sábado, 15 de setembro de 2012

TIOS TARCÍZIO  E TIA EVILÁSIA


Moravam na casa grande da cidade, que pertencera aos meus avós, em Marcelino Vieira, que era para dar guarida aos 10 filhos, muitos sobrinhos e quem mais chegasse. Da sala para a cozinha era quase uma caminhada, cômodos espaçosos e quase desprovido de mobiliário, mas com tudo que era necessário, principalmente calor humano e acolhida.
Tinha uma pequena criação de gado, que fornecia leite franco para todos, a venda de um animal, nos momentos de aperto e complementava a renda com um jeep e mais tarde uma veraneio que pegava fretes e fazia viagens fretada. Esta profissão era mais a seu feitío, pois gostava de conversar e conhecer novos lugares e pessoas.
Com visão futurista, encaminhou os filhos para estudar em centros maiores, apesar do grande sacrifícios que fazia para mante-los, contando com ajuda de alguns irmãos que os recebiam em suas casas, e a medida que iam crescendo partiam para morar na casa dos estudantes, abrindo vaga para os outros.
Seu grande sacrifício, foi recompensado, e hoje sua grande prole, vivem em melhores e até excepcionais condições. Faço questão de destacar a humidade e aceitação de seus filhos que tinham o mínimo, mas nunca reclamaram, muito pelo contrário, fizeram força para vencer. Vi poucas pessoas estudiosa como José Ilo.
Lembro que todas as vêzes que vinha a Mossoró, deixava um dinheirinho para seus filhos José Ilo e Lisboa, e também um pouco para mim.
Tia Evilázia, era de uma simplicidade e de uma mansidão tão grande, que as palavras quase que susurradas, saiam devagar e pareciam esticadas.
Comidinha muito simples e pouco variada, mas de um tempero delicioso, com aquele gostinho que só panela de barro em fogão a lenha, consegue dar.
Passava o dia ocupada nos afazeres domésticos, e a costurar roupas para os de casa.
Mais tarde mudaram para Mossoró, e o destino lhes impôs, golpes duríssimos, perdendo sua filha mais velha, Socorrinha, que era o grande estéio da casa, resolvendo tudo e participando das despesas, vindo a falecer de toxoplasmose gravídica.
Antes disto, já haviam perdido o filho Gilberto em um acidente de moto, durante a copa do mundo de 1974, que vivia na casa de Tio Ivo, como estudante.
Para completar a tragédia, seu filho Chichico, ainda menor de idade, foi assassinado por um amigo covarde, que ceifou sua vida, sem nenhuma chance.
Impressionava a conformação dos tios, cujos lamentos não passavam de sussurros e a dor embora visível era contida, com a fé que Deus estava a cuidar deles.
No enterro de Chichico, estava com tio Tarcízio, quando um membro de nossa família, disse que estava só esperando a ordem dele para fazer a vingança, e diante da negativa deste, disse: não me conformo em ver o sangue de uma familiar, ser derramado impunemente, começo pelo pai dele e êle vai aparecer.
O tio retrucou de imediato, não faça isto! o pai deste garoto, é meu amigo e além do mais, não vai trazer, meu filho de volta, o que está feito, está feito...
A tia Evilásia adoeceu gravemente, ficando enferma e sem mobilidade, por mais de 3 anos, não falava, não tinha movimentos, e alimentáva-se por sonda. Dependia de cuidados permanente em tempo integral de enfermeiras cuidadoras, sob o comando incansável de sua filha Gerusa, que praticamente abondonou sua casa, para dedicar-se a mãe. Não esquecendo da preciosa ajuda de Tarcizinho, que enquanto os pais foram vivos, permaneceu solteiro.
Sempre, limpa, cheirosa, e pasmem! sem uma escara sequer, pesava pouco mais de 30 kg, mas tinha um semblante tão sereno que mais parecia um anjo!
Pouco tempo depois, tio Tarcízio, começou a apresentar lapso de memória, e também ficou prostado, e mais uma vez Gerusa e Tarcizinho se superaram nos cuidados. Assim como fiz com a tia, fui muitas vêzes visita-lo e ficávamos cantando as musicas de Luiz Gonzaga e Nelson Gonçalves, que êle tanto gostava. Ficava pedindo musicas, mas nunca fechava a frase, então cantava qualquer uma e dava certo.
Apesar de ser um pouco hipocondríaco, tinha um espírito brincalhão, e gostava muito de fazer pequenas gozações com a tia Evilázia, sem nunca no entanto, conseguir tira-la do sério.
Viveram harmoniosamente, por mais de 50 anos, provando para todos, que a verdadeira riqueza está no amor e paz de espírito.
Eu sempre amei muito meu tio Tarcízio, mas foi quase no final de sua vida que eu tive a prova inconteste que a recíproca era verdadeira. Quando passei a conviver com Fabiana, um dia de domingo, êle chegou em minha casa, juntamente com Tarcizinho, e ao ser apresentado a ela, disse: vim conhece-la, dar meus parabéns e dizer: "Este é um menino de ouro, conheço desde pequenininho, e nunca vi um mau feito, cuide bem dele".
SALVE!

Um comentário:

  1. Deles eu me recordo bem!
    Tarcizinho foi muito presente em nossa casa e até hoje demonstra um carinho imenso por todos nós, sempre que encontra com a gente. =D

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