sábado, 15 de setembro de 2012

TEM CERTOS DIAS, EM QUE LEMBRO DE MINHA GENTE...

Conhecia e andava em todas as casas de José da Penha, que até hoje, tem predominância das famílias Leite e Fontes.
Respeitáveis cidadões, quase todos compadres de meu pai, a maioria pequenos agropecuarista ou comerciantes, Elísio Rodrigues, Eusébio Libânio, Osório Estevão, André Leite, Raimundo Lacerda, Evaristo Fontes, Fernando, Antonio Bessa, Antonio Leite, Chichico, Lauro Borges, Sandoval, Edmilson, Zeca Fontes, Lourival Fontes, Manduca Leite, Souza, Higino Borges, Pedro Fontes, Manoel Soares, Zé Maia, Chiquinho, Luizinho, Abdoral Fontes, Dárcio, Antonio Bizé, Cícero Macaco, Segundo, Julio Fontes e muitos outros.

No entanto, as casa que eu mais gostava de ir, era de gente muito humilde, de pobreza franciscana, mas de acolhida de rei.

-José Jascinto e Birica, eram nossos vizinhos, quando meu pai comprou a nossa casa, tinha a nos separar, apenas um pequeno armazém. Êle era um trabalhador permanente da usina, de grande confiança, e sem vícios, e ela lavava a roupa de nossa casa. Quando era na entre safra, cuidava da limpeza dos armazéns, plantava no pequeno terreno em frente a nossas casas, batia e queimava tijolos.
Toda tarde, quando o café da casa deles cheirava, eu corria para lá, era delicioso. Gostava muito de conversar com êle e ficava horas ao seu lado, enquanto trabalhava.
Tinham um unico filho homem, Gentil, moço muito bonito, que trabalhava na máquina de descaroçar algodão, considerada a mais perigosa da usina, que já havia feito uma vítima fatal, um soldado de polícia que prestava serviço nas horas de ociosidade, e que veio a vitimar também, Gentil, engulindo seu braço até praticamente a altura do ombro. Perdemos um jovem em plena juventude, que tinha o assovio mais bonito que conheci, quando vinha para casa de longe se ouvia. 

-Chico Aureliano, moreno alto e forte, de olhos muito azuis, que o tornava, um dos homens mais bonitos da cidade. Quando chegava a sua casa, sua esposa corria para fazer pipocas, de uma maneira que só vi lá. Colocava o milho em uma panela de barro, que estava até a metade com areia de rio, bem fininha e alva, quando a areia aquecia, começava o pipocar, e o que era impressionante, e que não sujava a pipoca, e não tinha uma gota sequer de óleo.
Sòmente êle plantava gergelin, durante o inverno, e vez por outra, era servido "espécie" um excelente doce, feito com gergelin, rapadura e especiarias.
Fumava cachimbo, com fumo arapiraca, muito forte e de cheiro pouco agradável.
Durante um periodo, fumei cachimbo, após o jantar, e tinha um para cada dia da semana, sempre com fumo de odor agradável, irlandes, holandes etc.
Quando larguei o vício, levei os meus levíssimos cachimbos italianos e o resto de fumo, para Chico,
que não cabia de contentamento, chamando a todos para mostrar.
A ultima vez que o vi, estava em seus ultimos dias, lutando com um câncer de próstata, seus olhos brilhavam e marejavam de emoção, e embora não se levantasse mais, pediu-me um abraço!

-Nonato Preto, (compadre Nonato, para todos nós, já mencionado em um dos episódios de "caso de compadres") Vivia em sua casa, esperando que meus grandes amigos, Toinho e Zezinho, teminassem suas tarefas (colocar água, catar maraváias, rachar lenha etc), para ir brincar.
Quase não tinha o que oferecer, a não ser peixes e caças, principalmente preás que eu recusava, pois temia ser um rato do mato, que êles comiam, muito parecido com o mesmo, que chamavam de punaré.
Usavam misturado ao café, sementes de mata pasto torrada, para que rendessem mais, o que tornava o sabor muito ruim, portanto, nunca tomava café em sua casa.
Compadre Nonato, que fazia todos os meus pedidos, cuidando da limpeza e carregando os cartuchos das nossas espingardas, é uma grata e e eterna lembrança em minha vida, mas também vítima do quadro mais degradante que já vi, imposto a um ser humano, sendo portanto também uma lembrança triste.
Soube através de Zeca de Evaristo, farmacéutico da cidade, que abastecia sua farmácia na distribuidora de remédios que eu era comprador, que o mesmo estava com mal de Parkson, em estado muito avançado, e passei a mandar pelo mesmo, vitaminas, l-dopa e todos os medicamentos que o médico receitava, já que tinha a facilidade de arranjar amostras gratis.
Zeca, me mantinha informado de sua melhora imediata, já que passou a ser tratado, e mais tarde, da piora de seu quadro, pois a doença era progressiva, e os medicamentos apenas retardava um pouco.
Fiquei muito triste, quando soube que a esposa já estava com um namorado dentro de casa, que Toinho e Zezinho, se escontravam em paradeiro desconhecido e que sua filha mais velha, Maria,
também estava com a mesma doença. Então passei a mandar medicamentos para os dois.
Já em um quadro muito avançado, tendo perdido praticamente todo o controle sobre os seus nervos, viajei ao sertão para visita-lo, e não contive as lágrimas quando o vi. Sentada na área da casa que fora de seu pai, estava a mulher, bem vestida, cheirosa, com brincos de ouro e encostada no ombro do namorado, que estava bancando luxo, e em um minúsculo quarto, de aproximadamente 1,30 X 2,00,
Compadre Nonato, totalmente despido, deitado de brusço,  com movimento, sòmente no pescoço, um monte de mangas, espalhado pelo chão, e êle comendo como um porco, com casca e tudo aquelas que conseguia abocanhar.
Ainda sorriu, e demonstrou estar feliz com minha presença, mas de brilho, sómente o dente de ouro, que ainda permanecia lá!

É GENTE HUMILDE, QUE VONTADE DE CHORAR...

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