TIOS ERNESTO E AMÉRICA LOPES
Quase todos os domingos, dia da feira de Luiz Gomes, meu pai subia a serra para comprar algodão e vender emplementos aos agricultores, e muita das vêzes eu o acompanhava.
Adorava a sensação de subir a serra, pelos perigos, curvas fechadas, subidas ingrimes e pontos estreitos, que mal dava para passar 2 carros. O clima era espetacular, creio que por volta de 20 graus e uma brisa constante, pois a cidade ficava em um planalto, com nivelamento quase que perfeito.
Situação geografica muito interressante, localizada na tromba do elefante, no mapa do Rio Grande do Norte e fazendo fronteira com os estados da Paraiba e Ceará. Não sei se verdadeiro, mas diziam que você podia escolhem que estado ser enterrado, após a morte, pois o cemitério local, pegava os 3 estados.
O ponto de apoio era a casa da tia do meu pai, América Lopes, casada com Ernesto Fernandes, que tinha laços familiares com a nossa família. Muito e bem sucedidos filhos legítimos e muitos e igualmente amados, filhos adotivos.
Moravam em um casarão de proporções imensa e de uma cumieira altíssima, cujo telhado formava uma grande queda d'água, já que tanto o pé direito da frente como de trás, tinham altura normal. Tudo naquela casa me encantava, suas proporções, seus moradores, o entra e sai de pessoas, a mesa farta de café da manhã que ficava posta até vir, o igualmente farto almoço.
Duas coisas, prendiam minha atenção de criança, o enorme relógio cuco, com pequenos toques a 15 ou 30 minutos, e badalar a cada hora, com pancadas igual ao numero de horas marcadas, e a mágica presença do cuco, cuco...cuco...cuco... A outra foi a primeira geladeira que vi, importada dos Estados Unidos pelo filho Dr. Vicente Lopes, renomado médico, residente na cidade do Rio de Janeiro.
De marca Westhouse, tinha um tamanho pequeno, comparado com as de hoje, mas perfeitamente compativel com as necessidades da época, já que não havia muitos produtos a serem conservados. A porta tinha tranca e o seu trinco era como a tecla preta de um piano, que se precionava para abrir.
Embora fosse muito pequeno, quando tio Ernesto morreu, lembro perfeitamente de sua figura morena, muito respeitado e admirado por todos e com um numero imenso de afilhados de batismo e consequentemente compadres a visita-lo, em sua quase imobilidade, sentado em sua cadeira com uma manta no colo e uma reluzente escarradeira de inox com tampa móvel, ao lado, pois já se encontrava doente e tinha muita secreção a fluir. Destaco que o casal Ernesto / América, tanto eram padrinhos do meu pai, como da. minha mãe.
Tia América, era a tia preferida do meu pai, que era uma espécie de conselheiro nos negócios, e comprava o algodão que produziam, sempre com o preço mais elevado. Figura dulcíssima de olhos amendoados e pequenos, muito penetrantes e fixo ao falar com as pessoas, falava pausado com voz baixa e um sorriso permanente no lábios.Embora parecesse frágil, dado o seu físico, era uma mulher muito forte e bonita.
Morava ainda na casa, sua filha Francisquinha, uma das mulhere mais bonitas que já vi em fotos, quando jovem, nunca casou. Por ser madrinha de apresentar de minha mãe, nós todos acostumamos a chama-la de madrinha. Muito austera, comandava a casa com disciplina, e confesso que quando criança, eu a temia muito, mas graças a Deus, tenho a honra de dizer que a partir de minha juventude, nos tornamos muitos amigos, e que a visitei muitas vêzes, gozando sempre da hospitalidade, daquela casa.
O filho José Lopes, morava na mesma cidade e era visita diária, homem muito bonito, de porte elegande e fala alta, impunha respeito, até mesmo pelo seu físico avantajado.
A filha / sobrinha Maria do Céu, estudava e depois continuou a morar em Natal, trabalhava na Secretaria de Educação do Estado, ESTA É MINHA SEGUNDA MÃE! Os demais filhos e filhas, moravam espalhados por muitas cidades.
A maioria dos filhos adotivos, faziam parte da criadagem da casa, ou na organização de sua bela fazenda "Sítio Baxio" muito produtivo e bem cuidado. Com destaque para Jõao Melquíades, Gertudes
e Joanita, que hoje com 81 anos, é uma pessoa que amo muito e de quem tenho muitas histórias para contar.
Fiz a ultima viagem com tia América, quando meu pai levou-a a Natal para consulta médica e voltou com um prognóstico muito ruim, morrendo poucos mêses depois. Neste período, meu pai intensificou as visitas e assistência, e eu sempre junto.
Muita saudade!
Nessa história tem muitas pessoas que não conheço... aprendendo um pouco mais da família! =)
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