MULÇUMANO, PLANTADOR DE BATATAS!
A maior mudança da minha vida, aconteceu quando fui cursar o primeiro ano ginasial, ano 1962, aos 12 anos, tudo era novo, muitas matérias, alunos vindos das mais diversas cidades, e pela primeira vez, a turma do seminário, passou a ter aulas no Colégio Diocesano Santa Luzia, no que aumentou em muito o nível de conhecimento e estudo.
Muitos padres, como professores, garantia que o nível do seminário seria mantido, Pe. Alcir (matemática) o mais brincalhão, muito engraçado, Pe. José Nogueira (português) Pe. Sátiro (História) muito admirado e o mais respeitado, Pe. Sales (musica) Pe. José Freire (frances), o terrível, a arrotar vaidade e arrogância no alto dos quase 2 metros de altura.
Neste ano ocorreu uma mudança radical,no colégio, quanto ao controle de frequência dos alunos, além da caderneta de chamada dos professores, tinha uma carteira do aluno, que era recolhida no início da aula e devolvida no final com o carimbo de presença. Caso faltasse, no dia que voltasse a aula, era atualizada com o carimbo de falta, tanto quantos foram os dias ausente.
Na verdade era um controle excelente para os pais.
Na primeira aula de frances, estudamos o verbo SER, na segunda aula, o Pe. José Freire, após a chamada, dirigiu-se ao aluno mais central da primeira fila (Almir de Almeida Castro Jr.) e perguntou, impar ou par? este respondeu, impar! uma, duas meia e já, deu par!
Eu era o numero 2! Monsieur Antonio Lopes, leia a lição de ontem! Ao le-la, errei, e veio de forma MILITAR, imponente e em alto som o veridicto "ISTO É UMA MENTIRA ENGARRAFADA, SEU MULÇUMANO, VÁ PLANTAR BATATAS!".
Foi uma gargalhada só, e na hora do intervalo, em cada esquina, em cada sala, tinha alguém a gritar: mulçumano, vá plantar batatas! Quando terminou a aula, ao sair do colégio, a coisa tinha tomado uma prorpoção tal, que todos berravam, MULÇUMANO! PLANTADOR DE BATATAS!
Imagine o estrago que fez, em um menino tímido, vindo de uma pequena cidade do interior! Faltei muitos dias de aula, saia de casa, mas não entrava no colégio, se fosse hoje, teria sido um bulling coletivo. Como resultado, não entrava no colégio nas terças e quintas, dias de aula de frances, acumulando 72 faltas no ano, que por si já me reprovavam, e consequentemente o fraco desempenho nas outras matérias que tinhas aulas nestes dias.
Odiei José Freire, por quase toda vida, e o evitava, até que fui fazer o Cursilho da Cristandade, e êle já como bispo de Mossoró, nos visitou. No meu segundo cursilho, trabalhei na copa (turma da pesada), no terceiro, fiz a palestra sobre oração, com êle presente, e após procurou-me e disse ter gostado muito e pergunto de que família eu era, identificando-se com todos os meus paretes.
Quando disse que havia sido seu aluno, imediatamente retrucou: NÂO, conheço todos os meus ex alunos! Respondi, não deu tempo o senhor fixar a minha imagem, contei o episódio do mulçumano plantador de batatas, que teve como resposta uma sonora gargalhada, e o chamamento de alguns irmãos que estavam por perto, para que eu repetisse a história, e mais gargalhadas...
No quarto cursilho, fui escalado para fazer a abertura, com a palestra, " O DOM DA VIDA" confesso que foi o meu ápice de inspiração! Preparei um mega cartaz em forma de sanfona, com uma janela aberta, e debruçado uma linda criança de olhos vivos e amendoados.
A medida que ia abrindo as abas, ia mostrando as formas de vida animal, vegetal, a natureza etc, ou seja, a magnífica criação de DEUS! Permanecia uma janela fechada, que só abri após fazer uma votação secreta, em que cada um devia escrever em um papel, das figura mostradas a que chamára mais à atenção. A criança da abertura venceu por quase unanimidade, então passei a perguntar a alguns presentes, o que a criança passava de especial, e como resposta tivemos muitos qualitativos: serenidade, segurança, meiguice, douçura etc. etc. Então abri a ultima janela, causando um grande impacto, esta criança é este homem, HITLER!
Após a apresentação, foi a pausa para a merenda, e ao sair, fui cercado por muitos, que parabenizavam e terciam elogios sobre a palestras, quando ouvi alguém chamar, Toinho, venha cá! era Dom José Freire, que novamente pediu-me para contar a história do mulçumano plantador de batatas, para gargalhada da platéia. Então eu disse: tem uma segunda parte, a partir daquele dia, passei chamar Dom José de "refresco de fumo com bolo de macambira".
-Êle disse: não entendi!
-Eu, já viu coisa mais ruim!
Causou um certo constrangimento, mais tarde fiquei arrependido, mas continuamos a ter uma convivência de respeito, e nunca mais fui invocado a falar da mentira engarrafada.
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