a conta, ficava rico e dizia-se o milionário mais novo do estado.
Era o primeiro a comprar os lançamentos de carros de luxo, Aero Wyllis, Simca Chamborde e até mesmo a Kombi. mas não tinha apego nenhum, entregava e emprestava a todos.
Tomou gosto pelas farras, que as vêzes duravam dias, e que geraram um certo desequilíbrio nos negócios, até que Deus, colocou um anjo manso e bom em sua vida com o nome de sua mãe e de seu pai, MARIA JOSÉ ( para todos nós, NIM, apelido de infância)
Quando solteiro andei muito em sua companhia, campo de futebol (êle torcedor do Potiguar e eu do Baraunas), bares e até mesmo lugares menos recomendados. Além de me dar mesada todos os sábados, quando estava bebendo entregava-me a chave do carro, passando a ser seu condutor,com apenas 13 anos de idade.
Casado, passei a frenquentar a sua casa, aonde fizemos muitas domingueiras, jogando cartas e tomando cerveja com muita galinha, que Nim abastecia de vez em quando. Completava o time, papai, Ivo Jr e José Sálvio.
 Ela gostava muito da nossa presença, pois êle não iria para o bar de João Pinheiro ou do crente Isac, que ficava perto de sua casa, e que indo, não tinha hora para voltar.
Algumas vêzes praticáva-mos tiro ao alvo com um rifle 22 da marca Remington acertando tampas e cortando cigarros, eu tinha verdadeira paixão por aquela arma, era linda!
Com os negócios arruinados, aí apareceu o gigantismo daquela mulher tão pequena, que parecia ter 3 metros de altura, que com muita sabedoria paciência e acima de tudo, muito amor, proporcionou  a recuperação dos negócios.
Lembro de uma semana santa que passei na fazenda Furtuna dos pais de Nim, estudava na casa de tio Miguel, que não me deixou ir, com o apoio de tio Ferrer, saí fugido. Vamos que na volta eu falo com Miguel. Foi maravilhoso, pesquei tantas e enormes traíras, que pediram que parasse, pois não tinham aonde estocar.
Ao amanhecer o dia, na hora do café, tinha um prato de queijo de manteiga quentinho, saindo do tacho, em frente de cada cadeira à mesa.
Muito cordato e amigável, passou pela vida, incólume, nunca brigando ou fazendo inimigos, amava todos os parentes, tendo muito carinho com seus tios, principalmente os mais necessitados, tia Lalá, Tio Pretonilo etc sempre molhando as mãos com um dinheirinho.
Vizinho a sua casa, morava o tio Dino, com a sua filha Herculí (Erculí ?) o pobre tio, sofria de hemorróidas terríveis, e este era um assunto sempre em pauta, o que está tomando?, o que está comendo? só para ouvir êle responder: mamão com todas as sementes.
Pai de três filhos, Alexandre, Marcos e Sandrinha, foi exemplo de pai dedicado, carinhoso e presente, sendo estes hoje, verdadeiras joias raras, exemplos de dignidade e amor a família.
Particularmente tenho muito apreço por todos êles, e quando estudantes em Natal, Alexandre e Marcos, moravam em uma republica com o meu irmão Dedé, e sempre que eu ia lá, deixava o da merenda, para todos êles, que morriam de vergonha e não queriam receber, eu sempre dizia: besteira. ainda que fosse mais e tivesse que fazer por muito tempo, jamais conseguiria fazer o muito que seu pai, fez por mim!
Sem duvida nenhuma, entre tantos os tios que eu amava e tinha amizade, tio Ferrer, foi o mais presente, e com quem eu mais andei.
PERDI UM GRANDE AMIGO, TENHO MUITAS SAUDADES...
OS MUITOS PADRES

Durante toda minha infância e pré adolescência, convivi com muitos padres, os párocos de Luiz Gomes, Pe. Caramuru, Miguel, Flávio, Vadécio Lopes (meu primo), Osvaldo ( ainda vive lá, com mais de 50 anos de permanência) e os das cidades vizinhas, Pe. José Aires figura muito alegre e cheio de brincadeira, pároco da cidade de São Miguel) e Pe. Caminha (Pau dos Ferros).
Com Valdécio tive uma convivência maior, passei algumas férias em sua casa em Luiz Gomes, e mais tarde, quando fui morar em Belo Horizonte, êle era o vigário da cidade Osanan (cidade criada por um famoso e rico médico, maçon, que construiu uma cidade fechada, dentro da própia cidade de BH para abrigar viuvas, tendo ainda um abrigo, escola e igreja.
A casa paroquial tinha ao lado um pé de jaboticaba, que eu comia até entupir.Gostava muito de Valdécio, que era chegado a uma cervejinha, e conforme o primo Augusto, de um carnaval em Santos, longe do olhar dos paroquinos.
Certa feita, ao voltar a BH, com um filho necessitando de tratamenmto oftalmológico, encontrei Valdécio, casado com uma colega professora da Universidade, muito feliz, passeamos muito, além de ter sido de uma presteza absoluta, obrigado, primo! Lamentei muito a sua morte...
Ficava admirado como os padres eram paparicados pelas beatas, que os enchia de guloseimas e presentes.
Alguns eram muito pios, outros severos em demasia e ainda tinha os liberais e até muitos liberais, gostando de uma cervejinha, fumar e até outras coisas, que fazem parte do universo masculino.
Quando fui estudar Pau dos Ferros, tornei-me amigo do meu querido professor de frances, então já cônego Caminha, que quando chegou na cidade, causou pavor, pois colocava para fora da igreja, todas as mulheres que tivesse vestido curto ou decotado, coisas que o vigário anterior fazia vista grossa.
Certa feita, foi celebrar na comunidade de Riacho de Santana e colocou várias mulheres para fora da igreja. Terminada a missa, saiu e encostou-se em frente a uma janela fechada, e dentro da casa, algumas mulheres que haviam sido expulsas do ofício da missa, terciam comentários sobre o mesmo, e uma disse: vocês viram como os olhos dêle são pequenos? aquilo é tão ruim que tem os olhos de peba! ao mesmo tempo em que abria janela e deparava-se com a figura do Pe. Caminha, e prontamente emendou " mas eu acho os olhos do peba, tão bonitinho"
Com o passar do tempo, tornou-se um grande boêmio, e para complementar tirou um prémio na loteria, aí a coisa pegou de vez, bebia, dançava e...
Morreu com idade muito avançada, e quando doente, pediu que colocasem a sua cama na sala, para que visse todos os passante, que êle chamava para conversar, estive algumas vêzes em visita. Engraçado, foi quando a minha falecida prima Gracinha, foi visita-lo, e êle pediu, chegue mais perto, quando ela aproximou-se, êle disse: '"deixa eu pegar no seu peito".
Apesar de tudo, era mestre em seu ofício, grande evangelizador e de uma humildade a toda prova. Quando era meu professor, colocou os meus colegas Luiz Bodé e Tadeu para fora de classe, e antes que terminasse a aula, saiu  a procura dos dois, ajoelhando-se aos seus pés em prantos e pedindo perdão.
Em outra ocasião, estáva-mos em grupo aproximado de dez, comandado pelo lider dos estudantes, Nonato Vaqueiro, que nunca estudou, mas era professor de cachaçada e safadezas, quando o padre nos chamou e disse, quero que ouçam isto: e colocou na vitrola portátil, que estava debaixo da sombra de uma trepadeira, um LP de Cauby, feito em nylon, quando uma réstia de sol incidiu sobre o mesmo, empenando na hora.
Como ficou inutilizado, êle perguntou, então o que acharam? Nonato respondeu em cima da bucha: " é tão ruim que empenou".
Fomos expulsos de sua calçada e depois procurados, um por um, para dar o perdão e amenizar a sua dor e arrependimento.
É que nos estáva-mos em outra, roberto Carlos e toda turma da jovem guarda!

































































































































terça-feira, 4 de setembro de 2012

BOM DE MIRA!

Tinha aproximadamente 6 anos, quando ganhei do meu pai, uma pequena carabina de brinquedo, que usava como projétil, pequenos tocos de madeira, que eram colocados pelo cano e prensado por uma vareta, até dar um tok do engate da mola, que impulsionava o projétil.
A casa que morávamos, tinha uma grande sala, com aproximadamente uns 8 m de comprimento, e eu ficava sentado com as costas apoiada na parede e na outra extremidade, colocava caixas de fósforo e tampas de garrafas, como alvo fixo, e atirava com tamanha destresa, que difícilmente errava um tiro.
Depois passei a usar como alvo, o gancho de arame, em que era pendura a lampada coleman, que ficava no meio da sala, preso a uma grossa linha de aroeira que servia de apoio ao telhado.
Chamava à atenção de muitos adultos e crianças, que ficavam nas janelas a observar, eu acertar seguidamente aquele arame. Para aumentar a dificuldade, passei a movimenta-lo com um cabo de vassoura, fazendo um pendulo, e igualmente acertava inumeras vêzes, deixando todos boquiabertos.
Para isto usava de uma certa malícia, nunca observada pela platéia, atirava sempre na parte mais próxima da linha, pois o movimento do pendulo era menor.
Logo, logo...passei a caçar de baladeira (estilingue) com igual destresa, matava muitos passáros, dos diversos tamanhos e até beija-flor, engolindo o coração ainda quente, que era para melhorar a mira, costume usado e divulgado por todos os companheiros de infância.
Embora atirasse bem, nunca fui páreo para papai e meu amigo de infância, ZEZINHO, que era canhoto e atirava com tal precisão, que impressionava. Certa feita, tinha duas rolinhas namorando em um pé de canafístula, êle atirou acertando uma, que caiu ao chão, sendo que a companheira desceu para perto, e atirou novamente, acertando e ficando as duas juntinhas.
Foi também, a unica pessoa que vi acertar com um badoque,  pois eu só conseguia arrancar a cabeça do polegar.
Ouvi dos companheiros de infância do meu pai, que era imbatível no uso da baladeira, e o próprio falava de memoráveis caçadas, feita com os amigos, e uma muito especial com Zera Medeiros
Sairam cedinho e já próximo ao almoço, retornavam, papai com uma embira cheia de passarinhos pendurados e Zera com um sibito (nome dado a todos passáros de tamanho diminuto). Quando foram se aproximando da cidade, Zera disse: "Lula, vamos amarra minha imbira na sua, você pega em uma ponta e eu na outra, que é para dizer que todas estas rolinhas, foram mortas por nós dois."
Aos dez anos, dei meu primeiro tiro, com uma garrucha bate bucha, acertando o alvo... depois com espingarda 36, 32, 28 etc partipando em muitas caçadas de avoete (avoante, ave de arribação), com adultos, sendo necessário para isto, o deslocamento até o ponto em que elas se agromeravam, e não foi poucas as vêzes em fui o campeão da caçada.
Já morando em Pau dos Ferros, caçava muito em companhia do meu amigo. EXPEDITO DIÓGENES, que pouco depois de eu vir morar em Mossoró, morreu com um tiro acidental no olho, quando tentava matar um preá.
Alguns anos mais tarde, já morando em Belo Horizonte, fomos fazer uma pescaria no rio paraopeba, com João Carlos, esposo de minha tia Maria do Céu e alguns colegas da industria textil, fracasso total, noite toda para pegar alguns timborés. Quando amanheceu o dia, fomos para a casa da família, e eis que surgiu uma espingarda de chumbinho, muito concorrida, estavam todos a atirar em umas andorinhas que ficavam em um altíssimo pé de eucalípto, sem que ninguém acertasse, até que chegou a minha vez, adivinhem...
A uns 15 anos atrás, dei o meu ultimo tiro, peguei uma espingarda do meu cunhado, e estava acompanhado de vários sobrinho, e fiz um tiro em um gavião em pleno vôo, abatendo-o, Vitor gritava, tio, que tiro lindo!
Com aquele pássaro nas mãos, bateu um remorso tão grande, que chorei... não fazia mais sentido, meu periodo de infância, fazia parte da cultura e caçava-mos para comer, mas agora, é covardia e maldade.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

ESTUDANDO EM  MOSSORÓ

Em 1958 vim estudar em Mossoró, ficando na casa do meu tio Lili (Luiz Lopes de Oliveira), casado com Zuila Borges, filha de Antonio Cirilino e Mundinha, sendo sobrinha das famosas irmãs parteiras, Julia e Noêmia Borges, por cujas mãos nasceram milhares de mossoroenses.
Nascido o primeiro filho do casal (Luiz Filho), tia Talzinha veio de minha casa para ajudar nos cuidados com a criança. Foi um periodo maravilhoso, tio Lili era o irmão mais bonito do meu pai, com bons hábitos religiosos e culturais, com êle aprendi a fazer palavras cruzadas e responder charadas. Muito tranquilo, nunca levantou a voz e nem me fez qualquer repreenção severa, muito pelo contrário, levava-me todos os domingos para o futebol e aos muitos circos que eram armados em um largo em frente a sua casa, e sempre tivemos um relacionamento de muito respeito e amizade.
Zuila, muito jovem, mas de uma formação educacional excelente e dona de casa muito prendada em culinaria e artes de pintura e confecções de objetos de decoração. Até hoje não esqueço o pudim de pão dormido que ela fazia, e os muitos bolos. Tinha muitos irmãos : Bezerra, Gilson, Valderila, Dedinho, Cirilino, Angela e Marcos. Seu pai, tinha um sítio as margens do rio Mossoró, que frenquentei muito e tinha muitas fruteiras, mas principalmente pés de sapoti, fruta dulcíssima e que aprecio muito.
Havia portanto, muitas crianças para brincar a visão quase que permanente de Angela, por quem tinha uma paixão secreta e o rio para pescar, dando continuidade a vida livre que eu levava.
De quebra, a casa das irmãs parteiras, que eu frequentava muito com Dedinho e Cirilino, para filar bons pedaços de bolo, que era feito diariamente e em tamanhos gigantes, para servir aos muitos padres que frequentavam a sua calçada à noite.
Tia Zuila é uma mulher muito linda! que  a medida que o tempo passava, ia ficando mais bonita, e hoje é uma senhorinha, de uma força e alegria contagiante.
Fui estudar na escola particular das irmãs, Tamela e Cicía, renomadas professoras, que disputavam com a igualmente famosa, professora Dagmar Filgueira, a primasía de quem mais aprovava no exame de admissão ao ginásio.
Posteriormente fui estudar no COLÉGIO DIOCESANO SANTA LUZIA, aonde fiz o terceiro, quarto e parte do quinto ano, já que tive problemas de saude e concluí em José da Penha, retornando ao colégio, após ser aprovado no exame admissional ao ginásio.
Jamais esqueci as professoras do primário, Joaninha, uma amazonense muito bonita, com fisionomia de índia e Oscarina Ribeiro, que mais tarde foi minha aluna na faculdade de história.
Durante este periodo, morei na casa do meu tio padrinho Miguel Marcelino, e como aluno interno do colégio.


sábado, 1 de setembro de 2012

TIOS ERNESTO E AMÉRICA LOPES

Quase todos os domingos, dia da feira de Luiz Gomes, meu pai subia a serra para comprar algodão e vender emplementos aos agricultores, e muita das vêzes eu o acompanhava.
Adorava a sensação de subir a serra, pelos perigos, curvas fechadas, subidas ingrimes e pontos estreitos, que mal dava para passar 2 carros. O clima era espetacular, creio que por volta de 20 graus e uma brisa constante, pois a cidade ficava em um planalto, com nivelamento quase que perfeito.
Situação geografica muito interressante, localizada na tromba do elefante, no mapa do Rio Grande do Norte e fazendo fronteira com os estados da Paraiba e Ceará. Não sei se verdadeiro, mas diziam que você podia escolhem que estado ser enterrado, após a morte, pois o cemitério local, pegava os 3 estados.
O ponto de apoio era a casa da tia do meu pai, América Lopes, casada com Ernesto Fernandes, que tinha laços familiares com a nossa família. Muito e bem sucedidos filhos legítimos e muitos e igualmente amados, filhos adotivos.
Moravam em um casarão de proporções imensa e de uma cumieira altíssima, cujo telhado formava uma grande queda d'água, já que tanto o pé direito da frente como de trás, tinham altura normal. Tudo naquela casa me encantava, suas proporções, seus moradores, o entra e sai de pessoas, a mesa farta de café da manhã que ficava posta até vir, o igualmente farto almoço.
Duas coisas, prendiam minha atenção de criança, o enorme relógio cuco, com pequenos toques a 15 ou 30 minutos, e badalar a cada hora, com pancadas igual ao numero de horas marcadas, e a mágica presença do cuco, cuco...cuco...cuco... A outra foi a primeira geladeira que vi, importada dos Estados Unidos pelo filho Dr. Vicente Lopes, renomado médico, residente na cidade do Rio de Janeiro.
De marca Westhouse, tinha um tamanho pequeno, comparado com as de hoje, mas perfeitamente compativel com as necessidades da época, já que não havia muitos produtos a serem conservados. A porta tinha tranca e o seu trinco era como a tecla preta de um piano, que se precionava para abrir.
Embora fosse muito pequeno, quando tio Ernesto morreu, lembro perfeitamente de sua figura morena, muito respeitado e admirado por todos e com um numero imenso de afilhados de batismo e consequentemente compadres a visita-lo, em sua quase imobilidade, sentado em sua cadeira com uma manta no colo e uma reluzente escarradeira de inox com tampa móvel, ao lado, pois já se encontrava doente e tinha muita secreção a fluir. Destaco que o casal Ernesto / América, tanto eram padrinhos do meu pai, como da. minha mãe.
Tia América, era a tia preferida do meu pai, que era uma espécie de conselheiro nos negócios, e comprava o algodão que produziam, sempre com o preço mais elevado. Figura dulcíssima de olhos amendoados e pequenos, muito penetrantes e fixo ao falar com as pessoas, falava pausado com voz baixa e um sorriso permanente no lábios.Embora parecesse frágil, dado o seu físico, era uma mulher muito forte e bonita.
Morava ainda na casa, sua filha Francisquinha, uma das mulhere mais bonitas que já vi em fotos, quando jovem, nunca casou. Por ser madrinha de apresentar de minha mãe, nós todos acostumamos a chama-la de madrinha. Muito austera, comandava a casa com disciplina, e confesso que quando criança, eu a temia muito, mas graças a Deus, tenho a honra de dizer que a partir de minha juventude, nos tornamos muitos amigos, e que a visitei muitas vêzes, gozando sempre da hospitalidade, daquela casa.
O filho José Lopes, morava na mesma cidade e era visita diária, homem muito bonito, de porte elegande e fala alta, impunha respeito, até mesmo pelo seu físico avantajado.
A filha / sobrinha Maria do Céu, estudava e depois continuou a morar em Natal, trabalhava na Secretaria de Educação do Estado, ESTA É MINHA SEGUNDA MÃE! Os demais filhos e filhas, moravam espalhados por muitas cidades.
A maioria dos filhos adotivos, faziam parte da criadagem da casa, ou na organização de sua bela fazenda "Sítio Baxio" muito produtivo e bem cuidado. Com destaque para Jõao Melquíades, Gertudes
e Joanita, que hoje com 81 anos, é uma pessoa que amo muito e de quem tenho muitas histórias para contar.
Fiz a ultima viagem com tia América, quando meu pai levou-a a Natal para consulta médica e voltou com um prognóstico muito ruim, morrendo poucos mêses depois. Neste período, meu pai intensificou as visitas e assistência, e eu sempre junto.
Muita saudade!