A CARTA CLONADA
Por mais de 60 anos, morou na casa dos tios Ivo e Lourdes, uma senhora, por nome de TÊ, confesso que até hoje, não sei o seu verdadeiro nome , deduzo que Terezinha. Pequenininha, magra de aspecto muito frágil, era uma verdadeira fortaleza na coragem e força para trabalhar.
Ajudou a tia Loudes a criar os filhos, impunha respeito e controle, foi muita amada por todos, até sua partida, muito recente.
Era irmã de Nonato Preto, muito querido compadre do meu pai, e tinha dois filhos: Francisco e José Gomes da Silva, popularmente conhecido como, "ZÉ GOBIRA" que foi criado na casa dos tios, como filho, irmão e nosso primo.
Baixo, um pouco gordinho, andar ligeiro e rasteiro, era uma destas pessoas que parecia eternamente feliz, com um riso sempre franco e jeito engraçado. Muito conhecido na cidade, falava com todos e cativava pela sua simpatia. Vivia assoviando, o que fazia com maestria, parecia um instrumento musical.
Querendo sempre agradar, não tinha opiniões firmes, se chegasse dizendo que determinada coisa é pedra, e você retrucasse, imediatamente dizia: é mesmo né, não é não, e isto que você diz
Durante uma das férias que passei em Patu, já ficando rapaz, passei a dormir na fábrica de calçados do Sr. Elpídio Lopes, que à noite, virava republica, para os funcionários solteiros e amigos, inclusive Zé Gobira.
Em uma festa na cidade, arranjou uma namorada, que morava na cidade vizinha de Almino Afonso, distante aproximadamente 40KM de Patu. Era muito comum nesta época, nascer e morrer, sem nunca ter saido de sua cidade, não existia linhas de transportes, sòmente carros fretados. Se bem qua a região era atendida por linha ferrea, ligando várias cidades, duas a três vêzes por semana.
Combinaram trocar correspondência, e embora alfabetizado, sua caligrafia não era muito boa, e ditou a sua primeira carta para ser escrita, por sua irmã de criação, Noélia. Posta no correios, ficou ansioso a espera da resposta, que mesmo entre cidades próximas, demoravam muito a ser entregues.
Certo dia, entreou em casa correndo, balançando um envelope, que foi rapidamente rasgado e começou a ler em voz alta e a comentar.
MEU GRANDE AMOR RITA ( coitadinha, tava tão aperriada, que ao invés de colocar o meu nome, colocou o dela)
O motivo desta é dar minhas notícias e saber as suas (espía, escreveu a mesma coisa que eu)
Estou com muitas saudades, desde que você voltou, que passo as noites pensando em você ( ah, coitada! não sabe fazer carta, tudo que eu disse, ela diz também)
Continuou lendo e fazendo comentários a cada paragráfo, até o desfecho final.
COM MUITO AMOR E CARINHO
BEIJO!
Gobira ( agora endoidou de vêz, ao invés de assinar o nome dela, assinou o meu)
Foi aí que Noélia que estava ouvindo a leitura, achando muito estranho, pediu: deixa eu ver, mas esta é minha letra!
A CARTA HAVIA SIDO DEVOLVIDA, COM A OBSERVAÇÃO DE ENDEREÇO NÃO EXISTENTE.
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