terça-feira, 4 de setembro de 2012

BOM DE MIRA!

Tinha aproximadamente 6 anos, quando ganhei do meu pai, uma pequena carabina de brinquedo, que usava como projétil, pequenos tocos de madeira, que eram colocados pelo cano e prensado por uma vareta, até dar um tok do engate da mola, que impulsionava o projétil.
A casa que morávamos, tinha uma grande sala, com aproximadamente uns 8 m de comprimento, e eu ficava sentado com as costas apoiada na parede e na outra extremidade, colocava caixas de fósforo e tampas de garrafas, como alvo fixo, e atirava com tamanha destresa, que difícilmente errava um tiro.
Depois passei a usar como alvo, o gancho de arame, em que era pendura a lampada coleman, que ficava no meio da sala, preso a uma grossa linha de aroeira que servia de apoio ao telhado.
Chamava à atenção de muitos adultos e crianças, que ficavam nas janelas a observar, eu acertar seguidamente aquele arame. Para aumentar a dificuldade, passei a movimenta-lo com um cabo de vassoura, fazendo um pendulo, e igualmente acertava inumeras vêzes, deixando todos boquiabertos.
Para isto usava de uma certa malícia, nunca observada pela platéia, atirava sempre na parte mais próxima da linha, pois o movimento do pendulo era menor.
Logo, logo...passei a caçar de baladeira (estilingue) com igual destresa, matava muitos passáros, dos diversos tamanhos e até beija-flor, engolindo o coração ainda quente, que era para melhorar a mira, costume usado e divulgado por todos os companheiros de infância.
Embora atirasse bem, nunca fui páreo para papai e meu amigo de infância, ZEZINHO, que era canhoto e atirava com tal precisão, que impressionava. Certa feita, tinha duas rolinhas namorando em um pé de canafístula, êle atirou acertando uma, que caiu ao chão, sendo que a companheira desceu para perto, e atirou novamente, acertando e ficando as duas juntinhas.
Foi também, a unica pessoa que vi acertar com um badoque,  pois eu só conseguia arrancar a cabeça do polegar.
Ouvi dos companheiros de infância do meu pai, que era imbatível no uso da baladeira, e o próprio falava de memoráveis caçadas, feita com os amigos, e uma muito especial com Zera Medeiros
Sairam cedinho e já próximo ao almoço, retornavam, papai com uma embira cheia de passarinhos pendurados e Zera com um sibito (nome dado a todos passáros de tamanho diminuto). Quando foram se aproximando da cidade, Zera disse: "Lula, vamos amarra minha imbira na sua, você pega em uma ponta e eu na outra, que é para dizer que todas estas rolinhas, foram mortas por nós dois."
Aos dez anos, dei meu primeiro tiro, com uma garrucha bate bucha, acertando o alvo... depois com espingarda 36, 32, 28 etc partipando em muitas caçadas de avoete (avoante, ave de arribação), com adultos, sendo necessário para isto, o deslocamento até o ponto em que elas se agromeravam, e não foi poucas as vêzes em fui o campeão da caçada.
Já morando em Pau dos Ferros, caçava muito em companhia do meu amigo. EXPEDITO DIÓGENES, que pouco depois de eu vir morar em Mossoró, morreu com um tiro acidental no olho, quando tentava matar um preá.
Alguns anos mais tarde, já morando em Belo Horizonte, fomos fazer uma pescaria no rio paraopeba, com João Carlos, esposo de minha tia Maria do Céu e alguns colegas da industria textil, fracasso total, noite toda para pegar alguns timborés. Quando amanheceu o dia, fomos para a casa da família, e eis que surgiu uma espingarda de chumbinho, muito concorrida, estavam todos a atirar em umas andorinhas que ficavam em um altíssimo pé de eucalípto, sem que ninguém acertasse, até que chegou a minha vez, adivinhem...
A uns 15 anos atrás, dei o meu ultimo tiro, peguei uma espingarda do meu cunhado, e estava acompanhado de vários sobrinho, e fiz um tiro em um gavião em pleno vôo, abatendo-o, Vitor gritava, tio, que tiro lindo!
Com aquele pássaro nas mãos, bateu um remorso tão grande, que chorei... não fazia mais sentido, meu periodo de infância, fazia parte da cultura e caçava-mos para comer, mas agora, é covardia e maldade.

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