quinta-feira, 25 de outubro de 2012

OS ENCANTOS DO GRAMOFONE

Procedente da cidade de Umarizal / RN, chegou para trabalhar com meu pai na função de sub-gerente, um moço muito bonito de abitos refinado, muito educado,  roupas elegantes e sapatos clássicos, e trazendo na bagagem a novidade maior que até então aparecera na cidade, um gramofone.

Seu nome era, Aluízio Rocha, que ocupou um quarto anexo a nossa casa, com uma porta de comunicação, com fechadura por dentro do quarto, mas que o mesmo deixava aberta, praticamente o dia todo, aceitando a nossa presença e brincando muito conosco, numa empatia mútua e demonstrações de carinho de ambas as partes, sempre nos enchendo de goluseimas e brinquedos.

Entre as muitas coisas boas, trazia um GRAMAFONE VICTOR TALKING MACHINE, acondicionado em uma bela maleta, e alguns discos 78 rotações de cantores de sucesso da época: Nora Ney, Marlene, Emilhinha Borba, as irmãs Garcia, Carlos Galhardo, Vicente Celestino, Orlando Dias, Sílvio Caldas, Francisco Alves, Ivon Curi, Augusto Calheiros, Luiz Gonzaga, Jorge Goulart e outros, com apenas uma musica de cada lado do disco.

Embora o funcionamento do gramofone, fosse simples, bastava dar corda, para girar o prato, puxar o braço articulado, até ouvir o estalido e colocar a agulha cuidadosamente na borda do disco, para iniciar a execução do mesmo, o processo de ouvir muitos discos, era lento, já que a cada disco tocado, tinha que trocar a agulha.

As agulhas, vinham acondicionadas em uma caixa de metal, escritas em uma lingua estrangeira com duzentas unidades e tinha as douradas, mais resistentes e as prateadas.

Bastava iniciar a musica, para a janela e porta do quartinho, ficar cheio de curiosos, sendo que com o tempo chegavam a solicitar as musicas que mais lhes agradava.

De minha parte, era completamente encantado pelas musicas de Orlando Silva e Gonzagão e em particular a musica, O PADROEIRO DO BRASIL, que só ouvi quando criança e a uns 5 anos atrás, na cidade de Juazeiro do Norte / CE, estava a trabalho, quando na principal rua da cidade (Rua São Pedro) um serviço publico de auto falante, fez com que eu parasse e ficasse muito emocionado, com Maria Bethania, interpretando a mesma.

O PADROEIRO DO BRASIL (Ary Monteiro e Irany de Oliveira )

Em toda casa tem um quadro de São Jorge
em toda casa onde o santo é protetor
num barracão, num bangalô de gente nobre
há sempre um quadro deste santo salvador
quem é devoto é só fazer uma oração
que o guerreiro sempre atende
dando a sua proteção.
Por isso mesmo, não devemos esquecer
a grande data, dia 23 de Abril
vamos cantar, com alegria e prazer
porque São Jorge é o padroeiro do BRASIL.

Era rica da discografia brasileira, com musicas melodiosas e letras poéticas, que aprendi, cantei e canto para embalar os meus filhos de ontem ( a mais nova, Maria Cecília, com 29 anos) e os de hoje, sendo Antonio Fernando o temporão, com apenas 4 anos, a coisa mais linda, cantando CARINHOSO.


sexta-feira, 19 de outubro de 2012

A VIDA ERA LÚDICA

A constante busca do prazer, fazia com que vivesse-mos em movimento, criando brincadeiras das mais diversas formas, sem que implicasse em custo nenhum.

Era muito difícil ver uma criança com brinquedos manufaturados, e geralmente só ocorria na época natalina, para uns poucos sortudos.

No entanto, ao contrário do que se pensa, as crianças brincavam o dia todo, usando na maioria das vêzes, apenas o que a natureza oferecia, em um exercício constante de criação, e  fantasia.

Bolas de meia, ossos, que dependendo do tamanho, era touro, vaca ou bezerro. Sabugo de milho, que enrolado em um pano e colocados alguns cabelos da própria espiga, viravam bonecas, carrinhos de rolamento (rolimã), rolamento que viravam roda, impulsionado por uma vareta de arame. Bonecos de mamulengo, confeccionados com raiz de imburana ou pinhão, pinhão de goiabeira, que sendo madeira forte, aguentava as disputas, peteca, feita com um carretel (retrós) e penas de rabo de galo.

Alguns brinquedos eram usados materiais descartados, como: lata de sardinha ou doce marmelada, que viravam carrinhos ou trem, lata de leite em pó, que fazia roladeira individual ou multiplas, em comboio, com latas de leite condensado, confeccionava telefone

Com o barro, fazía-mos panelas, tijolos para construir casinhas e balas para as baladeiras (atiradeiras) ou badoque e roi-roi. Com madeira: gaiolas, açaplão, fojos, arapucas e carrinhos, além de currupios, feito com pedaços de cuia ou catemba de coco. Caixas de sabonetes, fósforo etc. confeccionava mesas, cadeiras e sofas.

Balanços com os mais diversos materiais (pneus, tábuas etc), pernas de pau, e sinuca, com as tabelas de borracha de câmara de ar.

No periodo da safra de caju, a castanha, era usada em diversos jogos de perde e ganha, tais como:
-BITELO : era feito um pequeno monte de terra, e colocada a maior castanha (bitelo), e marcada uma distância, em que os competidores, um por vez, tentava derrubar o bitelo, e quando ocorria, aquele que acertou, recolhia todas as castanhas atiradas para êle.

-BURACO : funcionava quase da mesma maneira, só que ao invés do bitelo, era feito um buraco no chão, e aquele que colocasse primeiro uma castanha dentro do buraco, recolhia todas para si.

-PÉ DE PAREDE : os competidores atiravam de uma distância pré estabelecida, uma castanha, com a intenção que ela ficasse o mais próximo possível da parede, aquele cuja castanha ficou mais próxima, recolhia todas as outras.

Algumas brincadeiras eram um tanto perigosa, com risco de machucar e até faturar ossos, como era o caso do GALAMARTE ou BANGALÔ, em que enterrava um toco de jucá no chão, deixando uns 60 cm de fora, com uma ponta aguda, onde deveria encaixar um longo tronco de carnauba, com um buraco no meio, em que era colocado carvão, para quando atritado, produzir o som do carro do boi.
Sentavam 3 a 4 meninos de cada lado, e com os pés impulsionavam no sentido horário, e conforme ia aumentando a velocidade, o tronco de carnauba desencaixava do toco, provocando uma queda coletiva.

A noite, vinha as brincadeiras de rodas, em que meninos e meninas se misturavam: Ciranda, cirandinha, pai Francisco, mavé-mavé, anel e a minha preferida: "lado direito está desocupado" que fazia ser ocupado, sempre por Graçinha Rocha, e ela por mim, e assim começavam os namoricos.

Hoje, vendo meus filhos e as crianças no geral, fico muito penalizado, e vejo que com muita tristeza, em tenra idade, substituir as lindas bonecas e carrinhos de controle remoto, por tablete e video games.

Tenho um projeto, que preciso de ajuda, mas gostaria de ir as salas de aulas de crianças até 10 anos, ensinar a usar as mãos, confeccionando brinquedos simples e interessantes.

BRINCANDO COMO ANTIGAMENTE.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

TIO VICENTE DE PAULA

Minha primeira lembrança de tio Vicente, era muito pequeno, acho que aconteceu na primeira visita de tio Gilberto Marcelino, que morava no Rio de Janeiro, e todos os familiares foram para uma grande recepção, na fazenda Várzea Grande, que pertencia ao meu avó Cel. José Marcelino, e que após a sua morte, coube ao tio Vicente administrar, tomando de conta das terras, gado e do engenho de cana de açucar.

Duas coisas me chamaram a atenção naquele dia, o tamanho de tio Vicente, que tinha mais 1,80m e a beleza dos olhos, que mais tarde encontrei iguais em Gagaça, minha irmã que eu diria que eram furtacor ou camaleônico, pois variavam entre o verde e o azul, muitas vêzes dependendo da claridade ou cor da roupa que usava.

Outra, foi uma disputa de tiro ao alvo, em uma lata de doce, colocada à distância, em que todos os tios, Tarcízio, Gilberto, Jamir, Paulo, Toinho e o próprio atiraram em rodízio, sem que acertasse, e de repente mamãe pediu para atirar e acertou o alvo em cheio! ganhando o apelídio de pistoleira.

Em uma outra oportunidade, quando fui passar alguns dias, na casa de tio Toinho, na Várzea Grande, estive em sua casa, onde comi alfinim com queijo de qualho, e vi aquela ruma de mulheres bonitas, que eram suas filhas:Docarmo, Terezinha, Lourdes, Lindalva, Salete, Elizabhet, Lêda e Sonia, além dos filhos: José e João Bosco (in memorian), todos nascidos, naquela propriedade.

Alguns anos mais tarde, já estudando em Mossoró, pude ter uma maior aproximação com tio Vicente e tia Lilía, suas esposa que era prima do meu pai, que vendo a necessidade de mudar para um meio maior, em que pudesse dar educação aos filhos, aqui vieram morar.

Estive algumas vêzes em sua casa, por trás da igreja São Vicente, onde cultivava alguns pés de mamão e hortaliças, pois nunca perdera o gosto pela terra e o cultivo.

Depois morou em uma casa, perto da fábrica de gelo, e em frente ao atual Teatro Dix Huit Rosado, em que eu,  e os primos José Ilo e Lisboa, fomos muitas vêzes, ainda menino, ia para ler os muitos gibis e revistas de Disney, que seu filho, cadete da polícia, José Lopes, comprava aos montes, e os primos, para olhar e conversar com as belas primas moças.

Quando meus pais vieram morar em Mossoró, tio Vicente já morava na Rua Treze de Maio, e em minha casa, estudavam os primos Ivo Jr. e Gilberto,  todos os três apaixonados pela prima mais nova, Soninha, que era um broto lindo e de pernas muito grossas e bem torneadas, mas o medo de tio Vicente era maior!

O gosto pela terra, continuava enraizado, e tinha mãos mágicas para plantar. No quintal desta casa, vi um pé de banana maça, cujo cacho, tinha mais de 400 frutos, e que precisou ser escorado para suportar o peso.

Muito bonito, e com grande porte, tio Vicente era acolhedor, gostava muito da família, no que contava com a participação efetiva de tia Lilía.

Tinha um riso contido, de canto de boca, mais muito constante, no que parecia as vêzes angelical e as vêzes irônico, pois gostava muito de brincar e tirar sarro com os sobrinhos.

No caminho para o trabalho, passava em frente a casa em que moráva-mos, que tinha janelas muito amplas, e sempre que avistava algum de nós, chamava a atenção dos que estivessem presentes, e apontava, dizendo: espia os beradeiros filhos de Lula! olha os beradeiros de José da Penha, e as vêzes mandava as minhas irmãs, vestir uma roupa, pois era tempo da mini saia, e elas ficavam loucas, enquanto que ele saia rindo.

Até que um dia, elas criaram coragem e disseram: manda Lèda, sua filha, vestir também, é menor que a nossa.

Mas a grande descoberta foi quando souberam, que ele detestava quem lhe tomasse a benção, que respondia sempre, "para que esta besteira", então o jogo se inverteu. As meninas ficavam a espreita e quando ele se aproximava, gritavam todas ao meus tempo, "A BENÇÃO, TIO VICENTE"  e sem que hovesse nenhum acordo prévio, a paz foi restabelecida.

Trabalhando na Receita Estadual, era de uma integridade a toda prova, trabalhando em postos fiscais de muita movimentação, como São Romão e Alto de São Manoel, podia até beneficiar um pobre, por bondade, pois tinha um coração imensamente bom, mas jamais para tirar proveito ou ganhar propinas.

Foi um grande exemplo de bom marido e pai responsável, com grande visão futurista, trazendo sua enorme prole para um lugar, em que pudesse educar e encaminhar na vida, sendo que todos obtiveram sucesso, vivemdo bem, e mantendo a união familiar.

Quando fiquei viuvo e contraí nova nupcias, conheci o Sr. José, que era vizinho do meu sogro, e que havia trabalhado com tio Vicente, que afirmava de maneira categórica: Sr. Vicente, foi o homem mais honesto que conheci em minha vida, trabalhei com muitos fiscais, e ele foi o unico que nunca ví receber uma bola.

Depois foi posto em trabalho burocrático, em que fui muitas vêzes, resolver problemas da empresa que trabalhava, tendo sempre a sua acolhida gentil e amável, em que perguntava por todos de minha casa.

Gostaria de ter convivido mais com tio Vicente, pois teria muito a ganhar.

SAUDADES!


VENÂNCIO, O PURO

Era muito comum a figura do agregdo. Pessoas que nasciam, viviam e morriam, em uma determinada fazenda ou no seio de uma família abastada, e trabalhavam a vida toda, sem paga, em troca de moradia, alimento e algumas peças de roupa, geralmente usada, sem nunca sair do lugar.

Muitos eram decendentes de escravos, que após a Lei Áurea, ficaram sem saber o que fazer com a sua liberdade, pois não tendo ofício, a sobrevivência ficaria muito difícil. Continuaram jutos ao seus agora benfeitores, constituiam família, e criavam os filhos, que herdavam sòmente a serventia.

Em muitos casos não miscigenaram, mantendo a pureza da raça africana, Este era o caso de Venâncio,negro muito tosco, com pouco mais de 1,40 M de altura, olhos negros, amendoados e pequenos e lábios muito grossos e virados, chegando na parte inferior a mostrar a mucosa da boca, e de um rosa tão intenso, que parecia estar de batom.

Falava pouco e com muitos erros, tinha um pouco de gagueira, e as palavras quando vinham, pareciam ser jogadas para fora da boca.

Era agregado da fazenda Baipendi, de Antonio Gurjão, sendo responsável por grande parte do trabalho pesado, que lhe deu uma compleição física invejável. O homem era só musculos, apesar da baixa estatura, tipo físico que nós nordestinos, chamamos de "torado no meio" ou "tamborete de forró" ( quando a pessoa e pequena e forte).

Como o sítio era muito próximo da cidade de José da Penha, Venâncio aproveitava as horas vagas, para ganhar algumas pouca moedas, pilando milho ou arroz em algumas casas da cidade, ganhando por "cuia" medida que equivale a 5 litros, e fazia de maneira rápida e eficaz, usando duas mãos de pilão, uma em cada mão, em um rítmo compassado e continuo.

Parava para limpar o arroz, soprando as cascas, deixando só os grãos, ou para peneirar o milho, separando o xerém (quirera) do grão maior, do qual era feito o munguzá.

O fato é, que por sua destreza, não dava de conta, de atender as muitas solicitações, pois dizíam que quebrava poucos grãos, dando qualidade ao produto final.

Muito satisfeito com os poucos trocados, de repente um fato novo, mudou a vida de Venâncio, é que a tecnologia chegou a cidade, em forma de uma "DESPOPADEIRA" de grãos, em cujo prédio, foi aberto um grande letreiro com a grafia errada, "DISCOPADEIRA DE ARROZ E MILHO" que foi agregada a fala local, como correta.

Trabalho muito rápido e barato, reduziu em muito a clientela daquele belo exemplar humano de muita força e técnica apurada, pela repetição de suas tarefas. Restando alguns poucos e fiéis clientes,
que afirmavam que  a despopadeira, quebrava muito os grãos, e que Venâncio fazia muito melhor.

Nunca soube a idade de Venâncio, mas calculo que se vivo, tenha em torno de 80 anos.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

PAGANDO PRENDA

As crianças de minha época, tinham uma imaginação muito fértil, pois não existindo a televisão, que hoje ocupa todo o tempo dos pequenos, com programas na maioria, futeis, violentos, consumistas, e indutores, precisavam preencher as horas do dia, que parecia muito longo, com multiplas atividades.

Havia muito mais sociabilidade, confiança e consolidações de amizades, para toda a vida.

Algumas brincadeiras interessantes, morreram no tempo, pois só funcionavam em um ambiente de liberdade total, em que as crianças podiam sair, visitar outras casas e pecorrer livremente as ruas da cidade, sem nenhum temor.

Três destas brincadeiras eram: Bom dia, folhinha verde e arrei, que você podia brincar, com quantos parceiros quizesse, previamente combinados.

BOM DIA! aquele que desse bom dia primeiro, contava um ponto, até  completar o placar de dez, que seria consagrado vencedor, e o perdedor deveria pagar a prenda combinada, que geralmente era: sabonete, bombons, rapadura e as vêzes brinquedos.

FOLHINHA VERDE - funcionava também com pagamento de prenda, e a contagem até dez. Todas vêzes em que as partes combinadas, se encontravam, dizia um para o outro: "folinha verde" e este deveria mostrar a folha verde de uma planta qualquer, que conduzia no bolso, cós da calça ou
qualquer outro lugar.

ARREI - sempre que estivesse comendo, qualquer coisa, e o adversário gritasse arrei! passava o que estava comendo para este.

Eu só paguei prendas, nunca consegui ganhar! Com quem eu mais brincava era com Maria, filha de Nonato Preto, que preparava os mais variados ataques de surpresa, se escondendo nos lugares mais improváveis, e surgindo de repente a gritar,  BOM DIA, FOLHINHA VERDE, OU ARREI.

Ganhava sempre de lavagem (goleada), nunca tive a menor chance, surgia por trás de cerca, trepada em pé de ficcus, carroceria do carro do vizinho, janela lateral de nossa casa e até de dentro da latrina(sanitário) que ficava no quintaL, separado da casa, sempre com aquele grito espichado.
BOM DIIIIIIIIIIAAAA.
QUE BICHINHO É ESTE

Os bons moços da cidade, que partiam para trabalhar no Sul do país, grande numero voltava antes de completar um ano, e os que lá permaneciam, davam um jeito de vir pelo menos uma vez por ano, de preferência em periodo festivo: padroeiro, Natal, Ano Novo, Carnaval ou Semana Santa.

Alguns, melhores sucedidos lançavam moda, com roupas de tecidos finos, calça de tropical ou nycron, aquela do senta, levanta, senta, levanta, que não amassava nunca ou camisa volta ao mundo,  que não absorvendo o suor, escorria do pescoço, até o rego da bunda. Diferente dos que aqui moravam, que usava mescla, mesclita, brim ou cambraia.

As vêzes, apareciam uns mais mostrados, que vestiam as belas jaquetas e blusões de frio, em pleno sertão nordestino, com quase 40*., sapatos vulcabrás, e óculos de sombra espelhados, afinal era a afirmação da mudança de status.

Nova maneira de falar, muitas gírias, e sotaque paulista ou carioca, dependendo da plaga de origem, não importando muito o tempo de permanencia, as vêzes, 6 mêses, era o suficiente para a formação de uma nova expressão cultural, e incorporação de novos hábitos.

Este modelo, servia de exemplo e despertava o desejo de outros jovens, que partiam para uma aventura no Sul, e o conhecimento da realidade cruel, que era viver em uma metrópole, longe dos familiares, muitas vêzes desejando voltar, mas faltava o dinheiro da passagem.

Ficavam rezando para pegar uma carona com os filhos de seu Elízio: Sandoval, Edmilson, José Maia ou Luizinho, que vez por outra viajavam para São Paulo.

Certa tarde, chegou um jovem da família Soares, depois de uma permanência de 6 mêses, na cidade maravilhosa, com sotaque totalmente carioca, tanta gíria, que é era difícil entender o que dizia, causando furor até ao próprio pai.

Na noite deste mesmo dia, ocorreu um jantar na casa do preifeito, Sr. Osório Estevão, e ele, achou por bem participar, e sentou-se ao meu lado. Como entrada foi colocado, alguns pratos com umas bolachinhas pequenas, conhecida como: bolacha peteca, quando de repente o moço pediu-me: Toinho, por favor, passe as fichinhas. Fiquei sem entender, e repetiu com aquele chiado peculiar do carioca, as fichinhas, as fichinhas, e apontou para as bolachinhas.

Casa simples, sem água encanada, sem pia, para lavar o rosto, era costume pela manhã, lavar em uma bacia, e levar uma caneca com água para o quintal da casa, para escovar os dentes.

Cumprindo o ritual, o jovem dirigiu-se ao quintal com escova e água, quando deparou-se com a jumenta que antes ele, botava água em casa, com cangalha e duas ancoretas (pequeno barril de madeira), virou-se para o pai, e perguntou: "pai, que bichinho interessante é este?"O pai, já de saco cheio cheio, rspondeu: "É SUA MÃE, FILHO DE UMA ÉGUA!"

domingo, 14 de outubro de 2012

SAINDO PARA ALMOÇAR!

Um certo compadre do meu pai, embora tivesse uma das melhores condições da cidade, morando em casa boa e central, era conhecido por sua avareza, sendo mesquinho até para comprar as coisas mais básicas.

A mulher e os filhos, não passavam fome quantitativa, mas com certeza passavam fome qualitativa, alimentando-se basicamente de feijão e mugunzá.

Na época do inverno, a alimentação era melhorada, com o gerimun, batata, maxixe etc, produzido no terreno da família, bem como na safra de frutas.

Diziam, que ele nunca comprava a mistura: carne, frango, peixe, e nem tão pouco as verduras que eram vendidas na feira da cidade.  O maximo de extravagância que fazia, era comprar um corredor de boi (osso da perna) que era amarrado em um cordão, sobre o fogão, e mergulhado na panela do feijão durante a fervura, para dar gosto, e depois suspenso para ser utilizado nos dias seguintes.

No entanto, o compadre, saia todos os dias para almoçar fora.

Como era de hábito o almoço do sertanejo, era servido entre as 10 e 11 horas, e pontualmente as 9 horas, o compadre selava a sua burrinha e saia para o passeio matinal (digo: comerçal). Andava lentamente e parava sempre que visse alguém fora de casa, a espera do primeiro convite :" se apei, homem! " (desça do cavalo).

Ficava como quem não quer nada, jogando prosa fora, e quando percebia que a mesa estava servida para o almoço, iniciava o teatro, dizendo que já ia, pois o pessoal de casa estava a espera para almoçar, pois sabia que por educação e prazer em bem receber, tão peculiar à aquela gente, o convite para almoçar seria feito.

Ao ouvir as palavras mágicas: " fique para almoçar com a gente, nos dê este prazer!" não se fazia de rogado. Farto do almoço, não pagava nem com conversa, pois tinha uma rede em casa a espera.

Se por acaso alguma das casas tivesse um almoço parecido com  o da sua, era imediatamente eliminada, o que proporcionou com o tempo, uma seleção das que melhores passava, com comida farta e boa.

sábado, 13 de outubro de 2012

SÍTIO BAXIO

Adorava passar as férias no Sítio Baxio, no pé da serra de Luiz Gomes, de propriedade do primo de meu pai, Calixto Lopes, filho dos tios Ernesto Fernandes e América Lopes.

Terra rica, com muitos atrativos para uma criança, encantada com a vida da roça e as multiplas oportunidades de brincadeiras e lazer.

Calixto, era uma pessoa maravilhosa, muito tranquilo e de mansidão de cordeiro. Convivia com uma diabetes insulino dependente, que vez por outra descompensava, provocando crises de hipoglicemia.
Muito amigo de meus pais, era muito frequente, lá por casa, a quem mamãe dedicava toda atenção e cuidados alimentares, e nós na sua, principalmente na época da moagem.

Sua esposa Elita, hoje,. quase centenária, de baixa estatura e compleição física pequena, compensava com determinação, organização e controle absoluto sobre as coisas da casa e os muitos filhos: Hugo, Ivone, José Sávio (meu irmão muito querido, de saudosa memória), Gilberto, João Batista e Ernesto.

Embora os meninos tivessem os afazeres, tais como: botar água em casa, tanger gado para o pasto, beber, curral etc. não era empecílio para que aproveitásse-mos para brincar, passarinhar e pescar, enquanto o gado bebia. Nas horas vagas, muitas brincadeiras, banho de açude e futebol, jogado no grande pátio a frente da casa.

O terreno de baxio, era um verdadeiro Oásis, muitas fruteiras, plantação de cana de açucar, e a vazante do açude, que não parava de produzir, batatas, gerimuns, e tudo que plantasse.

Por trás da parede do açude, muitas bananeiras e os araças dulcíssimos, que embora houvesse a advertência para não comer muito, para não ficar entupido (privado), não conseguia parar, até que enchesse a pança.

Tudo era fartura, o açude muito piscoso, vez por outra, se fazia necessário diminuir o volume de peixes, que era tanto, que não paravam de saltar. Tinha o comprador certo, que vinha com sua equipe, fazia um dia de pescaria com redes, que eram estendidas, e a equipe a bater na água, para que o peixe malhasse.

Este era para mim, um dia maravilhoso, nunca ví tanto peixe junto, que enchia a caçamba de uma caminhoneta.

Duas da tarde, aquele lanchinho maravilhoso, com bolo, café fresquinho, e os melhores crespos que já comi, sempre com a presença atenciosa de Elita, que falava baixinho e de maneira muito carinhosa.

Vez por outra íamos ao Baxio de Cima, de propriedade de tio Ernesto, para pescar no grande açude, onde diziam existir Pemas, com quase 10 Kg. Nunca consegui pegar, nem de 1 kg.

Dos filhos de Calixto, José Sávio, João Batista e Gilberto, estavam mais próximos de minha idade, e eram os companheiros, nas maiorias das bricadeiras e fabricação de gaiolas a alçaplans de palha de coqueiro, cujo furos, por onde devia passar o palito, era feito com uma suvela ( pedaço de arame rígido, com a ponta afinada em uma pedra e cabo de sabugo de milho).

O engenho era o que havia de mais magnífico, mas este é um capítulo à parte...

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

SEGURA QUE O FILHO É TEU!

Nas cidades pequenas, a casa do vizinho, é o quintal da nossa, era muito comum naquela época, ter 4 ou mais casas, sem sequer uma cerca a separar, e as vêzes quando tinham, deixavam uma porteira para comunicação.

Esta intimidade, e o diminuto tamanho da cidade, favorecia ao fato de todos acabarem sabendo da vida de todos. Quem bebia, quem jogava, quem brigava com o conjuge, e até de coisas mais graves.

Havia um compadre dos meus pais, muito chegado a um carteado, que as vêzes esquecia do tempo em uma mesa de jogo, e que tinha fama de ser muito manicaca.

Sua esposa tinha uma voz esquisita, o que chamamos de táta, que geralmente faz com que as algumas palavras, tenham um som mais agudo, e pareça estar ralhando.

Vez por outra, ela ia até a casa de jogo, e dizia: Vicente, vamos para casa! Ali mesmo êle encerrava e a acompanhava. Este fato, fez com que fosse muito gozado pelos companheiros, que passaram a dizer que era furado na venta (nariz), feito boi de campinadeira (carpinadeira)

O boi é furado na venta, e colocam uma argola de metal, onde amarram uma corda, obedecendo ao comando do seu dono, indo para o lado que puxar, pois doi muito, se tentar ir para o lado contrário.

Tentando provar que não era manicaca, certa feita, ela chegou com a ordem de sempre, o que êle retrucou, dizendo que não iria. Ela insistiu por mais três vêzes e diante da negativa veemente, sentenciou: Vou mostrar como você vai! e saiu...

Pouco depois, voltou com o filho bebê, e inesperadamente jogou sobre o colo de Vicente e saiu correndo. A criança, pelo susto do ato repentino e pela falta da mãe, abriu um berreiro tão grande, que não restou outra auternativa, senão ir para casa.

QUEM PARIU MATEUS, QUE BALANÇE...
CIUMES DE VOCÊ... - 2


Em uma época, em que as mulheres, não cumprimentavam, nem tão pouco paravam para conversar com outro homem, se não estivessem acompanhadas do seu marido, D. Nenen, quebrava todas as regras, muito simpática, conversava com todos, quer fosse criança, homens ou mulheres.

Todas as vêzes que precisava, se dirijir ao comércio, igreja ou qualquer outro lugar da cidade, já que sua casa, ficava no final de uma rua, que dava para uma lagoa, passava em frente a casa de D. Anália, e se o marido desta, estivesse na calçada, parava, para um dedo de prosa.

Muito ciumenta, D. Anália, começou a ver naquilo, um namoro, e como falava alto e sem temor, passou a distratar a pobre senhora, e a jogar seu nome na rua, sem que tivesse a menor prova, daquilo que sua imaginação criava.

Certo dia, o nosso bom prefeito Osório Estevão, juntamente com Pe. Raimundo Oswaldo e algumas senhoras, resolveram promover uma festa para as mães pobres da cidade, de maneira que aquelas que tivessem um pouco mais, adotariam uma mãe, para doar um presente, naquele dia das mães, além de oferecerem os quitutes da festa.

Composta a mesa, quando as autoridades deveriam dar início as falas, eis que no meio do salão, alguém se pronuncia em alta voz: licença! licença! e foi logo pegando o microfone, e dizendo: cheguei hoje do Rio de Janeiro, a tempo de prestar a minha singela homenangem a minha mãezinha querida, e queria entregar-lhes este presente que eu trouxe.

Aberto o pacote, era um óculos escuro, estilo gata, com várias pedras brilhantes, em total desacordo com a idade da mãe, e foi logo colocando no rosto da mesma.

Uma voz de trovão ecoou no ambiente: Ai UMA PEDRA AQUI, PARA EU QUEBRAR, ESTE ÓCULOS NA CARA DESTA RAP...... Era D. Anália, corroida pelo ciume.

Mal estar geral, festa quase que acabada, animos exaltados, e mamãe, dando uma de bombeiro, tentando apagar o fogo de suas duas comadres.
TUDO É CIUME, CIUME DE VOCÊ, CIUME DE VOCÊ...


Um dos casais de compadres, mais queridos de meu pais, era o Sr. Lauro Borges e sua esposa Milica, de grande prole, maioria mulheres. Moças muito prendadas, principalmente na arte do corte e costura e bordados, sempre cheias de encomendas, que pela perfeição, extrapolaram as fronteiras de José da Penha e finalizaram com grande sucesso na capital alencarina.
Darci, Enide, Nice (fui secretária do meu pai, na firma), Edízia e outras, além de Divá (in memorian) e Nô

Seu Lauro, era um homem destemido, muito trabalhador, respeitoso e respeitado por todos, que vivia da exploração de um pequeno terreno, no sítio Angicos, e da compra de algodão, e que eventualmente gostava da loira gelada, e vez por outra, tomava algumas com meu pai, a quem convidava para ir na sua casa, sempre acompanhado de uma gostosa galinha ou peixe, que trazia do açude de angicos.

A ultima vez que o vi, tinha mais de oitenta anos, fui chegando e dizendo, falaram-me, que nesta casa não falta cerveja gelada, respondeu: nunca! foi abrindo a geladeira e trazendo duas, super gelada, e perguntando: mas quem é você? feito a identificação, a alegria foi a maior do mundo, e tomamos as frias.

Dona Milica, muito apaixonada, tinha muito ciumes, e ficava arranjando namoradas para o mesmo, até que um dia o maldoso, aproveitando a sua insegurança, resolveu dar uma ajuda.

O funcionário dos correios, Sr. Julio da Mata, entregou um telegrama, endereçado ao Sr. Lauro, que encontrava-se no roçado, a sua esposa. Como telegrama, geralmente trazia notícias ruins, e diante do fato de ter filhos e parentes, morando no Sul, foi logo abrindo, quase desfalecendo com o que lêra.

"CARMINHA, VIAJA AMANHàPARA CAÍCO.
ASSINA: PITINGA

Coitada! ficou super angustiada, inquieta, não parava de olhar para a rua, à espera do pobre homem, que ao chegar, foi recebido com a pergunta a queima roupa: "QUEM É ESTA TAL DE CARMINHA ? ficou sem entender nada, antes de qualquer explicação, vinham as acusações, "eu sabia, tinha certeza que tinha outra" olha aqui a prova! e balançou o telegrama, leia!

Leu e não entendeu, sei lá quem é esta tal de Carminha, e muito menos quem é Pitinga! Vamos falar com Julio da Mata, e seguiram os dois juntos e foram logo pedindo explicação: Julio, de quem é este telegrama?
- é para o senhor
- mas quem mandou?
- veja o que está escrito aí.
- leram quase que em uníssono
- não é nada disso não! não sabem ler? vou ler para vocês.

CAMINHÃO, VIAJA AMANHÃ PARA CAICÓ
ASSINA: PITANGA

Pitanga era proprietário de um caminhão e transportava o algodão comprado, pelo Sr. Lauro.
O SR. Julio da Mata, além do pouco estudo, tinha uma letra péssima, gerando todo o transtorno, já que escrevera, exatamente o que a bondosa, dona Milica, havia lido.

O nobre casal, viveu por muitos anos, e foram felizes, até que a morte os separou, e de sua decendência tem um bocado, de gente boa espalhda pelo o Brasil, inclusive um neto padre, que do meu conhecimento, é o primeiro filho de José da Penha, a ter vida eclesiástica.



sexta-feira, 5 de outubro de 2012

O PRIMEIRO ALCÁIDE

Conhecido como MATA, e fazendo parte do município de Luiz Gomes, foi emancipado políticamente em 31 de Dezembro de 1958, com o nome de cidade de JOSÉ DA PENHA.

Para muitos, a troca do nome, foi um alívio, pois existia uma versão, que Frei Damião, havia se sentido ofendido pelo povo da cidade, e diante do alto índice de violência que imperava na região, naquela época, teria dito: És MATA e MATA nunca deixará de ser.

Coincidência ou não, hoje é uma cidade pacata e de uma gente muito acolhedora.

Nosso primeiro prefeito, foi o Sr. Osório Estevão, homem simples, que vivia da agropecuária, em que tudo nele, era superlativo.

- Super bondoso
- Super simpático
- Super educado
- Super amigo
- Super pai e esposo

Município novo, pouco dinheiro, pouca força política, pois contava aproximadamente, com apenas 700 eleitores, era um verdadeiro desafio administrar.

Não podendo fazer obras expressivas, inteligentemente, optou por servir e atender o seu povo, o que fazia com muita presteza e paciência, tornando-se um verdadeiro pai da população da cidade, atendendo cada um, dentro das suas necessidades e da disponibilidade da prefeitura.

Dotou a prefeitura de transporte, primeiro um jeep bege, depois uma rural e uma kombi, que vivia a levar pessoas doentes, para serem atendidas, aonde houvesse meios, em um vai e vem, quase que constante.

Sua casa, sempre cheia, contava com a delicadeza e presteza de sua esposa, e filhas, Neuza, Bibia (in memorian) e Vanzinha, além do filho Didi (Edilson), espécie de secretário permanente, que mais tarde, foi candidato a prefeito, não logrando exito. E haja café a ser servido!

Registro que, seu Osório, antes de ser prefeito, perdeu um filho, Clóvis, vítima de mãos assassinas, e que embora a família, sofresse muito, nunca alimentou o sentimento vil da vingança.

Compadre dos meus pais, em minha casa, gozava do respeito e admiração, e até hoje, minha mãe aos 83 anos de idade, ainda comenta, ter sido compadre Osório, um dos melhore e mais bondosos homens que conheceu na vida.

Lembro perfeitamente, do seu tipo bonachão, jeito manso, sempre a sorrir, e de uma palavra que gostava muito de empregar: isto é um colapso!

Vez por outra promovia jantares em sua casa, para amigos e lideranças, e eu sempre me fazia presente, acompanhado pelos meus pais.

A cidade de José da Penha, tem muito agradecer, a este homem dígno!

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

SÃO FRANCISCO DE ASSIS, MEU SANTO PADROEIRO II

Um dos pontos marcante da festa, era o foguetório, que embora pobre, comparado com os de Santo Antonio na vizinha cidade de Marcelino Vieira, onde, tinha roda, telegrama e balões, encantava as crianças, com rojões, fogos de lágrimas e bateria de bombas.
Meu pai, sempre preocupado com o enorme estoque de algodão, nos depositos da usina, orientava e praticamente fiscalizava a soltura dos fogos, para o sentido contrário dos depósitos, para evitar um incêndio que certamente consumiria o quateirão todo.
Em uma bateria de bombas, colocada a frente da igreja, vi um terrível acidente com um amigo de infância, Assis, filho de um ferreiro da cidade. A bateria, concistia em um cordão pavio, amarrado em dois paus distantes, um do outro, como um varal de roupas, e penduradas várias e poderosas bombas,, a medida que o estopim queimava, iam caindo uma a uma  ao chão e estourando.
Assis, a exemplo de todos os meninos, estava a uma distância segura, e terminada a bateria correu para pegar uma das primeiras bombas que caíra, e que não havia estourado, quando de repente...bummmm. As víceras exposta, e quase todos os dedos da mão direita, e algumas falanges da esquerda arrancados, que saltava no chão, tal qual rabo de lagartixa, quando partido. Conduzido para Mossoró, obteve cura, e foi um dos amigos muitos ativos, que embora com dificuldade, usava até a baladeira, cujo gancho, prendia com os cotos dos dedos.
Nada era proibido, as crianças participavam de jogos de azar, argolas e tiro ao alvo, desde que tivesse dinheiro para tal.
Mas o parque, ah! o parque!... este sim, era o grande sucesso  da gurizada e jovens, a balançar nas canoas, cuja façanha, era encostar no pau central, carrossel mexico, que voava alto e rápido e os brinquedos mais lentos para os pequenos.
No mais, era encher a barriga de guloseimas: alfinins, em forma de bichinhos, suco de groselha, pirulito de tábua, algodão doce, pipoca, e manzapo, bolo de milho melado, feito com rapadura, coco e muitas especiárias, que nunca mais tive o prazer de comer, e que gostaria muito de encontrar a receita.
Compra brinquedos, como roi-roi, malabarista, avião, empurrado por uma vareta e feito de pinhão e para as meninas, móveis, feito de arame e linha de lã colorida.
No final dos anos 90, fui uma festa de São Francisco, que teve roda e telegrama, mas sem o glamour de antigamente.
VIVA! SÃO FRANCISCO DE HOJE! E MUITOS VIVAS PARA O MEU SÃO FRANCISCO, DOS TEMPOS DE CRIANÇA! VIVA, VIVA, VIVA!...
SÃO FRANCISCO DE ASSIS, MEU SANTO PADROEIRO

A festa do padroeiro, era o momento mais aguardado do ano, por todas as faixas etárias dos moradores da cidade, que se preparavam o ano todo, para o novenário e o grande dia do baile.
Gente pobre, que economizava, o seu pouco dinheirinho, para comprar, a roupa da festa, que geralmente, era a unica que conseguia comprar, o ano todinho, e seria usada também, no Natal, Ano Novo e em qualquer outra ocasião festiva.
Ao aproximar-se o evento, minha mãe virava consultora de moda, e compradora oficial de quase todos os sapatos e tecidos das moças da cidade. As revista O CRUZEIRO, da qual meu pai era assinante, eram folheadas sofregamente, a procura de modelos e inspiração para o vestido.
Durante o novenário, era grande a movimentação de moças, rapazes e crianças, que terminada a novena, prolongavam um pouco o horário de dormir, na paquera e brincadeiras, enquanto que os casais, formavam rodas de bate papo no patamar da igreja.
Durante o dia, o comércio, tinha um movimento bem maior, aonde todos ganhavam, desde o engraxate, Sr. Antonio Soares, vulgarmente conhecido por Antonio Macaco, até as banquinhas de bugingangas, doceiras, aviamentos, e joias.
Nas ultimas noites, as barracas e leilão, que culminava com o baile de gala, do grande dia!
Para aumentar a participação e disputa, eram criados os partidos, representandos por sua rainha, cuja vencedora, seria aquela que conseguisse arrecardar mais. De nomes vermelho, e azul ou borboleta e beija-flor, saiam a pedir prendas para os leilões e colocar fitinha identificadora da torcida, com alfinete, em lapelas de camisas, dos doadores.
A cidade ganhava um grande numero de visitantes: filhos ausentes, parentes, devotos e pequenos mercadores, que traziam muitas novidades, para a alegria de todos.
As esposas e filhos menores dos sitiantes, que dificilmente vinham à cidade, felizes e admirados com tantas novidades, não perdiam a oportunidade de registrar a ocasião, tirando foto com o lambe-lambe, com o pano de fundo, com a imagem de São Francisco de Assis.
A presença da banda de musica, a tocar a alvorada, as novenas e o baile, chamava à atenção de todos, e muitos saiam a acompanhar o seu percurso, da sede improvisada, até a igreja. Meu pai, era um destes, ficava abobalhado com a banda, parecia uma criança.
Era motivo de de muito orgulho hospedar um musico na sua casa, mas tinha aquelas casas que hospedavam vários: André Leite, Osório Estevão e a nossa. Durante os leilões, como forma de agradecimento, arrematavam prendas, bebidas e tira gosto, para os musicos.
A minha festa inesquecível, foi quando ficando rapaizinho, fomos uma turma, pedir prenda nos sítios, e iniciei a minha primeira paquera, com Gracinha, filha do casal amigo, Vicente e Mundica.
HOJE, 04 DE OUTUBRO, VIVA SÃO FRANCISCO!
DINHEIRO DE BRINQUEDO

Era muito comum, ver as crianças da cidade a olhar para o chão, a procura de maços de cigarros vazios, que seriam abertos cuidadosamente, dando um sentido longitudinal, e dobrados nas arestas laterais, de maneital tal, que mostrasse apenas a parte central, litografada.
 Estava pronto o dinheiro, que tinha o tamanho aproximado de uma cédula verdadeira, e era drobrado e muitas vêzes acondicionados em carteiras de cédulas, geralmente descartadas, pelos pais, por já não mais servir.
O valor do dinheiro, acompanhava o das notas verdadeiras em circulação, e eram determinados pelo valor e consumo dos cigarros, que davam a importância e raridade do dinheiro de brinquedo.
Os cigarros mais consumidos, dado a sua abundância, representava o dinheiro de menor valor que ía em escala crescente, até o de maior valor.
 ASTÓRIA, YOLANDA, BB, batizavam as notas de cruzeiro de menores valores, CONTINENTAL E HOLLYWOOD, as de valores medianos e a grande estrela, que correspondia a nota de um mil cruzeiros (conhecida, por um Cabral) era do cigarro COLUMBIA, com o seu lindo veleiro branco, de um apelo visual lindíssimo.
Como tinha muitos moradores da cidade, vivendo em São Paulo, Rio, e Brasília, a proximidade de Mossoró que era a cidade polo da região, e vizinha da cidade porto de Areia Branca, conhecida pelo grande volume de contrabando de cigarros, bebidas e perfumes, as vêzes pintavam algumas marcas importadas: CAMEL, CHESTERFIELD, VICEROY, LUCKY STRIKE, que por incrível que pareça, a propaganda, era feita por Papai Noel, fumando, e trazendo nas costas um saco, cheio de maços, surgerindo, que cigarros, era um bom presente.
Ter uma nota das marcas importadas, fazia o dono milinário e dava grande poder de compra, nas negociações, de brinquedos, castanhas, atiradeiras etc. O dinheiro de brinquedo era também usado em apostas das mais diversas: jogo de pinhão, jogo de castanha, sinuca, e até briga de galo.
Em uma época em que cigarros, chegou a ser receitado, como tratamento de algumas doenças pulmonares, pasmem! Surgiram alguns vendidos em farmácia, para o tratamento de asma, como o CIGARRO DE BELADONA. que vindo acondicionado em uma caixinha, não servia para fazer o nosso rico dinheiro, que também dava poder e comprava sonhos.
INFÂNCIA PLENA, DEVERIA DURAR, ATÉ OS 30 ANOS!

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

A CARTA CLONADA

Por mais de 60 anos, morou na casa dos tios Ivo e Lourdes, uma senhora, por nome de TÊ, confesso que até hoje, não sei o seu verdadeiro nome , deduzo que Terezinha. Pequenininha, magra de aspecto muito frágil, era uma verdadeira fortaleza na coragem e força para trabalhar.
Ajudou a tia Loudes a criar os filhos, impunha respeito e controle, foi muita amada por todos, até sua partida, muito recente.
Era irmã de Nonato Preto, muito querido compadre do meu pai, e tinha dois filhos: Francisco e José Gomes da Silva, popularmente conhecido como, "ZÉ GOBIRA" que foi criado na casa dos tios, como filho, irmão e nosso primo.
Baixo, um pouco gordinho, andar ligeiro e rasteiro, era uma destas pessoas que parecia eternamente feliz, com um riso sempre franco e jeito engraçado. Muito conhecido na cidade, falava com todos e cativava pela sua simpatia. Vivia assoviando, o que fazia com maestria, parecia um instrumento musical.
Querendo sempre agradar, não tinha opiniões firmes, se chegasse dizendo que determinada coisa é pedra, e você retrucasse, imediatamente dizia: é mesmo né, não é não, e isto que você diz
Durante uma das férias que passei em Patu, já ficando rapaz, passei a dormir na fábrica de calçados do Sr. Elpídio Lopes, que à noite, virava republica, para os funcionários solteiros e amigos, inclusive Zé Gobira.
Em uma festa na cidade, arranjou uma namorada, que morava na cidade vizinha de Almino Afonso, distante aproximadamente 40KM de Patu. Era muito comum nesta época, nascer e morrer, sem nunca ter saido de sua cidade, não existia linhas de transportes, sòmente carros fretados. Se bem qua a região era atendida por linha ferrea, ligando várias cidades, duas a três vêzes por semana.
Combinaram trocar correspondência, e embora alfabetizado, sua caligrafia não era muito boa, e ditou a sua primeira carta para ser escrita, por sua irmã de criação, Noélia. Posta no correios, ficou ansioso a espera da resposta, que mesmo entre cidades próximas, demoravam muito a ser entregues.
Certo dia, entreou em casa correndo, balançando um envelope, que foi rapidamente rasgado e começou a ler em voz alta e a comentar.

MEU GRANDE AMOR RITA ( coitadinha, tava tão aperriada, que ao invés de colocar o meu nome,  colocou o dela)

O motivo desta é dar minhas notícias e saber as suas (espía, escreveu a mesma coisa que eu)

Estou com muitas saudades, desde que você voltou, que passo as noites pensando em você ( ah, coitada! não sabe fazer carta, tudo que eu disse, ela diz também)

Continuou lendo e fazendo comentários a cada paragráfo, até o desfecho final.

COM MUITO AMOR E CARINHO
BEIJO!
Gobira ( agora endoidou de vêz, ao invés de assinar o nome dela, assinou o meu)

Foi aí que Noélia que estava ouvindo a leitura, achando muito estranho, pediu: deixa eu ver, mas esta é minha letra!
A CARTA HAVIA SIDO DEVOLVIDA, COM A OBSERVAÇÃO DE ENDEREÇO NÃO EXISTENTE.


sábado, 22 de setembro de 2012

CADA TÁBUA QUE CAIA, DOÍA NO CORAÇÃO...


Fui testemunha de um fato muito triste, deste tipo  que dá diploma a insensibilidade  humana.

Existia em Marcelino Vieira, um lindo e grande sobrado, pertencente ao meu avô, José Marcelino de Oliveira ( que tinha o título de coronel), e que era sem dúvida, o prédio mais imponente da cidade, ficando em uma esquina no centro, ao lado do mercado publico.
Na lateral esquerda, tinha uma área livre, que fazia parte da casa de sua propriedade, em que morava, tio Tarcízio.

Em um tempo em que não existia cimento e não se fazia uso de concreto e ferro, para dar sustentação as paredes, usava-se apenas a cal, misturada com barro, e se fazia necessário que qualquer construção que tivesse mais de um andar, tivesse paredes dupla.

Os tijolos tinham tamanho descomunal, e alinhados duplamente, davam as paredes uma largura de pelo menos 50 cm. e os vãos de portas e janelas, tinham como sustentação das paredes que continuariam a subir, vigas de miolo de aroeira, que tinham resistência comparada com o ferro.

Composto por vão terreo, primeiro andar, e um sotão, que seria o segundo andar, só que de proporções bem menor, pois ocupava apenas a parte central, aonde a cumieira era mais alta, acompanhando a grande queda em duas águas.
´
O piso entre os andares, era de madeira de lei, e quando caminháva-mos, mais parecia um trotar de cavalos.

Muitas vêzes subi até o sotão, repleto de andorinhas , que cuidavam de seus ninhos, e de  morcegos que o tornaram o seu habitat. Sempre acompanhado de muitos meninos e principalmente do meu primo Gilberto, todos empunhando suas espadas de madeira, e morrendo de medo, mas dispostos a defender o seu castelo.

Com a emanicipação política de Marcelino Vieira, que era município até então de Pau dos Ferros, precisava de um lugar para ser a prefeitura da cidade, que fosse o mais central, e a escolha recaiu, sobre o nosso lindo sobrado.

Nada mais natural, que preservar a linha arquitetónica daquele patrimonio histórico, mas a insanidade humana, preferiu destruir, tombando literalmente o sobrado para dar lugar ao monstrego, que é até hoje a prefeitura da cidade.

Ano de 1953, eu tinha apenas 4 anos de idade, nas lembro da vibraçaõ do publico a cada lance de parede que vinham ao chão. Depois de destelhado, cavavam fendas nas paredes, por onde amarravam grossas cordas e dezenas de homens puxavam, provocando som de trovão, quando caiam.

Hoje o meu maravilhoso castelo, vive apenas nas lembranças do menino, que nunca deixei de ser.

Aquilo que leva mêses para ser construido, precisa de poucos minutos, para ser destruido.

Este é o instinto animal do homem...

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

TIO TOINHO MARCELINO

Quando estava de férias em Marcelino Vieira, muitas vêzes ia passar alguns dias, na fazenda Várzea Grande, do meu tio Toinho e tia Alaíde, sua esposa.
Homem, muito, forte, de mãos calejadas pela lida, era quase incansável, e um dos poucos entre os muitos filhos de meu avô, que herdou o gosto pela criação e agricultura, sabendo fazer proveito de tudo, acho até que foi  um  dos primeiros a reciclar, intuitivamente.
Lembro que ainda pequeno, vi em um armazém que tinha ao lado da casa, um girau (prancha de madeira, presa por arame, entre o telhado e o solo, na parte mais alta) com vários quadrados escuros, do tamanho de uma lata de 18 litros, e perguntei o que era aquilo? respondeu-me: meu filho, é sabão, quando abato uma rês, para consumo da casa e moradores da fazenda, aproveitamos o sebo, para fazer sabão.
Tudo que precisavam, tiravam da terra, estacas e varas para cerca, lenha para cozinhar, fabrico de tijolos e telhas para construção, e quase a totalidade dos alimentos.
Sua luta, começava antes do sol nascer e ia até o ocaso, terra rica, muitas fruteiras, os mais diversos animais: boi, ovinos, galináceos etc. para alimentar, dar água e fazer manejo.
Homem muito bonito, chamava à atenção, pela musculatura, pernas grossas de fazer inveja a muitas mulheres e principalmente pela mansidão e bondade. Falava baixo e pausadamente, sendo um anfritião exageradamente cortez, marca registrada da família.
Tio Toinho se multiplicara, pois tia Alaíde, e as filhas Zenáide (in memorian), Zeneide e Zuleide, eram exatamente iguais, atarefadas pelas muitas obrigações que faziam questão de assumir, apesar das muitas ajudantes que apareciam na casa.
Tudo era exagerado, aproveitavam as frutas da época e desmanchavam uma saca de açucar em doce de goiaba, outra de doce de caju, e ainda a rapa da gamela do engenho, que eram acondicionadas em potes de barro de 100 litros. Em giraus, acondicionavam queijos de qualho, de manteiga, manteiga de garrafa, gerimuns, em quantidade muito grande, parecia até que estavam se preparando para uma grande estiagem.
Nunca um irmão ou amigo, saiu de sua casa de mãos vazias, tia Alaíde, podia ter 200 kgs. de queijo, sempre achava que era pouco, pois seu coração era de partilha.
Após os deliciosos almoços, era comum ver as meninas, fazendo trabalhos manuais, todas moças lindas e casaidoras, eram prendas raras, tanto que foram verdadeiras fortalezas para os seus maridos.
Seu unico filho homem, Deinho, era meu ídolo, havia estudado na casa de meus pais, quando eu tinha aproximadamente 2 anos, e tinha por mim um grande afeto. Morava fora e quando em férias, brincava muito, jogava bola e acompanhava-me mas caçadas.
Certa vez, fomos eu e Junior de tio Ivo, ao mesmo tempo para  várzea grande, e Deinho, tanto brincava, quanto provocava, rivalidade entre nós, só para se devertir.
Sua mãe nos achava muito parecidos, e todas as vêzes que ia a sua casa invariávelmente comentava: quando o vejo, é mesmo que ver Deinho.
Tendo Zuleide, casado com um primo, e a de perfil mais parecido com a mãe, assumiu a propiedade, enquanto tio Toinho e tia Alaíde, foram gerenciar a mais importante fazenda da região "João Gomes",
conhecida pela sua imponente casa.
Formavam um casal muito unido e feliz, e impressionante e que pareciam sempre ter um mesmo objetivo, sem que ouvesse nenhuma combinação, eram realmente almas gêmeas!
Com a partida repentina de tia Alaíde, viveu muitos anos de saudade, apesar da grande assistência que recebia dos filhos e netos
Morreu, este ano com 97 anos de idade.
Lembranças inesquecíveis!


OLHA O PASSARINHO!

O Sr. Zéu, era mais um dos compadres de papai, homem muito honrado, trabalhador e pai de vários filhos, que sustentava com um certo conforto, fruto das atividades de agropecaurista e entermediação de pequenos negócios. Sendo que o meu pai, comprou a casa em que morava, quando este resolveu mudar.

Um dos seus filhos mais velhos, foi morar em São Paulo, a procura de melhores condições de trabalho e seguindo a rota natural de quase todos os jovens da cidade, após completar maior idade.
Alguns íam para o Rio de Janeiro, e muitos foram para Brasília, durante a construção da cidade, recebendo o nome de candango!

Após a partida do filho, o casal Zéu, tiveram um filho temporão, que era muito mimado pelas muitas irmãs, e recebeu o apelídio de "COCA". Comunicado por correspondência e por amigos e familiares que chegavam a SP, onde formavam uma grande comunidade, em que a chegada de um novo membro, era a maneira mais eficiente de receber cartas e noticias dos familiares, já que os correios, era de uma ineficiência a toda prova.

Desejoso de conhecer o novo irmão, mandou uma carta, em que em um dos parágrafos pedia: "MAMÃE, TIRE UM RETRATO DE COCA, E MANDE"

Querendo atender prontamente o desejo do filho amado, no sábado seguinte, dia em que o lambe-lambe, vinha para a cidade, para aproveitar a feira, já que sua profissão era intinerante, presente nas feiras das diversas cidades da região, uma a cada dia. Vestiu o seu melhor vestido, e saiu, toda faceira e altiva, para cumprir a missão.

Foi com grande espanto que alguns transeuntes e obervadores costumazes, que ficavam espreitando cada pessoa que vinha ser fotografada, viram aquela respeitada senhora, postar-se diante do pano florido, feito com colcha de cama, que servia de fundo, para a fotografia, ficar de "CÓCORAS", com o vestido entre as pernas, forçar um lindo sorriso e deixar-se fotografar.
MILAGRE DE SÃO FRANCISCO


Um compadre de papai, que vivia em um pequeno mas produtivo sítio, foi vítima de um tiro de revólver, que atingiu a espinha dorsal, deixando-o paraplégico.
Como tinha uma situação econômica razoável, tentou todos os meios possíveis, consultando com  os médicos da região, nas mais diversas cidades, do RN e da PB, e diante de um prognóstico,
sempre negativo, partiu para centros maiores, a ponto de quase esaurir os recursos.
Homem de muita fé, desistiu dos médicos e passou à afirmar veementemente que a sua cura estava próxima, pois fizera uma promessa para SÃO FRANCISCO DO CANINDÉ, e que iría, no primeiro pau-de-arara que partisse da região, para paga-la, e voltaria andando, pronto para retomar o seu trabalho na fazenda, pois doia muito ter que fazer tudo, através de outro.
Geralmente a partida de romeiros da região para visita, feitura e pagamento de promessas, ocorria durante os festejos do santo, cujo novenário tinha início no final de setembro, e ía até o dia 4 de Outubro, com a procissão de encerramento.
Chegado o grande dia, foi colocada uma cama, junto a lateral de uma das grades de proteção, a um nível um pouco mais baixo, de maneira tal, que êle pudesse apreciar a paisagem e se por uma acaso, visse a ter ansia de vômito, ser um facilitador.
Acompanhado de alguns familíares, contou com a colaboração de todos, que ignoravam o momento de suas necessidades fisiólogicas, e ajudavam a retira-lo, quando se fazia necessário.
Estradas praticamente intransitáveis, era necessário dois dias para pecorrer os mais de 500 KM, com pequenas paradas, pois todos os passageiros, levavam, o que chamavam de farnel. Comida pronta, geralmente carne de sol ou galinha assada, com farinha e rapadura, além de frutas, biscoitos, bolos etc.
Chegando em Canindé, foram em romaria para a igreja de São Francisco, tomando parte de missas, orações, novenas, confições e visitas, principalmente a casa dos milagres, aonde existiam milhares de fotos, documentos e esculturas, como registro dos milagres alcançados.
Cumprida toda a agenda e já de volta, alguns até casoavam do probre homem, perguntando: Cadê, você não disse que ia voltar andando, que o santo iria cura-lo?
Pacientemente, êle respondia: "ainda não chegamos"
A posteação de energia elétrica de Mossoró de antigamente, era de ferro, e colocada no centro da rua, dividindo estas ao meio. Postes de pouca altura e fixados ao chão, por uma grande bola de ferro, que eram enterradas e fixadas com cimento até a metade.
Toda a iluminação da cidade, havia sido trocada rescentemente, por postes de concreto, e colocado em uma das laterais da rua, como pedia a modernidade. Alguns postes de ferros, de que ficavam em cruzamentos, foram cerrados, bem rente a bola de ferro, de maneira que esta ficasse, como uma espécie de marco, para ser contornado, funcionando como um balão.
Uma destas bolas, ficava em frente ao mercado publico, dividindo a Rua Cel. Gurgel, e a Av. Augusto Severo.
O motorista do pau-de-arara, vinha um pouco ligeiro e ao fazer a curva, o pneu traseiro, passou por cima da bola de ferro, provocando um grande catabílio (solavanco), jogando o coitado do homem ao solo. Gritaria geral, clamor dos famíliares, todos crendo que êle havia morrido, quando para grande surpresa, eis que se levanta sozinho, bate a terra dos fundilhos e sai caminhando.
Os limitados exames da época, não revelavam que a bala apenas comprimia a medula, e que esta, estava totalmente preservada. Com a queda, houve um deslocamente do projétil, descomprimindo a medula, e tal quanto êle acreditava, voltou para casa andando.
A FÉ REMOVE MONTANHAS, E BALA TAMBÉM!!!

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

AS COBIÇADAS, " ESTAMPAS EUCALOL"

Logo após a primeira grande guerra mundial, os irmãos de origem alemã, Paulo e Ricardo Stern, fundaram uma industria de perfumaria, no Rio de Janeiro, que recebeu o nome de PERFUMARIA MYRTA S.A. passando a fabricar o sabonete EUCALOL, que  mais tarde, teve a família aumentada com o creme dental e o talco.
Com três fragâncias, uma delas era de eucalípto (verde, existindo ainda o rosa e o branco), dando origem a marca. Odor característico, mais parecia ao dos desinfetantes de hoje, o que fez com que o produto tivesse uma grande rejeição.
Tentando alavancar as vendas, fizeram um concurso de poemas, sendo o vencedor o Sr.Fernando Reis - Rio.
                            
                                                          Banho, para uns, é de sol
                                                          outros de mar o preferem
                                                          uns, banho de igreja querem
                                                          mas eu cá logo me assanho
                                                          se penso em tomar um banho
                                                          com sabonete EUCALOL

O mercado, era totalmente dominado pelo sabonete LUXO, cujo slogan era: "O preferido de nove, entre cada dez estrelas do cinema" e trazia impresso em sua embalagem, fotos das grandes divas do cinema americano, Greta Garbo, Ava Garner, Marlene Dietrich, Catharine Repburn, Lauren Bacall, entre tantas outras.

Existia na europa, umas estampas de muito sucesso, LIEBIG, e os irmãos Stern, aproveitando a idéia, resolveram copiar. O sucesso foi imediato, despertando interesse de crianças e adultos, e em .consequência a multiplicação das vendas, da marca Eucalol.

Cada embalagem, vinha quatro estampas, em formato e concistência de carta de baralho, com os mais variados temas: Uniformes militares do Brasil, Tribos Indígenas, Folclore, Bandeiras, Compositores celebres, Aves do Brasil, Cachoeiras do Brasil, Produtos do Brsil, Episódiso da história do Brasil, Mitologia, Escotismo, sendo esta a ultima coleção, que no geral somavam, mais de 2.400 estampas.
No verso de cada estampa, existia um comentário, sobre a ilustração

Tal qual os albuns de figurinhas que foram sucesso nos anos 60, (futebol, jovem guarda etc), as estampas eucalol, passaram a ser objeto de trocas , e até mesmo moeda, entre crianças e adultos, sendo que as consideradas mais difícies, tinha seu valor muito elevado.

No meio em que vivia, cidades pequenas, e população na maioria analfabeta, alguns não dava o menor valor, mas entraram na onda do sabonete eucalol, que atingiu um grau tão alto de massificação, que a fábrica fez várias expansões.

Eu vivia no balcão das merciarias e muito especialmente na do meu avó, a espreita de quem comprava o sabonete ou creme dental eucalol, para pedir as estampas, que para minha alegria, era muito frequente, recebe-las.

Durante mais de uma década, EUCALOL, esteve no auge, sendo os dos maiores patrocinadores do rádio e da TV, que dava os primeiros passos no Brasil,  porém sofreu pesada concorrência das marcas internacionais, vindo a encerrar suas atividades.

O grande compositor Xangai, que viveu a euforia das ESTAMPAS EUCALOL, fez uma musica com este tema, que é muito linda !

Tempos de criança!



sábado, 15 de setembro de 2012

TIOS TARCÍZIO  E TIA EVILÁSIA


Moravam na casa grande da cidade, que pertencera aos meus avós, em Marcelino Vieira, que era para dar guarida aos 10 filhos, muitos sobrinhos e quem mais chegasse. Da sala para a cozinha era quase uma caminhada, cômodos espaçosos e quase desprovido de mobiliário, mas com tudo que era necessário, principalmente calor humano e acolhida.
Tinha uma pequena criação de gado, que fornecia leite franco para todos, a venda de um animal, nos momentos de aperto e complementava a renda com um jeep e mais tarde uma veraneio que pegava fretes e fazia viagens fretada. Esta profissão era mais a seu feitío, pois gostava de conversar e conhecer novos lugares e pessoas.
Com visão futurista, encaminhou os filhos para estudar em centros maiores, apesar do grande sacrifícios que fazia para mante-los, contando com ajuda de alguns irmãos que os recebiam em suas casas, e a medida que iam crescendo partiam para morar na casa dos estudantes, abrindo vaga para os outros.
Seu grande sacrifício, foi recompensado, e hoje sua grande prole, vivem em melhores e até excepcionais condições. Faço questão de destacar a humidade e aceitação de seus filhos que tinham o mínimo, mas nunca reclamaram, muito pelo contrário, fizeram força para vencer. Vi poucas pessoas estudiosa como José Ilo.
Lembro que todas as vêzes que vinha a Mossoró, deixava um dinheirinho para seus filhos José Ilo e Lisboa, e também um pouco para mim.
Tia Evilázia, era de uma simplicidade e de uma mansidão tão grande, que as palavras quase que susurradas, saiam devagar e pareciam esticadas.
Comidinha muito simples e pouco variada, mas de um tempero delicioso, com aquele gostinho que só panela de barro em fogão a lenha, consegue dar.
Passava o dia ocupada nos afazeres domésticos, e a costurar roupas para os de casa.
Mais tarde mudaram para Mossoró, e o destino lhes impôs, golpes duríssimos, perdendo sua filha mais velha, Socorrinha, que era o grande estéio da casa, resolvendo tudo e participando das despesas, vindo a falecer de toxoplasmose gravídica.
Antes disto, já haviam perdido o filho Gilberto em um acidente de moto, durante a copa do mundo de 1974, que vivia na casa de Tio Ivo, como estudante.
Para completar a tragédia, seu filho Chichico, ainda menor de idade, foi assassinado por um amigo covarde, que ceifou sua vida, sem nenhuma chance.
Impressionava a conformação dos tios, cujos lamentos não passavam de sussurros e a dor embora visível era contida, com a fé que Deus estava a cuidar deles.
No enterro de Chichico, estava com tio Tarcízio, quando um membro de nossa família, disse que estava só esperando a ordem dele para fazer a vingança, e diante da negativa deste, disse: não me conformo em ver o sangue de uma familiar, ser derramado impunemente, começo pelo pai dele e êle vai aparecer.
O tio retrucou de imediato, não faça isto! o pai deste garoto, é meu amigo e além do mais, não vai trazer, meu filho de volta, o que está feito, está feito...
A tia Evilásia adoeceu gravemente, ficando enferma e sem mobilidade, por mais de 3 anos, não falava, não tinha movimentos, e alimentáva-se por sonda. Dependia de cuidados permanente em tempo integral de enfermeiras cuidadoras, sob o comando incansável de sua filha Gerusa, que praticamente abondonou sua casa, para dedicar-se a mãe. Não esquecendo da preciosa ajuda de Tarcizinho, que enquanto os pais foram vivos, permaneceu solteiro.
Sempre, limpa, cheirosa, e pasmem! sem uma escara sequer, pesava pouco mais de 30 kg, mas tinha um semblante tão sereno que mais parecia um anjo!
Pouco tempo depois, tio Tarcízio, começou a apresentar lapso de memória, e também ficou prostado, e mais uma vez Gerusa e Tarcizinho se superaram nos cuidados. Assim como fiz com a tia, fui muitas vêzes visita-lo e ficávamos cantando as musicas de Luiz Gonzaga e Nelson Gonçalves, que êle tanto gostava. Ficava pedindo musicas, mas nunca fechava a frase, então cantava qualquer uma e dava certo.
Apesar de ser um pouco hipocondríaco, tinha um espírito brincalhão, e gostava muito de fazer pequenas gozações com a tia Evilázia, sem nunca no entanto, conseguir tira-la do sério.
Viveram harmoniosamente, por mais de 50 anos, provando para todos, que a verdadeira riqueza está no amor e paz de espírito.
Eu sempre amei muito meu tio Tarcízio, mas foi quase no final de sua vida que eu tive a prova inconteste que a recíproca era verdadeira. Quando passei a conviver com Fabiana, um dia de domingo, êle chegou em minha casa, juntamente com Tarcizinho, e ao ser apresentado a ela, disse: vim conhece-la, dar meus parabéns e dizer: "Este é um menino de ouro, conheço desde pequenininho, e nunca vi um mau feito, cuide bem dele".
SALVE!

TEM CERTOS DIAS, EM QUE LEMBRO DE MINHA GENTE...

Conhecia e andava em todas as casas de José da Penha, que até hoje, tem predominância das famílias Leite e Fontes.
Respeitáveis cidadões, quase todos compadres de meu pai, a maioria pequenos agropecuarista ou comerciantes, Elísio Rodrigues, Eusébio Libânio, Osório Estevão, André Leite, Raimundo Lacerda, Evaristo Fontes, Fernando, Antonio Bessa, Antonio Leite, Chichico, Lauro Borges, Sandoval, Edmilson, Zeca Fontes, Lourival Fontes, Manduca Leite, Souza, Higino Borges, Pedro Fontes, Manoel Soares, Zé Maia, Chiquinho, Luizinho, Abdoral Fontes, Dárcio, Antonio Bizé, Cícero Macaco, Segundo, Julio Fontes e muitos outros.

No entanto, as casa que eu mais gostava de ir, era de gente muito humilde, de pobreza franciscana, mas de acolhida de rei.

-José Jascinto e Birica, eram nossos vizinhos, quando meu pai comprou a nossa casa, tinha a nos separar, apenas um pequeno armazém. Êle era um trabalhador permanente da usina, de grande confiança, e sem vícios, e ela lavava a roupa de nossa casa. Quando era na entre safra, cuidava da limpeza dos armazéns, plantava no pequeno terreno em frente a nossas casas, batia e queimava tijolos.
Toda tarde, quando o café da casa deles cheirava, eu corria para lá, era delicioso. Gostava muito de conversar com êle e ficava horas ao seu lado, enquanto trabalhava.
Tinham um unico filho homem, Gentil, moço muito bonito, que trabalhava na máquina de descaroçar algodão, considerada a mais perigosa da usina, que já havia feito uma vítima fatal, um soldado de polícia que prestava serviço nas horas de ociosidade, e que veio a vitimar também, Gentil, engulindo seu braço até praticamente a altura do ombro. Perdemos um jovem em plena juventude, que tinha o assovio mais bonito que conheci, quando vinha para casa de longe se ouvia. 

-Chico Aureliano, moreno alto e forte, de olhos muito azuis, que o tornava, um dos homens mais bonitos da cidade. Quando chegava a sua casa, sua esposa corria para fazer pipocas, de uma maneira que só vi lá. Colocava o milho em uma panela de barro, que estava até a metade com areia de rio, bem fininha e alva, quando a areia aquecia, começava o pipocar, e o que era impressionante, e que não sujava a pipoca, e não tinha uma gota sequer de óleo.
Sòmente êle plantava gergelin, durante o inverno, e vez por outra, era servido "espécie" um excelente doce, feito com gergelin, rapadura e especiarias.
Fumava cachimbo, com fumo arapiraca, muito forte e de cheiro pouco agradável.
Durante um periodo, fumei cachimbo, após o jantar, e tinha um para cada dia da semana, sempre com fumo de odor agradável, irlandes, holandes etc.
Quando larguei o vício, levei os meus levíssimos cachimbos italianos e o resto de fumo, para Chico,
que não cabia de contentamento, chamando a todos para mostrar.
A ultima vez que o vi, estava em seus ultimos dias, lutando com um câncer de próstata, seus olhos brilhavam e marejavam de emoção, e embora não se levantasse mais, pediu-me um abraço!

-Nonato Preto, (compadre Nonato, para todos nós, já mencionado em um dos episódios de "caso de compadres") Vivia em sua casa, esperando que meus grandes amigos, Toinho e Zezinho, teminassem suas tarefas (colocar água, catar maraváias, rachar lenha etc), para ir brincar.
Quase não tinha o que oferecer, a não ser peixes e caças, principalmente preás que eu recusava, pois temia ser um rato do mato, que êles comiam, muito parecido com o mesmo, que chamavam de punaré.
Usavam misturado ao café, sementes de mata pasto torrada, para que rendessem mais, o que tornava o sabor muito ruim, portanto, nunca tomava café em sua casa.
Compadre Nonato, que fazia todos os meus pedidos, cuidando da limpeza e carregando os cartuchos das nossas espingardas, é uma grata e e eterna lembrança em minha vida, mas também vítima do quadro mais degradante que já vi, imposto a um ser humano, sendo portanto também uma lembrança triste.
Soube através de Zeca de Evaristo, farmacéutico da cidade, que abastecia sua farmácia na distribuidora de remédios que eu era comprador, que o mesmo estava com mal de Parkson, em estado muito avançado, e passei a mandar pelo mesmo, vitaminas, l-dopa e todos os medicamentos que o médico receitava, já que tinha a facilidade de arranjar amostras gratis.
Zeca, me mantinha informado de sua melhora imediata, já que passou a ser tratado, e mais tarde, da piora de seu quadro, pois a doença era progressiva, e os medicamentos apenas retardava um pouco.
Fiquei muito triste, quando soube que a esposa já estava com um namorado dentro de casa, que Toinho e Zezinho, se escontravam em paradeiro desconhecido e que sua filha mais velha, Maria,
também estava com a mesma doença. Então passei a mandar medicamentos para os dois.
Já em um quadro muito avançado, tendo perdido praticamente todo o controle sobre os seus nervos, viajei ao sertão para visita-lo, e não contive as lágrimas quando o vi. Sentada na área da casa que fora de seu pai, estava a mulher, bem vestida, cheirosa, com brincos de ouro e encostada no ombro do namorado, que estava bancando luxo, e em um minúsculo quarto, de aproximadamente 1,30 X 2,00,
Compadre Nonato, totalmente despido, deitado de brusço,  com movimento, sòmente no pescoço, um monte de mangas, espalhado pelo chão, e êle comendo como um porco, com casca e tudo aquelas que conseguia abocanhar.
Ainda sorriu, e demonstrou estar feliz com minha presença, mas de brilho, sómente o dente de ouro, que ainda permanecia lá!

É GENTE HUMILDE, QUE VONTADE DE CHORAR...
GRITANDO PALHAÇO


A chegada de um circo na cidade, era sempre motivo de muita alegria. Montado em frente a nossa casa, no largo entre os fundos da igreja e o pavilhão, para grande alegria de meu pai, que mais parecia um menino, acompanhando toda a montagem, que durava no máximo 2 dias, pois eram circos mambeme, muito pobres e pequenos. Alguns chegavam a dar dó, lonas de tecido fino, e cheia de remendos.
Nossa casa invariávelmente, virava apoio da trupe, que se abastecia de água e algumas vêzes usavam as nossas instalações, o apoio era real e irrestrito. No espetáculo da noite sempre nos citavam e faziam brincadeiras conosco.
Geralmente, tinham uma área para cadeiras, que deviam ser levadas de casa e o chamado puleiro (arquibancadas), com pouca segurança, feita de tábuas velhas e estreitas.
O espetaculo era distribuido em duas partes, sendo uma de variedades e outra de teatro, com encenação de peças curtas e geralmente, muito penosa, fazendos as mulheres chorar.
Normalmente os palhaço eram muito engraçados, com suas tiradas, piadas  e paródias musicais
de duplo sentido.

                       Ô nêga, oi remeche as cadeiras
                       ô nêga, oi prá lá oi prá cá

                       conheço um rapaz velho,
                       que anda doido, pra se casar
                       e ontem, teve a sorte
                       de uma boa moça, arranjar

                      porém tenho certeza,
                      que êle casa hoje, e morre amanhã!
   
                      POR QUE?  (perguntava a partner)

                      Porque velho, não aguenta,
                      o param, pampam, pampam, pampam!

O palhaço sempre dividia o palco, com uma bailarina gorda, que tinha um sinal artificial,feito com lapis de sobrancelhas, na coxa e outro acima do lábio superior.
Cidade muito pobre, eram poucos que podiam pagar ingresso, portanto era necessário que o espetaculo, principalmente o drama, fosse mudado diariamente, como motivação, para voltar.
O meio de divulgação, era o palhaço, que saia no meio da rua, com as pernas de paus a anunciar, através de um megafone a atração da noite. Os meninos da cidade, que não podiam pagar, se aglomeravam diante do circo, esperando a hora que o palhaço ia sair para "gritar o palhaço", ou seja: fazer a animação.
Como tinha um numero definido, os escolhidos, tinham o braço carimbado, e a noite apresentava na portaria para ter entrada franca.

      - Hoje tem espetáculo?
M  - tem, sim senhor
     - as 7 horas da noite?
M  - tem, sim senhor
     - hoje tem palhaçada?
M - tem, sim senhor
     - e o palhaço o que é?
M  - é ladrão de mulher
     - e aremeche o chenhenhem
M  - chenhenhem, chenhenhem (colocava-se as mãos no joelho, e balançava o bumbum, exatamente  como o grupo È O TCHAN, viria a fazer, muitos anos depois).

O grande suplício dos palhaços, era andar de pernas de pau na cidade que é de relevo irregular, e o solo era de pequenos seixos.
Certa feita, gritei o palhaço, mas a festa durou pouco, quando papai me viu, mandou-me para casa lavar o braço, e disse: nós podemos pagar a entrada, você tirou o lugar de uma criança que não pode.
Quando circo partia, nós todos virávamos artistas circense, com sacos de estopa, que existia na usina, montava uma empanada, debaixo de um pé de árvore, trapézio etc. minhas irmãs, Gagaça, Fátima, Cristina e Vânia, eram as bailarinas, e atrizes da peças e os meninos faziam o palhaço, variedades e também atores.
Até que em uma manobra, quebrei o nariz de Marcos, o mais bonito dos meus irmãos, que mesmo ficando um pouco diferente, não perdeu a soberania!
                   

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

ESTUDANDO INTERNO

O primeiro semestre do ano de 1960 e alguns dias do segundo semestre letivo, fui estudante do internato do COLÉGIO DIOCESANO SANTA LUZIA, sendo um dos quatros menores de 14 anos, recebendo cuidados diferenciado e algumas regalias, por parte da direção.
Os outros, eram William (Apodi), Expedito, conhecido por charuto (Alexandria) Adair Vale, o bodinho cheiroso, cujo primo, Otoni, o bode cheiroso, era também interno (Gov. Dix-Sept Rosado).
Exestiam três dormitórios, divididos por faixa etária, sendo que nós quatro, ficávamos em um quarto, vizinho aos quartos em que dormiam, Pe. Sátiro e Pe. Alcir. O de maior numero de internos e onde concentrava os maiores rolos, brigas, furto de merenda etc. era o da faixa de 14 a 18 anos, e por fim o dos maiores de 18 anos.
Embora a disciplina fosse muito rígida, as regras eram quebradas com frequência, no que resultava em severos castigos. Certa vez, descosturaram, o viés vermelho da calça da farda de Otoni (bode cheiroso, alusão ao fato de não gostar de tomar banho, bem, é o que diziam, nunca observei!) enquanto  dormia, amarraram um dos braços na cama, e na outra mão, colocoraram o tamanco de solado de madeira (ainda não existia havainas, que quando surgiu, era sandália japonesa), com o solado voltado para cima, e acenderam um mosquito de fósforo na testa do mesmo.
Quando sentiu a pele queimando, institivamente, levou a mão a testa, com tanta força, que o galo subiu imediatamente.
Em certos periodos do ano, fazia tanto frio a noite, que chegava a formar cerração em volta do colégio, e estre fato, deu-se em uma noite bastante fria! Como não apareceram os culpados, Pe. Sátiro, colocou todos de cueca em frente a sacada do primeiro andar, virada para a quadra, e obrigando de instante em instante, tomar um banho frio. Vi muito neguinho chorando e rogando aos céus.
Otoni e Adair eram os alunos mais aplicados do colégio, e hoje são médicos, o primeiro é de renome em Fortaleza, e o segundo em Mossoró, já tendo sido prefeito de sua terra.
Havia horário cronometrado para tudo: dormir, levantar, tomar banho, capela, café da manhã, aula, almoço, salão de jogos ou repouso, sala de estudos e atividades, recreação, banho, jantar, capela horário livre, dormir.
Saída aos domingos, se tivesse bom comportamento na semana, e notas na média, existindo para isto os bedéis, que apontavam os que podiam ou não sair. O bedéu de minha turma era Aproniano, cara muito legal, que teve morte ainda muito jovem.
O meu seleto e pequeno grupo, era totalmente isolado pelos maiores, que só se aproximava da gente, para fazer maldadades, capilé, tapa na cabeça, cocorote, dedadas e obrigar a fazer mandados.
Lembro apenas de dois dos maiores, que me davam atenção, Miguel Veras, e João Bosco. Em contrapartida eu tinha uma algoz, conhecido por Macau, que não perdia a oportunidade de judiar,  muitas vêzes fazendo-me chorar.
Mas, eis que de repente, mais que de repente, ganhei dois protetores, do tamanho de um armário, os meus primos e irmãos LICURGO NUNES TERCEIRO E LICURGO NUNES QUARTO, que na primeira vez que presenciou Macau, me dar um cocorote, no salão de jogos, quebrou o taco da cinuca na cabeça dêle, e muito bem orientado, passei a dar dedadas, toda vez que Macau passava por mim.
Ganhei respeito, colei nos primos e passei a conviver com os maiores. Adorava as noites de lua cheia, todos deitado na quadra a contar histórias.
Apesar da falta de imaginação das cozinheiras, que dificilmente variavam o feitio dos pratos, principalmente no jantar, que todos os dias era sopa, feita com sobras do almoço, com o mesmo cheiro, sabor e cor, arre! Até hoje não gosto de sopa! Os dias festivos eram comemorados com galinha, e se havia primeira comunhão, o café era feito pelas mães, então, era espetacular!
O meu período de interno, é inesquecível! aprendi a ter disciplina, a conviver com um grande grupo, de realidades e formação diferente, e principalmente a respeitar, para ser respeitado.


quinta-feira, 13 de setembro de 2012

MULÇUMANO,  PLANTADOR DE BATATAS!

A maior mudança da minha vida, aconteceu quando fui cursar o primeiro ano ginasial, ano 1962, aos 12 anos, tudo era novo, muitas matérias, alunos vindos das mais diversas cidades, e pela primeira vez, a turma do seminário, passou a ter aulas no Colégio Diocesano Santa Luzia, no que aumentou em muito o nível de conhecimento e estudo.
Muitos padres, como professores, garantia que o nível do seminário seria mantido, Pe. Alcir (matemática) o mais brincalhão, muito engraçado, Pe. José Nogueira (português) Pe. Sátiro (História) muito admirado e o mais respeitado, Pe. Sales (musica) Pe. José Freire (frances), o terrível, a arrotar vaidade e arrogância no alto dos quase 2 metros de altura.
Neste ano ocorreu uma mudança radical,no colégio, quanto ao controle de frequência dos alunos, além da caderneta de chamada dos professores, tinha uma carteira do aluno, que era recolhida no início da aula e devolvida no final com o carimbo de presença. Caso faltasse, no dia que voltasse a aula, era atualizada com o carimbo de falta, tanto quantos foram os dias ausente.
Na verdade era um controle excelente para os pais.
Na primeira aula de frances, estudamos o verbo SER, na segunda aula, o Pe. José Freire, após a chamada, dirigiu-se ao aluno mais central da primeira fila (Almir de Almeida Castro Jr.) e perguntou, impar ou par? este respondeu, impar! uma, duas meia e já, deu par!
Eu era o numero 2!  Monsieur Antonio Lopes, leia a lição de ontem! Ao le-la, errei, e veio de forma MILITAR, imponente e em alto som o veridicto "ISTO É UMA MENTIRA ENGARRAFADA, SEU MULÇUMANO, VÁ PLANTAR BATATAS!".
Foi uma gargalhada só, e na hora do intervalo, em cada esquina, em cada sala, tinha alguém a gritar: mulçumano, vá plantar batatas! Quando terminou a aula, ao sair do colégio, a coisa tinha tomado uma prorpoção tal, que todos berravam, MULÇUMANO! PLANTADOR DE BATATAS!
Imagine o estrago que fez, em um menino tímido, vindo de uma pequena cidade do interior! Faltei muitos dias de aula, saia de casa, mas não entrava no colégio, se fosse hoje, teria sido um bulling coletivo. Como resultado, não entrava no colégio nas terças e quintas, dias de aula de frances, acumulando 72 faltas no ano, que por si já me reprovavam, e consequentemente o fraco desempenho nas outras matérias que tinhas aulas nestes dias.
Odiei José Freire, por quase toda vida, e o evitava, até que fui fazer o Cursilho da Cristandade, e êle já como bispo de Mossoró, nos visitou. No meu segundo cursilho, trabalhei na copa (turma da pesada), no terceiro, fiz a palestra sobre oração, com êle presente, e após procurou-me e disse ter gostado muito e pergunto de que família eu era, identificando-se com todos os meus paretes.
Quando disse que havia sido seu aluno, imediatamente retrucou: NÂO, conheço todos os meus ex alunos! Respondi, não deu tempo o senhor fixar a minha imagem, contei o episódio do mulçumano plantador de batatas, que teve como resposta uma sonora gargalhada, e o chamamento de alguns irmãos que estavam por perto, para que eu repetisse a história, e mais gargalhadas...
No quarto cursilho, fui escalado para fazer a abertura, com a palestra, " O DOM DA VIDA" confesso que foi o meu ápice de inspiração! Preparei um mega cartaz em forma de sanfona, com uma janela aberta, e debruçado uma linda criança de olhos vivos e amendoados.
A medida que ia abrindo as abas, ia mostrando as formas de vida animal, vegetal, a natureza etc, ou seja, a magnífica criação de DEUS! Permanecia uma janela fechada, que só abri após fazer uma votação secreta, em que cada um devia escrever em um papel, das figura mostradas a que chamára mais à atenção. A criança da abertura venceu por quase unanimidade, então passei a perguntar a alguns presentes, o que a criança passava de especial, e como resposta tivemos muitos qualitativos: serenidade, segurança, meiguice, douçura etc. etc. Então abri a ultima janela, causando um grande impacto, esta criança é este homem, HITLER!
Após a apresentação, foi a pausa para a merenda, e ao sair, fui cercado por muitos, que parabenizavam e terciam elogios sobre a palestras, quando ouvi alguém chamar, Toinho, venha cá! era Dom José Freire, que novamente pediu-me para contar a história do mulçumano plantador de batatas, para gargalhada da platéia. Então eu disse: tem uma segunda parte, a partir daquele dia, passei chamar Dom José de "refresco de fumo com bolo de macambira".
-Êle disse: não entendi!
-Eu, já viu coisa mais ruim!
Causou um certo constrangimento, mais tarde fiquei arrependido, mas continuamos a ter uma convivência de respeito, e nunca mais fui invocado a falar da mentira engarrafada.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

MEU AMADO TIO FERRER

Dos filhos homens do casal, Antonio  Lopes/ Maria Cecília, era o caçula. Após a viuvez, meu avó contraiu núpcias com Maria (Mãeínha) que trazia o filho, Geraldo e tiveram um outro, tio Chico.
Tio Ferrer, era baixinho, de pele muito branca e olhos azuis de uma beleza profunda e tão penetrantes que chegavam a ser inquisitivos, até porque, quando conversava com as pessoas, as olhava dentro dos olhos, e quando fazia uma pergunta, os seus olhos pareciam dançar, dentro das órbitas.
Muito inteligente, cedo tornou-se comerciante em sociedade com o seu irmão Lili e depois cada qual tomou seu rumo.
Nunca em minha vida, vi alguém no comércio, com tamanho poder de convencimento e indução, difícilmente o cliente saia sem comprar.
Nasceu com o dom da multiplicação, e jovem, já era um comerciante bem sucedido e uns dos maiores da cidade, mas tinha também o dom da divisão em escala maior, e aquilo que ganhava, facilmente fugia entre suas mãos.
Rasgava dinheiro, como dizemos, algumas vêzes de maneira louvável, com atos de caridade, benvolência e auxílio aos familiares mais necessitados, principalmente com o seu pai e destribuia dinheiro com os muitos sobrinhos. Outras, com falsos amigos, aproveitadores e quem estivesse por perto, principalmente quando já tinha bebido um pouco mais, não deixava ninguém pagar a conta, ficava rico e dizia-se o milionário mais novo do estado.
Era o primeiro a comprar os lançamentos de carros de luxo, Aero Wyllis, Simca Chamborde e até mesmo a Kombi. mas não tinha apego nenhum, entregava e emprestava a todos.
Tomou gosto pelas farras, que as vêzes duravam dias, e que geraram um certo desequilíbrio nos negócios, até que Deus, colocou um anjo manso e bom em sua vida com o nome de sua mãe e de seu pai, MARIA JOSÉ ( para todos nós, NIM, apelido de infância)
Quando solteiro andei muito em sua companhia, campo de futebol (êle torcedor do Potiguar e eu do Baraunas), bares e até mesmo lugares menos recomendados. Além de me dar mesada todos os sábados, quando estava bebendo entregava-me a chave do carro, passando a ser seu condutor,com apenas 13 anos de idade.
Casado, passei a frenquentar a sua casa, aonde fizemos muitas domingueiras, jogando cartas e tomando cerveja com muita galinha, que Nim abastecia de vez em quando. Completava o time, papai, Ivo Jr e José Sálvio.
 Ela gostava muito da nossa presença, pois êle não iria para o bar de João Pinheiro ou do crente Isac, que ficava perto de sua casa, e que indo, não tinha hora para voltar.
Algumas vêzes praticáva-mos tiro ao alvo com um rifle 22 da marca Remington acertando tampas e cortando cigarros, eu tinha verdadeira paixão por aquela arma, era linda!
Com os negócios arruinados, aí apareceu o gigantismo daquela mulher tão pequena, que parecia ter 3 metros de altura, que com muita sabedoria paciência e acima de tudo, muito amor, proporcionou  a recuperação dos negócios.
Lembro de uma semana santa que passei na fazenda Furtuna dos pais de Nim, estudava na casa de tio Miguel, que não me deixou ir, com o apoio de tio Ferrer, saí fugido. Vamos que na volta eu falo com Miguel. Foi maravilhoso, pesquei tantas e enormes traíras, que pediram que parasse, pois não tinham aonde estocar.
Ao amanhecer o dia, na hora do café, tinha um prato de queijo de manteiga quentinho, saindo do tacho, em frente de cada cadeira à mesa.
Muito cordato e amigável, passou pela vida, incólume, nunca brigando ou fazendo inimigos, amava todos os parentes, tendo muito carinho com seus tios, principalmente os mais necessitados, tia Lalá, Tio Pretonilo etc sempre molhando as mãos com um dinheirinho.
Vizinho a sua casa, morava o tio Dino, com a sua filha Herculí (Erculí ?) o pobre tio, sofria de hemorróidas terríveis, e este era um assunto sempre em pauta, o que está tomando?, o que está comendo? só para ouvir êle responder: mamão com todas as sementes.
Pai de três filhos, Alexandre, Marcos e Sandrinha, foi exemplo de pai dedicado, carinhoso e presente, sendo estes hoje, verdadeiras joias raras, exemplos de dignidade e amor a família.
Particularmente tenho muito apreço por todos êles, e quando estudantes em Natal, Alexandre e Marcos, moravam em uma republica com o meu irmão Dedé, e sempre que eu ia lá, deixava o da merenda, para todos êles, que morriam de vergonha e não queriam receber, eu sempre dizia: besteira. ainda que fosse mais e tivesse que fazer por muito tempo, jamais conseguiria fazer o muito que seu pai, fez por mim!
Sem duvida nenhuma, entre tantos os tios que eu amava e tinha amizade, tio Ferrer, foi o mais presente, e com quem eu mais andei.
PERDI UM GRANDE AMIGO, TENHO MUITAS SAUDADES...
OS MUITOS PADRES

Durante toda minha infância e pré adolescência, convivi com muitos padres, os párocos de Luiz Gomes, Pe. Caramuru, Miguel, Flávio, Vadécio Lopes (meu primo), Osvaldo ( ainda vive lá, com mais de 50 anos de permanência) e os das cidades vizinhas, Pe. José Aires figura muito alegre e cheio de brincadeira, pároco da cidade de São Miguel) e Pe. Caminha (Pau dos Ferros).
Com Valdécio tive uma convivência maior, passei algumas férias em sua casa em Luiz Gomes, e mais tarde, quando fui morar em Belo Horizonte, êle era o vigário da cidade Osanan (cidade criada por um famoso e rico médico, maçon, que construiu uma cidade fechada, dentro da própia cidade de BH para abrigar viuvas, tendo ainda um abrigo, escola e igreja.
A casa paroquial tinha ao lado um pé de jaboticaba, que eu comia até entupir.Gostava muito de Valdécio, que era chegado a uma cervejinha, e conforme o primo Augusto, de um carnaval em Santos, longe do olhar dos paroquinos.
Certa feita, ao voltar a BH, com um filho necessitando de tratamenmto oftalmológico, encontrei Valdécio, casado com uma colega professora da Universidade, muito feliz, passeamos muito, além de ter sido de uma presteza absoluta, obrigado, primo! Lamentei muito a sua morte...
Ficava admirado como os padres eram paparicados pelas beatas, que os enchia de guloseimas e presentes.
Alguns eram muito pios, outros severos em demasia e ainda tinha os liberais e até muitos liberais, gostando de uma cervejinha, fumar e até outras coisas, que fazem parte do universo masculino.
Quando fui estudar Pau dos Ferros, tornei-me amigo do meu querido professor de frances, então já cônego Caminha, que quando chegou na cidade, causou pavor, pois colocava para fora da igreja, todas as mulheres que tivesse vestido curto ou decotado, coisas que o vigário anterior fazia vista grossa.
Certa feita, foi celebrar na comunidade de Riacho de Santana e colocou várias mulheres para fora da igreja. Terminada a missa, saiu e encostou-se em frente a uma janela fechada, e dentro da casa, algumas mulheres que haviam sido expulsas do ofício da missa, terciam comentários sobre o mesmo, e uma disse: vocês viram como os olhos dêle são pequenos? aquilo é tão ruim que tem os olhos de peba! ao mesmo tempo em que abria janela e deparava-se com a figura do Pe. Caminha, e prontamente emendou " mas eu acho os olhos do peba, tão bonitinho"
Com o passar do tempo, tornou-se um grande boêmio, e para complementar tirou um prémio na loteria, aí a coisa pegou de vez, bebia, dançava e...
Morreu com idade muito avançada, e quando doente, pediu que colocasem a sua cama na sala, para que visse todos os passante, que êle chamava para conversar, estive algumas vêzes em visita. Engraçado, foi quando a minha falecida prima Gracinha, foi visita-lo, e êle pediu, chegue mais perto, quando ela aproximou-se, êle disse: '"deixa eu pegar no seu peito".
Apesar de tudo, era mestre em seu ofício, grande evangelizador e de uma humildade a toda prova. Quando era meu professor, colocou os meus colegas Luiz Bodé e Tadeu para fora de classe, e antes que terminasse a aula, saiu  a procura dos dois, ajoelhando-se aos seus pés em prantos e pedindo perdão.
Em outra ocasião, estáva-mos em grupo aproximado de dez, comandado pelo lider dos estudantes, Nonato Vaqueiro, que nunca estudou, mas era professor de cachaçada e safadezas, quando o padre nos chamou e disse, quero que ouçam isto: e colocou na vitrola portátil, que estava debaixo da sombra de uma trepadeira, um LP de Cauby, feito em nylon, quando uma réstia de sol incidiu sobre o mesmo, empenando na hora.
Como ficou inutilizado, êle perguntou, então o que acharam? Nonato respondeu em cima da bucha: " é tão ruim que empenou".
Fomos expulsos de sua calçada e depois procurados, um por um, para dar o perdão e amenizar a sua dor e arrependimento.
É que nos estáva-mos em outra, roberto Carlos e toda turma da jovem guarda!

































































































































terça-feira, 4 de setembro de 2012

BOM DE MIRA!

Tinha aproximadamente 6 anos, quando ganhei do meu pai, uma pequena carabina de brinquedo, que usava como projétil, pequenos tocos de madeira, que eram colocados pelo cano e prensado por uma vareta, até dar um tok do engate da mola, que impulsionava o projétil.
A casa que morávamos, tinha uma grande sala, com aproximadamente uns 8 m de comprimento, e eu ficava sentado com as costas apoiada na parede e na outra extremidade, colocava caixas de fósforo e tampas de garrafas, como alvo fixo, e atirava com tamanha destresa, que difícilmente errava um tiro.
Depois passei a usar como alvo, o gancho de arame, em que era pendura a lampada coleman, que ficava no meio da sala, preso a uma grossa linha de aroeira que servia de apoio ao telhado.
Chamava à atenção de muitos adultos e crianças, que ficavam nas janelas a observar, eu acertar seguidamente aquele arame. Para aumentar a dificuldade, passei a movimenta-lo com um cabo de vassoura, fazendo um pendulo, e igualmente acertava inumeras vêzes, deixando todos boquiabertos.
Para isto usava de uma certa malícia, nunca observada pela platéia, atirava sempre na parte mais próxima da linha, pois o movimento do pendulo era menor.
Logo, logo...passei a caçar de baladeira (estilingue) com igual destresa, matava muitos passáros, dos diversos tamanhos e até beija-flor, engolindo o coração ainda quente, que era para melhorar a mira, costume usado e divulgado por todos os companheiros de infância.
Embora atirasse bem, nunca fui páreo para papai e meu amigo de infância, ZEZINHO, que era canhoto e atirava com tal precisão, que impressionava. Certa feita, tinha duas rolinhas namorando em um pé de canafístula, êle atirou acertando uma, que caiu ao chão, sendo que a companheira desceu para perto, e atirou novamente, acertando e ficando as duas juntinhas.
Foi também, a unica pessoa que vi acertar com um badoque,  pois eu só conseguia arrancar a cabeça do polegar.
Ouvi dos companheiros de infância do meu pai, que era imbatível no uso da baladeira, e o próprio falava de memoráveis caçadas, feita com os amigos, e uma muito especial com Zera Medeiros
Sairam cedinho e já próximo ao almoço, retornavam, papai com uma embira cheia de passarinhos pendurados e Zera com um sibito (nome dado a todos passáros de tamanho diminuto). Quando foram se aproximando da cidade, Zera disse: "Lula, vamos amarra minha imbira na sua, você pega em uma ponta e eu na outra, que é para dizer que todas estas rolinhas, foram mortas por nós dois."
Aos dez anos, dei meu primeiro tiro, com uma garrucha bate bucha, acertando o alvo... depois com espingarda 36, 32, 28 etc partipando em muitas caçadas de avoete (avoante, ave de arribação), com adultos, sendo necessário para isto, o deslocamento até o ponto em que elas se agromeravam, e não foi poucas as vêzes em fui o campeão da caçada.
Já morando em Pau dos Ferros, caçava muito em companhia do meu amigo. EXPEDITO DIÓGENES, que pouco depois de eu vir morar em Mossoró, morreu com um tiro acidental no olho, quando tentava matar um preá.
Alguns anos mais tarde, já morando em Belo Horizonte, fomos fazer uma pescaria no rio paraopeba, com João Carlos, esposo de minha tia Maria do Céu e alguns colegas da industria textil, fracasso total, noite toda para pegar alguns timborés. Quando amanheceu o dia, fomos para a casa da família, e eis que surgiu uma espingarda de chumbinho, muito concorrida, estavam todos a atirar em umas andorinhas que ficavam em um altíssimo pé de eucalípto, sem que ninguém acertasse, até que chegou a minha vez, adivinhem...
A uns 15 anos atrás, dei o meu ultimo tiro, peguei uma espingarda do meu cunhado, e estava acompanhado de vários sobrinho, e fiz um tiro em um gavião em pleno vôo, abatendo-o, Vitor gritava, tio, que tiro lindo!
Com aquele pássaro nas mãos, bateu um remorso tão grande, que chorei... não fazia mais sentido, meu periodo de infância, fazia parte da cultura e caçava-mos para comer, mas agora, é covardia e maldade.