TIO TOINHO MARCELINO
Quando estava de férias em Marcelino Vieira, muitas vêzes ia passar alguns dias, na fazenda Várzea Grande, do meu tio Toinho e tia Alaíde, sua esposa.
Homem, muito, forte, de mãos calejadas pela lida, era quase incansável, e um dos poucos entre os muitos filhos de meu avô, que herdou o gosto pela criação e agricultura, sabendo fazer proveito de tudo, acho até que foi um dos primeiros a reciclar, intuitivamente.
Lembro que ainda pequeno, vi em um armazém que tinha ao lado da casa, um girau (prancha de madeira, presa por arame, entre o telhado e o solo, na parte mais alta) com vários quadrados escuros, do tamanho de uma lata de 18 litros, e perguntei o que era aquilo? respondeu-me: meu filho, é sabão, quando abato uma rês, para consumo da casa e moradores da fazenda, aproveitamos o sebo, para fazer sabão.
Tudo que precisavam, tiravam da terra, estacas e varas para cerca, lenha para cozinhar, fabrico de tijolos e telhas para construção, e quase a totalidade dos alimentos.
Sua luta, começava antes do sol nascer e ia até o ocaso, terra rica, muitas fruteiras, os mais diversos animais: boi, ovinos, galináceos etc. para alimentar, dar água e fazer manejo.
Homem muito bonito, chamava à atenção, pela musculatura, pernas grossas de fazer inveja a muitas mulheres e principalmente pela mansidão e bondade. Falava baixo e pausadamente, sendo um anfritião exageradamente cortez, marca registrada da família.
Tio Toinho se multiplicara, pois tia Alaíde, e as filhas Zenáide (in memorian), Zeneide e Zuleide, eram exatamente iguais, atarefadas pelas muitas obrigações que faziam questão de assumir, apesar das muitas ajudantes que apareciam na casa.
Tudo era exagerado, aproveitavam as frutas da época e desmanchavam uma saca de açucar em doce de goiaba, outra de doce de caju, e ainda a rapa da gamela do engenho, que eram acondicionadas em potes de barro de 100 litros. Em giraus, acondicionavam queijos de qualho, de manteiga, manteiga de garrafa, gerimuns, em quantidade muito grande, parecia até que estavam se preparando para uma grande estiagem.
Nunca um irmão ou amigo, saiu de sua casa de mãos vazias, tia Alaíde, podia ter 200 kgs. de queijo, sempre achava que era pouco, pois seu coração era de partilha.
Após os deliciosos almoços, era comum ver as meninas, fazendo trabalhos manuais, todas moças lindas e casaidoras, eram prendas raras, tanto que foram verdadeiras fortalezas para os seus maridos.
Seu unico filho homem, Deinho, era meu ídolo, havia estudado na casa de meus pais, quando eu tinha aproximadamente 2 anos, e tinha por mim um grande afeto. Morava fora e quando em férias, brincava muito, jogava bola e acompanhava-me mas caçadas.
Certa vez, fomos eu e Junior de tio Ivo, ao mesmo tempo para várzea grande, e Deinho, tanto brincava, quanto provocava, rivalidade entre nós, só para se devertir.
Sua mãe nos achava muito parecidos, e todas as vêzes que ia a sua casa invariávelmente comentava: quando o vejo, é mesmo que ver Deinho.
Tendo Zuleide, casado com um primo, e a de perfil mais parecido com a mãe, assumiu a propiedade, enquanto tio Toinho e tia Alaíde, foram gerenciar a mais importante fazenda da região "João Gomes",
conhecida pela sua imponente casa.
Formavam um casal muito unido e feliz, e impressionante e que pareciam sempre ter um mesmo objetivo, sem que ouvesse nenhuma combinação, eram realmente almas gêmeas!
Com a partida repentina de tia Alaíde, viveu muitos anos de saudade, apesar da grande assistência que recebia dos filhos e netos
Morreu, este ano com 97 anos de idade.
Lembranças inesquecíveis!
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