CADA TÁBUA QUE CAIA, DOÍA NO CORAÇÃO...
Fui testemunha de um fato muito triste, deste tipo que dá diploma a insensibilidade humana.
Existia em Marcelino Vieira, um lindo e grande sobrado, pertencente ao meu avô, José Marcelino de Oliveira ( que tinha o título de coronel), e que era sem dúvida, o prédio mais imponente da cidade, ficando em uma esquina no centro, ao lado do mercado publico.
Na lateral esquerda, tinha uma área livre, que fazia parte da casa de sua propriedade, em que morava, tio Tarcízio.
Em um tempo em que não existia cimento e não se fazia uso de concreto e ferro, para dar sustentação as paredes, usava-se apenas a cal, misturada com barro, e se fazia necessário que qualquer construção que tivesse mais de um andar, tivesse paredes dupla.
Os tijolos tinham tamanho descomunal, e alinhados duplamente, davam as paredes uma largura de pelo menos 50 cm. e os vãos de portas e janelas, tinham como sustentação das paredes que continuariam a subir, vigas de miolo de aroeira, que tinham resistência comparada com o ferro.
Composto por vão terreo, primeiro andar, e um sotão, que seria o segundo andar, só que de proporções bem menor, pois ocupava apenas a parte central, aonde a cumieira era mais alta, acompanhando a grande queda em duas águas.
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O piso entre os andares, era de madeira de lei, e quando caminháva-mos, mais parecia um trotar de cavalos.
Muitas vêzes subi até o sotão, repleto de andorinhas , que cuidavam de seus ninhos, e de morcegos que o tornaram o seu habitat. Sempre acompanhado de muitos meninos e principalmente do meu primo Gilberto, todos empunhando suas espadas de madeira, e morrendo de medo, mas dispostos a defender o seu castelo.
Com a emanicipação política de Marcelino Vieira, que era município até então de Pau dos Ferros, precisava de um lugar para ser a prefeitura da cidade, que fosse o mais central, e a escolha recaiu, sobre o nosso lindo sobrado.
Nada mais natural, que preservar a linha arquitetónica daquele patrimonio histórico, mas a insanidade humana, preferiu destruir, tombando literalmente o sobrado para dar lugar ao monstrego, que é até hoje a prefeitura da cidade.
Ano de 1953, eu tinha apenas 4 anos de idade, nas lembro da vibraçaõ do publico a cada lance de parede que vinham ao chão. Depois de destelhado, cavavam fendas nas paredes, por onde amarravam grossas cordas e dezenas de homens puxavam, provocando som de trovão, quando caiam.
Hoje o meu maravilhoso castelo, vive apenas nas lembranças do menino, que nunca deixei de ser.
Aquilo que leva mêses para ser construido, precisa de poucos minutos, para ser destruido.
Este é o instinto animal do homem...
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