ESTUDANDO INTERNO
O primeiro semestre do ano de 1960 e alguns dias do segundo semestre letivo, fui estudante do internato do COLÉGIO DIOCESANO SANTA LUZIA, sendo um dos quatros menores de 14 anos, recebendo cuidados diferenciado e algumas regalias, por parte da direção.
Os outros, eram William (Apodi), Expedito, conhecido por charuto (Alexandria) Adair Vale, o bodinho cheiroso, cujo primo, Otoni, o bode cheiroso, era também interno (Gov. Dix-Sept Rosado).
Exestiam três dormitórios, divididos por faixa etária, sendo que nós quatro, ficávamos em um quarto, vizinho aos quartos em que dormiam, Pe. Sátiro e Pe. Alcir. O de maior numero de internos e onde concentrava os maiores rolos, brigas, furto de merenda etc. era o da faixa de 14 a 18 anos, e por fim o dos maiores de 18 anos.
Embora a disciplina fosse muito rígida, as regras eram quebradas com frequência, no que resultava em severos castigos. Certa vez, descosturaram, o viés vermelho da calça da farda de Otoni (bode cheiroso, alusão ao fato de não gostar de tomar banho, bem, é o que diziam, nunca observei!) enquanto dormia, amarraram um dos braços na cama, e na outra mão, colocoraram o tamanco de solado de madeira (ainda não existia havainas, que quando surgiu, era sandália japonesa), com o solado voltado para cima, e acenderam um mosquito de fósforo na testa do mesmo.
Quando sentiu a pele queimando, institivamente, levou a mão a testa, com tanta força, que o galo subiu imediatamente.
Em certos periodos do ano, fazia tanto frio a noite, que chegava a formar cerração em volta do colégio, e estre fato, deu-se em uma noite bastante fria! Como não apareceram os culpados, Pe. Sátiro, colocou todos de cueca em frente a sacada do primeiro andar, virada para a quadra, e obrigando de instante em instante, tomar um banho frio. Vi muito neguinho chorando e rogando aos céus.
Otoni e Adair eram os alunos mais aplicados do colégio, e hoje são médicos, o primeiro é de renome em Fortaleza, e o segundo em Mossoró, já tendo sido prefeito de sua terra.
Havia horário cronometrado para tudo: dormir, levantar, tomar banho, capela, café da manhã, aula, almoço, salão de jogos ou repouso, sala de estudos e atividades, recreação, banho, jantar, capela horário livre, dormir.
Saída aos domingos, se tivesse bom comportamento na semana, e notas na média, existindo para isto os bedéis, que apontavam os que podiam ou não sair. O bedéu de minha turma era Aproniano, cara muito legal, que teve morte ainda muito jovem.
O meu seleto e pequeno grupo, era totalmente isolado pelos maiores, que só se aproximava da gente, para fazer maldadades, capilé, tapa na cabeça, cocorote, dedadas e obrigar a fazer mandados.
Lembro apenas de dois dos maiores, que me davam atenção, Miguel Veras, e João Bosco. Em contrapartida eu tinha uma algoz, conhecido por Macau, que não perdia a oportunidade de judiar, muitas vêzes fazendo-me chorar.
Mas, eis que de repente, mais que de repente, ganhei dois protetores, do tamanho de um armário, os meus primos e irmãos LICURGO NUNES TERCEIRO E LICURGO NUNES QUARTO, que na primeira vez que presenciou Macau, me dar um cocorote, no salão de jogos, quebrou o taco da cinuca na cabeça dêle, e muito bem orientado, passei a dar dedadas, toda vez que Macau passava por mim.
Ganhei respeito, colei nos primos e passei a conviver com os maiores. Adorava as noites de lua cheia, todos deitado na quadra a contar histórias.
Apesar da falta de imaginação das cozinheiras, que dificilmente variavam o feitio dos pratos, principalmente no jantar, que todos os dias era sopa, feita com sobras do almoço, com o mesmo cheiro, sabor e cor, arre! Até hoje não gosto de sopa! Os dias festivos eram comemorados com galinha, e se havia primeira comunhão, o café era feito pelas mães, então, era espetacular!
O meu período de interno, é inesquecível! aprendi a ter disciplina, a conviver com um grande grupo, de realidades e formação diferente, e principalmente a respeitar, para ser respeitado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário